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Austrália: A grande seca

Austrália perde produção agrícola devido a crise ligada ao aquecimento global – A região de Deniliquin, na Austrália, já foi a maior produtora de arroz do Hemisfério Sul. O local já processou uma quantidade de grãos suficiente para suprir as necessidades de 20 milhões de pessoas em todo o mundo. Por Keith Bradsher, no O Globo, 18/04/2008.

Mas seis anos de severas secas abalaram drasticamente esse potencial, fazendo com que a produção de arroz no país fosse reduzida em 98%.

Milhares de quilômetros separam as plantações, agora vazias, de Deniliquin das tumultuadas ruas de Porto Príncipe, no Haiti, mas uma crise global de alimentos, provocada pelas mudanças climáticas, está unindo os dois locais.

O colapso da produção australiana é um dos fatores que causaram o aumento no preço do arroz nos últimos três meses — aumento que fez com que os maiores produtores do mundo restringissem suas exportações, causando pânico nos mercados de Hong Kong e nas Filipinas; e gerando violentos protestos em países como Egito, Camarões, Etiópia, Haiti, Indonésia e Costa do Marfim.

Biocombustíveis são uma preocupação

Os efeitos da seca na Austrália estão sendo considerados os maiores impactos na agricultura mundial causados pela elevação das temperaturas globais. Muitos cientistas acreditam que esses sejam os primeiros sinais de uma crise na produção mundial de alimentos por causa das mudanças climáticas.

Embora seja difícil ligar mudanças climáticas recentes com outras previstas para acontecer a longo prazo, esse intenso e pouco usual período de seca é compatível com todas as previsões feitas até agora pelos cientistas sobre os efeitos do aquecimento global na agricultura.

— As mudanças climáticas são potencialmente a maior ameaça para a agricultura da Austrália — diz Ben Fargher, da Federação Nacional de Fazendeiros da Austrália.

A seca já causou alterações significativas no centro da produção agrícola da Austrália. Alguns fazendeiros abandonaram o plantio de arroz, que exige grandes quantidades de água, para se dedicarem a atividades que requerem menos uso de água, como o cultivo de uvas para a produção de vinho, outra forte indústria local. Outros fazendeiros venderam suas terras ou o acesso à água para os produtores de vinho.

Especialistas temem que essa transferência de fontes de água — da produção de arroz para a de atividades mais lucrativas, como o vinho — tenha um impacto negativo na economia de países pobres, que dependem da importação de arroz para alimentar sua população.

A iminente crise na agricultura global está a ponto de se tornar uma questão política, separando os EUA e outros países desenvolvidos das nações mais pobres em torno da necessidade de alimentos a preços acessíveis e a produção de fontes renováveis de combustíveis. Os países em desenvolvimento temem que os incentivos das nações ricas para a produção de biocombustíveis possa causar um aumento no custo de alimentos básicos.

Desequilíbrio na produção agrícola

Pelas previsões do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), mesmo um pequeno aumento nas temperaturas globais nos próximos anos já seria suficiente para desequilibrar a produção agrícola no planeta.

Países bem acima da linha do Equador teriam sua produção beneficiada por um aumento moderado na temperatura, mas os efeitos seriam desastrosos para muitos dos países pobres, já que grandes quantidades de alimentos teriam que percorrer enormes distâncias para suprir suas necessidades gerais.