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Editorial

Comentários de Henrique Cortez, do EcoDebate, sobre a matéria “General diz que demarcação de Raposa Serra do Sol pode criar novo Tibete”

A preocupação dos militares com a segurança nacional e a integridade territorial é compreensível, mas a ojeriza aos territórios indígenas passa dos limites.

É mais uma declaração risível, com uma análise paranóica-xenófoba, com a perspectiva militarista, “prima” ideológica de todos os “falcões” militares do mundo, que garantem a sobrevivência e as verbas com pseudo-ameaças. Os militares norte-americanos também pensam assim. O militarismo apenas se justifica com potenciais inimigos internos ou externos, ou ambos.

Além de ser um discurso desnecessariamente militarista, ele também é carregado de preconceito, que apenas compreende o modelo de desenvolvimento (qualquer um) e de nação a partir da ótica branca, recusa reconhecer que os indígenas são cidadãos brasileiros.

A criminalização dos movimentos sociais segue a lógica de que índios, quilombolas, sem-terra, ambientalistas, ribeirinhos, atingidos por barragens, extrativistas, etc, são potenciais ameaças à segurança nacional, exatamente porque resistem a este modelo de desenvolvimento exploratório e insustentável.

O discurso do risco de internacionalização, com invasão pelos marines e tudo mais, apenas serve à direita desenvolvimentista. É importante lembrar que a ditadura militar cansou de usar o pseudo-argumento “Integrar para não entregar”, na tentativa de justificar a ocupação desordenada da Amazônia, raiz de sua devastação. É bom lembrar que foi justamente durante o regime militar que a ocupação desordenada se institucionalizou, inclusive com a migração de milhares de nordestinos para a Amazônia, iludidos com o slogam “uma terra sem povo, para um povo sem terra”.

O Brasil não sofre reais ameaças de inimigos externos. Os maiores danos e as maiores ameaças são nossas mesmo, a começar pelos desenvolvimentistas a qualquer custo, estes sim a serviço das grandes corporações transnacionais.

Todos os recursos da Amazônia, a nossa e dos outros, já está à disposição do mercado internacional, tendo em vista a perpetuação de nossa pauta colonial de exportação de produtos primários, que corresponde a mais de 90% de nossas exportações. Ninguém precisa nos invadir simplesmente porque já vendemos tudo aos “melhores” preços, sem que isto tenha realmente contribuído para a melhoria dos indicadores sociais e econômicos da região.

Os “nacionalistas”, defensores incondicionais da expansão da fronteira agropecuária para a Amazônia, sempre reforçam a idéia de que o Brasil pode alimentar o mundo, ou seja, são defensores que o Brasil seja uma “fazendona” à serviço do mundo, do mesmo modo que é desde o período colonial. Pensando bem, não é difícil perceber quem, de fato, está à serviço dos interesses internacionais.

Além dos discursos e bravatas pouco ou nada fazemos de real pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia, da nossa e dos nossos vizinhos, além de não temos uma verdadeira estratégia de integração com os demais países amazônicos.

Para que a “nossa” Amazônia seja realmente nossa, precisamos retoma-la dos grileiros, madeireiros ilegais, agro-gananciosos, garimpeiros ilegais e outros devastadores, incluindo políticos que ainda agem como donatários das Capitanias Hereditárias. Ela será nossa na exata medida em que formos efetivamente responsáveis pelo seu destino.

Não creio que corremos o risco real de ter a “nossa” Amazônia invadida em prol da governança global, mas certamente teremos problemas nas relações multilaterais, no acesso aos financiamentos internacionais e no boicote aos nossos produtos e serviços, inclusive justificando uma renovada onda protecionista. Este é um risco real e imediato.

Não há como negar que seremos cobrados e muito. Cobrados e com razão. Mas ainda temos tempo e oportunidade de dizer a nós mesmos, antes de dizer ao mundo e aos nossos vizinhos, que somos capazes de agir com responsabilidade e seriedade.

Para os militares ensandecidos e os desenvolvimentistas a qualquer custo, os indígenas, os quilombolas, os movimentos sociais, as ONGs, a sociedade organizada, etc, são inimigos potenciais e como tal são ser tratados.

A ditadura militar, de tão triste e sangrenta memória, já acabou há muito tempo e agora é mais do que hora de respeitar-se a Constituição, a mesma que os militares juraram defender.

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate

One thought on “Comentários de Henrique Cortez, do EcoDebate, sobre a matéria “General diz que demarcação de Raposa Serra do Sol pode criar novo Tibete”

