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Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea): Mandioca é mais uma vítima da inflação e dos biocombustíveis

Omar Lugo Rio de Janeiro, 26 abr (EFE).- A mandioca, alimento básico de milhões de pobres na América Latina e na África, é mais uma vítima da espiral inflacionária, segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Segundo os especialistas, a raiz estaria sendo afetada pela alta global dos alimentos e pela indústria dos biocombustíveis. Matéria da Agência EFE, publicada pelo UOL Notícias.

“A mandioca também é um dos produtos inflacionados internacionalmente e os preços da raiz e de sua fécula permanecerão em níveis elevados”, apontou uma análise do Cepea.

“O mercado tende novamente à elevação dos preços e se espera que esse cenário persista”, explicou à Agência Efe o pesquisador Fabio Isaias Felipe, um dos autores do estudo.

O Cepea, da Escola de Agricultura da Universidade de São Paulo, é uma das principais referências na área.

O preço real (descontada a inflação) por tonelada da mandioca, entre janeiro e março, ficou em torno de R$ 161 ao produtor. Já a tonelada da fécula (da mandioca), no mesmo período, ficou em R$ 959.

Em 2008, os preços da mandioca subiram 15,8% em relação a 2007, e os da fécula, 11,3%, registrando o maior nível desde 2005.

“Um produto que até agora esteve dirigido às camadas de menor renda da população passa por essa fase de alta mundial dos alimentos”, explicou Felipe.

Boa parte dessa alta se deve a uma menor oferta, pois o cultivo foi substituído, como em outros países, por produtos como milho e a soja, mais lucrativos no cenário atual.

Na China e na Tailândia, as áreas de plantação também estão diminuindo, e o produto já está sendo usado para produzir combustíveis, afirmou.

A mandioca tem a dupla condição de servir para o consumo direto e como matéria-prima industrial para produzir fécula destinada a misturas com farinhas de outros cereais, como trigo.

No norte e no nordeste do Brasil – as regiões mais pobres do país -, sua farinha integra a dieta básica da população, como acontece em toda a região amazônica e na América Central.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de mandioca, atrás apenas da Nigéria.

Embora boa parte de sua produção seja consumida internamente, o Brasil exportou cerca de 14.800 toneladas de fécula, a maior parte para Venezuela, Estados Unidos e México entre 2007 e março passado.

O número é irrisório comparado ao da Tailândia, maior exportador mundial.

Mas, para o equilíbrio do mercado internacional, é importante que o país seja auto-suficiente.

O estudo do Cepea indica que a alta de preços se explica pela instabilidade da oferta.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de mandioca deve chegar a 26,8 milhões de toneladas em 2008, 0,4% menor que em 2007, devido a uma redução de 1,9% na área plantada.

Pelo lado da demanda, as constantes altas de cereais como o trigo e o milho transferiram parte do consumo para a fécula de mandioca.

Para os próximos meses, espera-se que a indústria do trigo absorva mais fécula de mandioca para misturá-la à farinha, o que também terá impacto nos preços em um cenário de menor oferta interna e externa da raiz, segundo o Cepea.

No mercado externo, a Tailândia está destinando parte de sua produção a produzir etanol e ração para animais, o que levou os preços da fécula nesse país para U$ 440 por tonelada nos portos de embarque.

Além disso, já se projeta um retrocesso na produção de fécula na Tailândia, “o que deve modificar os censos internacionais de preços do amido”, segundo o estudo.

Esse cenário poderia elevar as exportações brasileiras da fécula, principalmente para a Europa, o que, por sua vez, pode reduzir a oferta no mercado interno e elevar mais os preços.