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Lixo domina campanha eleitoral em Nápoles

Partidos prometem resolver crise que transformou cidade italiana em vazadouro gigante e fez máfia lucrar bilhões. Por Vera Gonçalves de Araújo, Especial para O GLOBO, 10/04/2008.

NÁPOLES. Os quatro milhões de eleitores da Campanha são uma das grandes preocupações dos dois partidos principais que no próximo domingo concorrem para governar a Itália nos próximos cinco anos. E ambos têm a mesma plataforma básica para a região e sua capital, Nápoles: resolver a crise do lixo.

O conservador Povo das Liberdades, de Silvio Berlusconi, chegou a prometer que, se vencer, será na cidade a primeira reunião do Gabinete, que de Nápoles não sairá enquanto não se resolver o problema da coleta de lixo. O Partido Democrata de Walter Veltroni — que governou Nápoles nos últimos dez anos, e a Campanha nos últimos cinco — também promete resolver o drama do lixo, que polui ruas, águas e o solo da região.

Lixo é enviado à Alemanha para virar energia Toda a Campanha vive o mesmo drama. A sensação é de que o lixo doméstico nas ruas é só a ponta do iceberg. O verdadeiro problema da região é o subsolo, cheio de lixo tóxico enterrado pela Camorra — a máfia napolitana — durante anos. A eliminação do lixo tóxico a preço de banana é uma das atividades mais rentáveis dos mafiosos. Trazendo para cá o lixo das fábricas do norte rico do país, e até de outros países europeus, a Camorra ganhou bilhões de euros.

Os mafiosos, porém, não têm toda a culpa. A responsabilidade pelas montanhas de lixo urbano embalado que entulham a cidade é, principalmente, das empresas encarregadas da construção de usinas para produzir energia do lixo, e dos políticos, que geriram mal ou simplesmente malversaram as verbas do governo e da União Européia. Após anos de planejamento, não há nenhuma usina funcionando na Campanha.

Uma tentativa de aliviar o problema será com a exportação de entre 105 mil e 160 mil toneladas de lixo para a Alemanha, onde será convertido em energia.

Mas, para isso a Itália terá de pagar cerca de C 30 milhões.

A mais recente vítima da crise do lixo é um dos produtos mais famosos da região: a mussarela de búfala, ingrediente fundamental da pizza napolitana. Como conseqüência da poluição de campos e pastagens, o leite usado na produção da mussarela apresenta uma taxa de dioxina acima do normal. As autoridades afirmam que é uma alteração mínima, mas foi suficiente para que muitos países suspendessem as importações e os consumidores nacionais deixassem de comer mussarela.