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Lula manda repreender general por críticas públicas

Jobim e comandante do Exército vão chamar militar para conversa.

BRASÍLIA. Numa reunião extraordinária no fim da tarde de ontem no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, explicações sobre as declarações do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, contra a demarcação da Reserva Raposa Serra do Sol em terras contínuas. Jobim e Enzo Martins vão chamar o general para uma conversa e, em seguida, repassar as respostas ao presidente. Hoje Lula vai participar de solenidade no QG do Exército e, em seguida, terá encontro com índios no Planalto. Por Jailton de Carvalho, do O Globo, 18/04/2008.

Para auxiliares de Lula, as críticas do general podem se configurar em grave quebra dos princípios de disciplina e hierarquia.

Isso porque o presidente é o comandante supremo das Forças Armadas e já havia defendido a demarcação da reserva. Em discurso no Clube Militar, no Rio, para platéia de 150 militares da reserva e da ativa, o comandante militar da Amazônia disse anteontem que a política indigenista do país é caótica. Na declaração mais polêmica, o general Heleno disse que serve ao Estado, e não ao governo.

Um dos exemplos do caos — segundo o general — seria a tentativa de demarcação da reserva em terras contínuas, e não em várias unidades, como querem políticos, empresários e parte dos índios de Roraima. O decreto de demarcação da Raposa Serra do Sol foi assinado durante o governo Fernando Henrique, em 1998, e homologado em 2005, por Lula.

Conversa sobre reajuste dos soldos não teria ocorrido O presidente não gostou das declarações do general e convocou Jobim e Martins para reunião no Planalto. O encontro durou duas horas. A expectativa era de que, durante a audiência, os três conversassem também sobre o reajuste dos militares, assunto que inquieta os quartéis desde o início do ano. Mas, segundo auxiliares de Jobim e do presidente, a discussão se resumiu às críticas do general.

— O presidente pediu esclarecimentos sobre as declarações.

Eles vão conversar com o general e, depois, voltam a falar com o presidente — disse um funcionário do governo que acompanhou a reunião.

Numa tentativa de administrar a crise que se desenha, Jobim cancelou viagem que faria hoje ao Sul. A tarefa de cobrar explicações do general não é simples. Ex-comandante das tropas de paz da ONU no Haiti, ele é um dos generais mais influentes.

A posição dele é endossada por oficiais, não apenas do Exército, mas das outras Armas.

As declarações do general tiveram apoio no gabinete do comandante do Exército. Pouco antes da reprimenda do presidente ter se tornado pública, um dos auxiliares do comandante estava exultante com a solenidade em comemoração ao Dia do Exército, no Senado.

— Até elogiaram o general Heleno — comentou um dos auxiliares do comandante.

Na abertura da homenagem, o senador Romeu Tuma (PTBSP) destacou a atuação do general na Amazônia. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) não falou especificamente sobre a reserva ou sobre o general, mas disse que a política de desenvolvimento do estado tem que levar em conta a grande quantidade de nãoiacute;ndios que vive na região.

Esse é um dos principais argumentos de Heleno contra a demarcação em terra contínua.

A polêmica não parou por aí.

A exemplo do que fez semana passada, o presidente da Funai, Márcio Meira voltou a criticar o general Heleno. Para ele, o general desconhece o papel dos índios na formação das fronteiras do Brasil, principalmente na Região Norte, onde hoje se discute a homologação da Raposa Serra do Sol. O presidente da Funai lembrou que, na década de 70, o país tinha 250 mil índios e hoje tem quase um milhão.

— Isso é resultado de uma política indigenista que garantiu a sobrevivência dos índios.

Dizer que a política indigenista é caótica é desconhecer a política indigenista. Está mal informado — disse Meira.

Nota do EcoDebate

As declarações do Gen. Heleno podem ser encontradas em “O comandante militar da Amazônia diz que demarcação de terra indígena pode ser ameaça ao país. Índios criticam militares que são contrários à demarcação de Raposa Serra do Sol