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Aumenta em 140% o número de famílias expulsas no campo, diz Pastoral da Terra

Brasília – Íris Oliveira, viúva de Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Keno e morto em outubro do ano passado, participa do lançamento do relatório “Conflitos no Campo Brasil 2007” da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Foto: Elza Fiúza/ABr

A agricultora Iris de Oliveira, 32 anos, é uma da vítimas da violência no campo no Brasil. No dia 21 de outubro de 2007, o seu marido, Valmir Mota de Oliveira, 34 anos, conhecido como Keno, foi assassinado no Paraná, durante confronto entre agricultores sem-terra e seguranças de uma multinacional do setor transgênicos. Hoje, Iris participou, em Brasília, do lançamento do caderno Conflitos no Campo 2007, divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Segundo o documento, houve aumento de 140% no número de famílias expulsas de áreas rurais entre 2006 e 2007. Matéria de Ivan Richard, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate.

Mesmo com a queda de 7% no número de confrontos registrados na área rural no ano passado em relação a 2006, os dados da CPT indicam que houve um crescimento geral da violência no campo no país nesse período.

De acordo com a CPT, enquanto o número de assassinatos caiu de 39, em 2006, para 28 no ano passado, aumentou de 1.809 para 4.340 o número de famílias expulsas de suas terras em igual período. Ou seja, um crescimento de 140%. A expulsão, segundo o relatório, ocorre quando os agricultores são retirados das terras antes mesmo de decisão judicial.

Segundo o geólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e analista da CPT Carlos Walter Gonçalves, a redução do índice de assassinatos ocorreu devido à queda no número de casos no Pará. Em 2006, formam registrados 24 mortes naquele estado, enquanto no ano passado foram apenas cinco.

“Se observarmos no resto do Brasil, tivemos 28 casos. Um detalhe interessante é que, em 2006, oito estados tiveram registros de assassinatos. Já em 2007, foram 14. Há um espraiamento da violência por meio dos assassinatos e isso é preocupante”, avaliou Gonçalves. Para ele, a expansão do agronegócio seria o responsável pelas mortes em um número maior de estados.

Ainda segundo o analista da CPT, a redução dos assassinatos no Pará estaria ligada às ações do governo após a morte de Dorothy Stang. A missionária americana naturalizada brasileira foi assassinada com seis tiros, no município de Anapu, em 2005.

“Obviamente, os holofotes têm se voltado para lá. O governo vem tomando uma série de atitudes e, nesse sentido, estaria contribuindo fortemente para essa queda”.

Conforme o caderno Conflitos no Campo 2007, nas demais regiões do país houve crescimento de 50% nos casos de violência contra a pessoa. Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Paraná, Maranhão, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte apresentaram aumento no número de assassinatos.

“Isso é grave, porque estaria associado à perspectiva de negócios que vão se ampliando em função das oportunidades que se abrem para o Brasil para exportação de etanol, cana-de-açúcar, carne, soja e todas as commodities”, alerta Gonçalves. “No afã de realizar seus negócios, o poder privado, as empresas estão partido para [o uso de] jagunços”, completou.