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Especialistas dizem que preços dos alimentos ameaçam a luta contra a pobreza

WASHINGTON, 22 Abr 2008 (AFP) – A forte alta registrada nos preços dos alimentos nos últimos três anos ameaça a luta contra a pobreza na América Latina, advertiram especialistas reunidos nesta terça em Washington no centro de estudos Diálogo Interamericano. Matéria da Agência France-Presse, publicada pelo UOL Notícias, 22/04/2008 – 13h56.

Apesar de a região estar mais bem preparada que nos anos anteriores para enfrentar turbulências como as atuais nos mercados financeiros internacionais, a forte alta dos produtos básicos para a alimentação é um fator limitante para se prosseguir diminuindo com os níveis de pobreza.

“Os pobres e vulneráveis serão atingidos por isso”, estimou Nora Lustig, da Escola de Assuntos Internacionais Elliot, ao se referir ao encarecimento dos preços dos alimentos nos últimos três anos.

Lustig assinalou que essa situação poderá levar a um aumento das taxas de pobreza nas zonas rurais, ameaçando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em termos de luta contra a pobreza.

“Os altos preços dos alimentos continuarão por bastante tempo”, advertiu.

Apesar desta situação, os analistas concordaram com os prognósticos dos órgãos financeiros multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial e o BID, para quem a América Latina está mais bem preparada para enfrentar crises econômicas do que em épocas anteriores.

“Não há dúvidas de que a América Latina hoje está muito melhor para enfrentar qualquer crise”, afirmou o presidente da Corporação Andina de Infra-estruturas, Enrique García.

“Se isso acontecesse há alguns anos, estaríamos numa situação mais grave”, considerou.

De seu lado, Brian O’Neill, do Departamento do Tesouro americano, afirmou que “os mercados latino-americanos provaram ser muito resistentes” e que “a maioria das economias se posicionaram bem ante as turbulências financeiras globais” derivadas da crise no mercado hipotecário de alto risco(subprime) nos Estados Unidos.

“A exposição direta (às turbulências financeiras) é limitada na região”, concluiu o funcionário.

García assinalou algumas vulnerabilidades da América Latina devido à alta concentração do setor exportador em torno da agricultura, e reclamou, ao mesmo tempo, um aumento da produtividade.

Num contexto de desaceleração da economia da economia americana, Lustig advertiu que dados do passado sugerem que uma queda de 1% do crescimento americano leva em média a 0,6% de queda do PIB regional na América Latina.

A vertiginosa alta dos preços dos alimentos também é o tema principal de uma reunião de especialistas convocada nesta terça-feira, em Londres, pelo primeiro ministro britânico Gordon Brown, com o objetivo de elaborar um plano para tentar frear o processo motivador de conflitos sociais em vários países do mundo.

Entre os especialistas presentes em Londres está a diretora do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PAM), Josette Sheeran, que advertiu que a alta dos preços dos alimentos equivale a uma “tsunami silenciosa”.

Este aumento dos preços dos produtos alimentícios, que o PAM avalia em 55% desde junho de 2007, ameaça mergulhar na fome milhões de pessoas além das que já sofrem com esse problema, advertiu ainda.

Brown, que colocou o encarecimento dos alimentos na agenda dos líderes do Grupo dos Sete Países Mais Industrializado e a Rússia, quer examinar em particular o impacto da produção de biocombustíveis no custo dos víveres.

A reunião de Londres acontece no dia seguinte às advertências lançadas ante as Nações Unidas pelos presidentes da Bolívia e do Peru, Evo Morales e Alan García, segundo as quais o crescente uso dos biocombustíveis é um fator determinante no encarecimento dos alimentos em nível mundial.

Em uma clara referência ao brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente boliviano reprovou “alguns presidentes sul-americanos” por apoiar o uso dos biocombustíveis, responsáveis, segundo ele, por essa inflação.