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Deserto verde ameaça o Rio Grande do Sul. A ação das três gigantes multinacionais

“O papel será feito no primeiro mundo e as terras esgotadas e a poluição ficarão por aqui. O capital internacional viu que as terras aqui são baratas, as pessoas estão largando suas lidas no campo para arrendar ou vender suas terras”. A afirmação é do Dr. Paulo Brank, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em reportagem de Patrícia Prezzoto no sítio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), 18-04-2008.

Eis a reportagem.

O Estado do Rio Grande do Sul (RS) vem sofrendo com a degradação ambiental e social, devido à monocultura de eucaliptos, para fins de celulose e energia. As grandes empresas estrangeiras se instalam no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, devido ao clima favorável da região e o incentivo fiscal e financeiro.

Com o clima favorável do Rio Grande do Sul, as plantas exóticas, como eucalipto e pinus, se desenvolvem rapidamente e com isso aumenta a produtividade. O eucalipto pode ser colhido em apenas sete anos para a produção de celulose, quando atinge até 35 metros de altura. Tem o dobro da produtividade das espécies de matas nativas. As raízes do eucalipto atingem grandes profundidades em busca de nutrientes minerais, com isso acaba absorvendo grande quantidade de água chegando até 30 litros diariamente.

Os impactos do chamado deserto verde implantado no Estado são secamentos de rios, fontes de água, a devastação do solo, que chega a plena destruição do meio ambiente. Os poucos empregos gerados são para mão-de-obra especializada nas fábricas. Cidades e regiões gaúchas estão sofrendo com a estiagem agravada pela monocultura de eucalipto como, Bagé, Alegrete, Fronteira Oeste, Encruzilhada do Sul entre outras.

O agricultor Leandro Noronha de Freitas reside em Encruzilhada do Sul, região afetada pela estiagem. Ele mora em frente à Fazenda Bota, que está coberta de eucaliptos. Antes da monocultura, as propriedades eram destinadas ao plantio de alimentos, como arroz, feijão, e pastagem para gado em geral. Hoje, essas terras servem para fins de celulose e energia. Essas produções são exportadas para fora do Estado, que paga os impostos. “A multinacional vem iludindo os pequenos agricultores que o plantio gera desenvolvimento e renda, oferecendo aos pequenos produtores a Poupança Florestal, alternativa de renda para incentivo do plantio”, afirma Freitas.

Ele lembra que o plantio se expandiu em 20 hectares em apenas dois anos, e as conseqüências são sérias, como o surgimento de vários predadores como o cachorro selvagem e outros, que atacam os animas das pequenas propriedades. As empresas jogam frascos e vidros, lavam ferramentas e pulverizadores de inseticidas que foram usados para combater os insetos no plantio, em fontes, rios e córregos de água, sendo que a mesma é utilizada para abastecer as famílias e animais que vivem na região. Segundo Freitas, as empresas começam o plantio nas redondezas das áreas e quando a plantação tiver num porte alto, passam a plantar no centro das mesmas, para que ninguém os veja.

Segundo o professor de Biologia, Dr. Paulo Brank, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mais de 90% da celulose das três gigantes multinacionais Stora Enzo, Aracruz, Votorantin, será pasta para celulose para exportação. “O papel será feito no primeiro mundo e as terras esgotadas e a poluição ficarão por aqui. O capital internacional viu que as terras aqui são baratas, as pessoas estão largando suas lidas no campo para arrendar ou vender suas terras”, afrima Brank.

O projeto das três empresas é de plantar mais de 1 milhão de hectares de monoculturas de árvores exóticas para alimentar o crescimento infinito do consumo de papel. Brank acredita que se for diminuído o consumo de papel, o que a terra agradeceria, as empresas vão faturar menos e que estas monoculturas estão gerando o aumento do êxodo rural e a insustentabilidade financeira do agricultor ou pecuarista no Uruguai, Chile, Brasil.

Afirma o biólogo que as empresas citadas visam o seu crescimento de forma ilimitada, o que ele chama de hipertrofia ilimitada de capital concentrador e excludente, que destrói a diversidade, cultura e natureza diversa para padronizar a grande escala de consumo e produção. Diz, ainda, que isso está levando a terra a sucumbir os mais elementos princípios da vida. Brank critica os danos contra a sócia biodiversidade, pelo esgotamento da capacidade de suporte dos ambientes naturais, que sofrem mais com a expansão da fronteira da monocultura, seja ela da silvicultura ou de outras culturas em grande escala.

A presença das empresas de celulose e papel no Estado

Aracruz

Quando chegou?
Julho de 2003, através da aquisição da Riocell da Klabin

Quanto já investiu?
US$ 700 milhões

Áreas de floresta atual
110 mil hectares, incluindo áreas de preservação permanente e reserva legal e também contratos com produtores florestais

Onde está?
Arroio dos Ratos, Barão do Triunfo, Barra do Ribeiro, Butiá, Cachoeira do Sul, Camaquã, Cerro Grande do Sul, Charqueadas, Dom Feliciano, Eldorado do Sul, Encruzilhada do Sul, General Câmara, Guaíba, Mariana Pimentel, Minas do Leão, Pantano Grande, Porto Alegre, Rio Pardo, São Jerônimo, Sentinela do Sul, Sertão Santana, Tapes, Triunfo e Viamão
Com o projeto de expansão planejado pela empresa, a Aracruz irá atuar também em Amaral Ferrador, Caçapava do Sul, Lavras do Sul, São Gabriel, São Lourenço do Sul, Santa Margarida do Sul, São Sepé e Vila Nova do Sul.

Stora Enso

Quando chegou?
Setembro de 2005

Quanto já investiu?
Dado não fornecido. Em 2005, estimava-se ser necessário um investimento de US$ 1 bilhão para iniciar a produção de celulose

Áreas de floresta atual
9 mil hectares plantados

Onde está
Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis, São Gabriel, São Vicente do Sul e Unistalda

Votorantim Celulose e Papel (VPC)

Quando chegou?
Segundo semestre de 2003

Quanto já investiu?
US$ 250 milhões na área florestal, incluindo viveiro, aquisição de terras e maquinário

Áreas de floresta atual
48,7 mil hectares: 37,7 mil próprios e 11 mil hectares por produtores participantes do programa Poupança Florestal. A previsão é chegar a 140 mil hectares até 2011

Onde está?
Em 27 municípios. Em Capão do Leão, instalará o maior viveiro coberto da América Latina (27 ha). Disputam a localização da fábrica Arroio Grande, Capão do Leão, Cerrito, Pedro Osório, Pelotas e Rio Grande

(www.ecodebate.com.br) entrevista publicada pelo IHU On-line, 20/04/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]