  • Jorge Gerônimo Hipólito

    Na minha opinião e considerando a opinião do Comandante Heleno, o exército brasileiro exerce função voltada para o ESTADO e não para o governo. E faz sentido, pois os governos passam, o EXÉRCITO continua e, com a perspectiva de defender todos os brasileiros. Nesse contexto não existe possibilidade de exclusão dos índios brasileiros.
    Na minha opinião e considerando a liberdade de expressão todos tem direito a manifestação seja ela favorável ou contrária, entretanto, seria saudável, assim eu penso, pois todas as pessoas (organizações) são detentoras de predicados, bem como de imperfeições, nesse sentido se faço a critica, por que não faço o elogio? O que me impede?
    Com relação ao meio ambiente, lá da região amazônica, por exemplo, imaginemos se o governo, de repente, incumbisse o EXÉRCITO a se manter “in vigilando” e ao mesmo tempo tomando providências legais e, assim auxiliando o Ministério do Meio Ambiente quanto aos crimes ambientais. O que aconteceria? Simplesmente, haveria drástica redução, obviamente, isso provocaria transtornos aos interesses de muitos. Desta feita, melhor continuar do jeito que está, isto é, bem mais a frente, estrangeiros irão se intrometer nas nossas vidas com a justificativa de que somos incapazes de cuidar do que é nosso e que a nossa ineficácia redunda prejuízos à humanidade. É isso que queremos?
    Com relação à “ditadura militar”, hoje tão repudiada por muitos e, evidente que repudiar também corresponde a um direito, eu não poderia deixar de acrescentar o que segue.
    A partir de 31 de março de 1.964, muita coisa aconteceu nesse imenso Brasil, mormente, o choque das ideologias. Houve erros e acertos, óbvio, se levarmos em conta os anseios de um lado e do outro. Mas, com o fim do regime militar e com a abertura democrática, inclusive com a “ANISTIA” onde a sociedade civil ascendeu nas suas pretensões, normalmente, tomamos conhecimento apenas de alguns desacertos segundo os critérios dos críticos. Considerando o direito a liberdade de expressão, eu diria que são aceitáveis as criticas. Mas, e dos acertos do governo militar ninguém disporia expressá-los? Pois bem, assim sendo, citarei abaixo alguns, esses, foram tão relevantes que continuam contribuindo com a sociedade em geral, independentemente, da esquerda, centro ou direita. Portanto, observemos os acertos do GOVERNO MILITAR NO BRASIL. Eles fizeram a maior revolução industrial do séc XX. Pegaram um país com o 45º PIB do mundo, e 21 anos depois, entregaram aos civis o 10º PIB do mundo.
    Você saberia informar em que lugar o Brasil se encontra hoje? Além desse detalhe acima exposto, observemos o que mais fizeram a partir de 31 de março.
    1. É restabelecida a autoridade por 21 anos;
    2. Criação de 13 milhões de empregos;
    3. A Petrobrás aumenta a produção de 75 mil para 750 mil barris/dia de petróleo;
    4. Estruturação das grandes construtoras nacionais;
    5. PIB de 14%;
    6. Construção de 4 portos e recuperação de outros 20;
    7. Criação da Eletrobrás;
    8. Criação da Nucleobras e subsidiária;
    9. Criação da Embratel e Telebrás;
    10. Usina Angra I e Angra II;
    11. Indústria aeronáutica, naval, bélica e automotiva;
    12. Proálcool (95% dos carros no país);
    13. Construída as maiores usinas do MUNDO: Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu;
    14. Exportações crescem de 1,5 bilhões de dólares para 37 bilhões;
    15. Rede Asfaltada de 3mil para 45 mil KM;
    16. Redução da inflação de 100% ªª para 12% ªª, sem controle do preço* e sem massacre do funcionalismo público;
    17. Fomento e financiamento de pesquisa: CNPq, FINEP e CAPES;
    18. Cursos de mestrado e doutorado;
    19. INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM;
    20. FUNRURAL;
    21. Programa de merenda escolar e alimentação do trabalhador;
    22. Criação do FGTS, PIS, PASEP;
    23. Criação da EMBRAPA (70 milhões de toneladas de grãos);
    24. Duplicação da rodovia Rio Juiz de Fora e da Via Dutra;
    25. Criação da EBTU;
    26. Implementação do Metrô em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza;
    27. Criação da INFRAERO, proporcionando a criação e modernização dos aeroportos brasileiros (Galeão, Guarulhos, Brasília, Confins, Campinas – Viracopos, Salvador, Manaus);
    28. Implementação dos Pólos Petroquímicos em São Paulo (Cubatão) e na Bahia (Camaçari);
    29. Prospecção de Petróleo em grandes profundidades na bacia de Campos;
    30. Construção do Porto no Maranhão;
    31. Construção dos maiores estádios, ginásios, conjuntos aquáticos e complexos desportivos em diversas cidades e universidades do país;
    32. SNI;
    33. Polícia Federal;
    34. Código Tributário Nacional;
    35. Código de Mineração;
    36. Zona Franca de Manaus;
    37. IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal;
    38. Conselho Nacional de Poluição Ambiental;
    39. Reforma do TCU;
    40. Estatuto do Magistério Superior;
    41. INDA Instituto de desenvolvimento agrário;
    42. Criação do banco Central (DEZ64);
    43. SFH Sistema Financeiro habitacional;
    44. BNH Banco Nacional de Habitação;
    45. Construção de 4 milhões de moradias;
    46. Regulamentação do 13º salário;
    47. Banco da Amazônia;
    48. SUDAM;
    49. Reforma Administrativa, Agrária, Bancária, Eleitoral, habitacional, Política e Universitária;
    50. Ferrovia da soja;
    51. Rede Ferroviária ampliada de 3mil e remodelada para 11 mil KM;
    52. Frota mercante de 1 para 4 milhões de TDW;
    53. Corredores de exportações de Vitória, Santos, Paranaguá e Rio Grande;
    54. Matriculas do ensino superior de 100 mil em 1964 para 1,3 milhões em 1981;
    55. Mais de 10 milhões de estudantes nas escolas (que eram realmente escolas);
    56. Estabelecimento de assistência médico sanitária de 6 para 28 mil;
    57. Crédito Educativo;
    58. Projeto RONDON;
    59. MOBRAL;
    Aquele que tem consciência do quanto significa cada item exposto acima, sem sombra de dúvidas tem a liberdade para criticar os desacertos, porém, incoerente seria não mencionar os acertos, principalmente, porque até hoje, os 59 itens sustentam o nosso desenvolvimento.
    Jorge Gerônimo Hipólito
    3º Sgt Ref PMESP (ambientalista)

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