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Uma nova tragédia está por vir? A situação do Rio Gravataí. Entrevista especial com Marcos Aurélio Chedid

Com o aumento das temperaturas na região metropolitana do Rio Grande do Sul nos últimos dias, a situação dos peixes da Bacia do rio Gravataí pode ser agravada. “A situação é preocupante, pois o aumento da temperatura pode causar o aumento da superfície da lâmina d’água e continuar com o processo da matéria orgânica com as águas do rio”, comentou o Secretário de Preservação Ambiental de Canoas Marcos Aurélio Chedid. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por telefone, Chedid falou sobre as ações que estão sendo feitas para conter o problema e chama a atenção da população que ainda não está ligada às redes coletoras de esgoto. A IHU On-Line tentou ainda contato com os responsáveis pelas secretarias de proteção ambiental ou do meio ambiente das cidades de Cachoeirinha, Alvorada, Santo Antônio da Patrulha, Viamão e Glorinha, que dependem também do Rio Gravataí, mas nenhuma atendeu às solicitações de entrevista. Por Greyce Vargas, do IHU On-line.

Marcos Aurélio Chedid é geólogo e mestre em Geologia Aplicada em Meio Ambiente e Planejamento Territorial, pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é a condição atual do Rio Gravataí?

Marcos Aurélio Chedid – Segundo nossos técnicos, como esquentou muito hoje (18-04-2008), a situação é preocupante, pois o aumento da temperatura pode causar o aumento da superfície da lâmina d’água e continuar com o processo da matéria orgânica com as águas do rio. Ontem, a situação melhorou bastante. O problema foi a chuva do sábado passado (12-04-2008), que trouxe muita poluição. As condições de oxigenação da água já estão bem melhores.

IHU On-Line – Em sua opinião, o que foi feito (ou não foi feito) para que o problema que ocorreu no Rio dos Sinos se repita no Rio Gravataí?

Marcos Aurélio Chedid – Todos os segmentos da sociedade devem encarar de frente, de maneira pragmática, o problema do esgoto. Especificamente na bacia do Rio Gravataí, foram investidos, na década passada, mais de cem milhões de reais através do programa Pró- Guaíba. Foram instaladas redes Foto: Vinicius Carvalhocoletoras de esgoto e estações de tratamento. Porém, a população não fez a sua parte, pois não se ligou a esse sistema. Algumas cidades da bacia têm até 90% da sua área urbana dentro da rede, mas não existem aí 30% das residências ligadas ao sistema. O problema continuou, apesar de ter infra-estrutura. Precisamos debater também com as outras cidades, a exemplo de Porto Alegre, que também tem grandes problemas. Sabemos que todo o esgoto da zona norte da capital corre in natura para o Arroio da Areia e para o Rio Gravataí. Nós aqui da foz, falando especificamente de Canoas, temos uma contribuição mínima para o Rio Gravataí. Nós estamos fazendo investimentos com recursos próprios e através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. Estamos encarando isso de frente e queremos sensibilizar nossa comunidade, que também não está se ligando, em sua totalidade, ao sistema de esgoto. A consciência ambiental não pode ficar só no discurso da nossa comunidade, assim como não pode ficar apenas no discurso dos poderes públicos municipal, estadual e federal.

IHU On-Line – Há anos, quem segue de Canoas para Porto Alegre, e vice-versa, sabe do problema da poluição do Rio Gravataí. Por que até agora nada foi feito para salvar o Gravataí?

Marcos Aurélio Chedid – Por parte das autoridades e do próprio Comitê da bacia do Rio Gravataí, o trabalho tem sido bom. Há um zoneamento da poluição industrial que está, em boa parte, controlada. Existe uma manifestação do poder público, mas também sabemos que nos últimos 30 anos foram pequenos os investimentos em saneamento básico. Os investimentos do PAC estão contribuindo para que as obras de saneamento avancem. Agora, a população deve contribuir também.

IHU On-Line – Ainda há tempo de salvar o Rio Gravataí?

Marcos Aurélio Chedid – Sempre há tempo. A natureza é muito interessante. Sempre que lutamos para que Foto: Vinicius Carvalhoela se recupere, ela responde muito bem. Para salvar o Rio Gravataí, basta tratar o esgoto. A partir dessa atitude, ele tem todas as condições de ser salvo. Trata-se de um rio atípico, um pequeno gradiente. Ele não tem grande vazão, por isso tem pouca oxigenação. Se tratarmos o esgoto, o Rio Gravataí voltará a ter todas as condições de vida. Até lazer poderá ser feito no rio e em suas margens se o esgoto for tratado, o que hoje é impossível.

IHU On-Line – Existe algum tipo de articulação sendo feita entre os municípios que dependem do Gravataí?

Marcos Aurélio Chedid – Apenas junto ao Comitê da Bacia do Rio Gravataí. Cabe a ele fazer essa parte de propor ao estado as políticas públicas para a bacia. Mas eu penso que cada município deva fazer a sua parte, ter sua própria legislação, ser mais rigoroso na fiscalização dos efluentes, no tratamento do esgoto. Se cada um fizer sua parte, num período de médio a longo prazo, poderemos devolver as condições da qualidade da água do rio Gravataí.

Nenhuma reunião sobre isso foi feita sobre isso. Pelo menos não que eu saiba. Nós não fomos Foto: Vinicius Carvalhoconvocados para nenhuma reunião. Estamos apenas tratando da questão legal, chamando a atenção da população e das autoridades para esse problema. Isso porque nós sofremos as maiores conseqüências, à medida que estamos na foz da bacia.

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 19/04/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]