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Caramujo africano ameaça mais o ambiente do que saúde

Se você encontrar alguns caramujos africanos em seu quintal, não precisa ficar alarmado. Esses moluscos podem estragar o seu jardim ou a sua horta, mas é pouco provável que coloquem em risco a sua saúde ou a da sua família. Segundo o médico e pesquisador dos laboratórios de Biologia Parasitária e de Parasitologia Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Carlos Graeff Teixeira, o caramujo africano é uma tragédia do ponto de vista do desequilíbrio ambiental como animal exótico introduzido sem controle, mas não representa uma grande ameaça à saúde pública. Por Caroline Borja, da ComCiência, Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, SBPC/LABJOR, 17/04/2008.

Essa constatação foi obtida na bancada de seu laboratório. Teixeira e seu grupo estudaram a susceptibilidade do caramujo africano (Achatina fulica) à infecção pelas larvas dos vermes Angiostrongylus costaricensis e cantonensis, espécies causadoras da angiostrongilíase meningoencefálica (tipo de meningite) e da angiostrongilíase abdominal (que compromete os órgãos abdominais). Os cientistas avaliaram também o potencial infectante do animal portador, isto é, sua habilidade de transmitir a infecção. “Estes moluscos foram expostos às larvas dos dois vermes e poucos deles apresentaram estabelecimento de infecção que permitisse a evolução das larvas de primeiro estágio, que saem nas fezes dos roedores, para larvas de terceiro estágio, que são infectantes para os vertebrados, incluindo o homem”, diz Teixeira. De 244 caramujos, somente um foi infectado.


Caramujo africano ingerindo vegetal contaminado experimentalmente.
Foto: Carlos Graeff Teixeira.

Ciente desses achados, mesmo antes da sua publicação na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz em 2007, o Ministério da Saúde divulgou, em nota, que o caramujo africano não representava risco significativo para a saúde pública, pelo baixo potencial de transmissão que apresentava. A nota recomendou, porém, o uso de luvas ou sacos plásticos na captura dos caramujos.

E embora o risco de contaminação não seja nulo, ainda não foram registrados casos de angiostrongilíase decorrentes do contato com o caramujo africano no Brasil. Teixeira explica que os principais hospedeiros moluscos do Angiostrongylus costaricensis, por exemplo, são as lesmas, especialmente as dos gêneros Phylocaulis e Sarasinula. O médico conta que em Cariacica, Espírito Santo, dois indivíduos apresentaram meningite eosinofílica no ano passado. “Estas duas pessoas estavam embriagadas e relatam terem dividido ao meio uma lesma e cada um ingeriu uma metade, numa espécie de ’desafio’”, conta o pesquisador. Os exames de sorologia de ambos foi positivo para o gênero Angiostrongylus, o mesmo encontrado em lesmas do gênero Sarasinula, que estavam no local. Tais achados foram também publicados na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

Mas o problema é que esse caramujo gigante terrestre – que carrega consigo uma concha marrom escura com listras esbranquiçadas, no formato de um cone – é uma praga agrícola, que pode destruir hortas, jardins e plantações de subsistência. O voraz Achatina fulica devora tudo que encontra pela frente, pois se alimenta de cerca de 500 tipos de plantas. Consome desde papel até tinta de parede.

O Achatina fulica foi trazido da África para o Brasil nos anos 80 por criadores de escargot para fins comerciais. Quando descobriram que a espécie era imprópria para o consumo humano, os caramujos foram libertados no ambiente. Sem predadores naturais no país, esses animais, que são hermafroditas, encontraram aqui o lugar perfeito para uma ampla e descontrolada proliferação.

One thought on “Caramujo africano ameaça mais o ambiente do que saúde

  • sandra augusta de p. cesar

    gostaria de saber quanto tempo os caramujos tem de vida, pois todas as pesquisa que fiz não fala sobre seu tempo de vida e sim só explica para exterminá-lo.
    aguardo respostas.
    obrigada.

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