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Pais desconhecem benefícios de vacinar meninas contra o HPV

Imunização é recomendada logo antes do início da vida sexual das jovens. Prática, no entanto, esbarra na não-aceitação dos pais da sexualidade das filhas. Luís Fernando Correia Especial para o G1, 05/05/2008 – 09h56.

A liberação pelas autoridades sanitárias da vacina contra o HPV trouxe grande esperança na diminuição do número de casos de câncer do colo do útero. Essa doença maligna é uma das mais comuns nas mulheres dos países em desenvolvimento e custou a vida de mais de 250 mil mulheres em 2005, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A infecção por dois tipos desse vírus está envolvida em 70% dos casos de câncer de colo de útero.

Por conta de todos esses números, a chegada de uma vacina eficiente contra esses dois sorotipos trouxe esperança na diminuição do número de casos desse tumor.

A vacina se mostrou muito eficiente na prevenção da infecção pelo HPV em mulheres que nunca haviam tido contato com o vírus. A partir desses resultados a vacinação foi orientada para o período imediatamente antes do início da vida sexual.

Como essa iniciação no mundo ocidental vêm se tornando cada vez mais precoce, a vacinação passou a ser indicada para meninas entre os 9 e 13 anos de idade. Porém justamente por conta do período da indicação, a vacinação de meninas tão jovens trouxe preocupações aos pais.

Agora, quase dois anos após o lançamento comercial da vacina começam a aparecer pesquisas que documentam a aceitação das orientações da utlização da vacina. Uma pesquisa inglesa, publicada na revista British Medical Journal, estudou a aceitação da vacinação contra o HPV no Reino Unido.

O trabalho cientifico observou o comportamento de quase 3 mil meninas com idades entre 12 e 13 anos. A vacina foi oferecida através de programas escolares de imunização. Os registros mostraram que apenas cerca de 70% das jovens compareceu para a primeira dose da vacina e esse número caiu para cerca de 65% na segunda dose.

Um aspecto importante da pesquisa foi a constatação de que as meninas que vinham de famílias menos favorecidas eram menos propensas a cumprir o esquema vacinal. E os pais dessas meninas revelaram que não tinham recebido informações suficientes sobre a vacina e sua importância.

Dados semelhantes foram obtidos nos Estados Unidos e apresentados na Reunião da Academia Americana de Pediatria em Honolulu, no Havaí. Uma pesquisa avaliou a intenção de vacinar as filhas, contra o HPV, em um grupo de mais de 10 mil mulheres.

Os dados levantados mostraram que apenas 48% das mães pretendiam vacinar suas filhas na idade indicada pela OMS, esse número subia até 86% quando a as crianças tinham idade entre 16 e 18 anos.

A questão que se coloca é que talvez essas meninas já tenham vida sexual e a vacina poderia nào ter o efeito protetor desejado.

No Brasil a vacina contra o HPV, por enquanto, só está disponivel na rede privada, embora existam estudos para sua incorporação ao Programa Nacional de Imunização, brevemente.

O que as pesquisas mostram é que ainda existe desinformação quanto à vacinação contra o HPV, mesmo nos países desenvolvidos. O assunto envolve preconceitos e convicções pessoais no que diz respeito à vida sexual das filhas.

O tema deveria ser discutido com respeito e liberdade, e todos devem ter em mente que existem implicações de saúde muito mais graves do que qualquer consideração simplesmente moral.

Luís Fernando Correia é médico e apresentador do “Saúde em Foco”, da CBN