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Notícia

Operação para salvar o peixe-boi da extinção. Variedade amazônica ainda é caçada

Cientistas fazem a maior reintrodução da espécie, da qual restam apenas 500 animais. Por Letícia Lins, do O Globo, 03/04/2008.

RIO TINTO, Paraíba. Eles foram exterminados sem piedade no litoral do Espírito Santo ao Amapá. Sua carne era cobiçada, a gordura tratava reumatismo, segundo a crença popular, e o couro era exportado. Hoje estima-se que existam no litoral nordestino apenas 500 peixesbois-marinhos (Trichechus manatus manatus), atualmente os mamíferos aquáticos mais ameaçados de extinção do Brasil. Com a caça proibida, eles vêm sendo resgatados ainda bebês nas praias, reabilitados e devolvidos à natureza.

No último dia 29, quatro animais voltaram ao ambiente nativo, na barra do Rio Mamanguape, em Rio Tinto. Até o final deste mês serão dez os animais reintroduzidos, um recorde em se tratando de peixeboi. De 1994 até 2004 foram liberados 15 animais na região, no máximo dois de cada vez.

Destes, seis continuam sendo monitorados, três morreram, três foram recapturados e três estão em liberdade, segundo pesquisadores do Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, na Ilha de Itamaracá.

Animais reaprendem a viver na natureza Henrique Ilha, diretor do CMA, diz que quatro outros peixes-bois serão devolvidos à natureza entre os dias 14 e 15 de abril, no litoral de Alagoas.Os que vêm sendo reintroduzidos agora têm uma particularidade.
Em cativeiro, ficaram em oceanários longe de visitas.

Isso porque técnicos constataram nas experiências anteriores que, habituados a interagir com pessoas, os primeiros animais reintroduzidos não procuravam o seu grupo e ficavam próximos ao litoral.Em Sergipe, um deles foi atropelado por uma lancha.

— Eles interagiam muito com tratadores e visitantes. Isso prejudicava a reintrodução — diz Fernanda Niemeyer.

Os animais que estão sendo reintroduzidos foram resgatados ainda filhotes. Eles encalharam ao se desgarraram das mães, um fenômeno cada vez mais comum na espécie.Com os manguezais destruídos ou ocupados pela especulação imobiliária, as fêmeas voltam antes do tempo ao mar, têm dificuldades para amamentar e se distanciam dos bebês.

Variedade amazônica ainda é caçada
Amazonas tem a pior situação – Não é só o peixe-boi marinho que vem sendo reintroduzido no país. Na Amazônia, um projeto semelhante está sendo feito com o peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis). Por enquanto, a experiência foi realizada só com dois animais, segundo a bióloga Fábia Luna, do CMA. Eles eram órfãos e foram resgatados filhotes, um no Rio Tapajós e o outro no Lago Sapucuá, perto do Rio Trombetas. Os peixes-bois são monitorados pelos pesquisadores, por radiotelemetria. Na região, a caça do peixe-boi é intensa e anualmente são abatidos cerca de 500 animais. Para se ter uma idéia do que isso significa, esta é a mesma quantidade de peixes-bois-marinhos sobreviventes no Nordeste. Fábia diz que só no Amazonas o número de peixe-bois mortos chega a 450 a cada ano.No Nordeste, o ataque ao peixe-boi-marinho foi intenso.

A espécie era encontrada na faixa do litoral que vai do Espírito Santo ao Amapá. Hoje ela existe apenas no trecho que vai de Alagoas ao Amapá, mas mesmo assim em áreas esparsas e em pequenos grupos.

Dóceis, os peixes-bois (tanto marinhos quanto amazônicos) são presas fáceis; alimentam-se de capim nos manguezais e algas. Segundo veterinários, esses animais têm um papel importante na natureza, integrando a cadeia alimentar. Suas fezes servem de comida para outros peixes, que, por sua vez, atraem as espécies maiores.
Como são animais de grande porte, cortam as folhas dos manguezais, que atiradas em pequenos pedaços à água servem também de alimentos para outros animais.