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Para biodiesel, pinhão manso

GOVERNADOR VALADARES – Esta cidade, no Vale do Rio Doce, poderá produzir pinhão manso para a fabricação de biodiesel. A pesquisa está sendo feita pelo engenheiro agrônomo e aluno de mestrado da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Luís Paulo Patente Tanure, em uma área de cultivo na Cidade dos Meninos, local onde desenvolve o estudo de calagem, adubação e nutrição do pinhão manso. Um dos objetivos é fazer com que o pinhão manso produza ao máximo e com menos custo na adubagem. A primeira etapa será concluída em maio. Por Ana Lúcia Gonçalves, da Sucursal, jornal Hoje em Dia, MG, 30/03/2008.

Segundo o pesquisador, que visitou a área na semana passada, o projeto propõe a avaliação quantitativa das exigências nutricionais, a necessidade de calagem e doses recomendáveis de adubação, nitrogênio, fósforo e potássio do pinhão manso com a finalidade de sua exploração comercial para a produção de biodiesel. A área de cultivo pesquisada tem 204 pés e todas as plantas já apresentam sinais de floração.

A pesquisa está sendo desenvolvida por meio de parceria entre a prefeitura, as universidades Vale do Rio Doce (Univale) e Federal Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo a Pesquisas do Estado de Minas Gerais (FAPMIG).

Para o secretário municipal de Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento, Amauri Pires de Alvarenga, o projeto é muito importante para a região. Empresários de Valadares trabalham na implantação de uma cooperativa para a produção de biodiesel na cidade. Se fala muito na produção do biodiesel e a prefeitura vê que muitos da nossa região também querem investir. Por isso nos sentimos na obrigação de verificar a viabilidade econômica na produção do pinhão manso, planta pouco exigente em nutrientes, clima e topografia , disse o secretário.

Segundo ele, é esperada boa produção de grãos na área experimental para a produção de óleo e ainda que o pinhão manso possa ser uma cultura que atenda os anseios econômicos dos produtores da região. Se ao final da pesquisa a gente concluir que é economicamente viável, a produção vai ser também uma alternativa para fixar o homem no campo , afirma.

O engenheiro agrônomo que faz a pesquisa está no 2º ano de mestrado onde defende a tese Produção vegetal fertilidade do solo sob a nutrição do solo . Paralelo a este projeto, Tanure ainda acompanha mais dois projetos que são desenvolvidos nas cidades de Janaúba e Diamantina.

Uma das vantagens do cultivo do pinhão manso é o fato de ser uma planta nativa da América do Sul e, mais provavelmente, da região Nordeste do Brasil. Segundo os pesquisadores, esta característica faz com que a sua adaptação na região do Vale do Rio Doce tenha grande probabilidade de sucesso, diferente de espécies exóticas trazidas de outros países.

Espécie de fácil desenvolvimento

O pinhão manso é uma espécie arbustiva com características de rusticidade, fazendo com que se adapte e se desenvolva em solos erodidos e de baixa fertilidade como é o caso da região. A informação é de outro pesquisador, o valadarense Alexandre Sylvio Vieira da Costa, graduado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRR), mestre pelo Centro Nacional de Pesquisa em Agrobiologia (Embrapa/UFRR) e doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Segundo Costa, que leciona na Universidade Vale do Rio Doce (Univale), apesar disto, os ensaios de nutrição mineral e adubação da cultura são fundamentais para que a planta possa expressar o máximo da sua capacidade produtiva, pois, economicamente, sua produtividade é fator fundamental no processo de cultivo.

Ele lembra ainda que a planta apresenta um bom desenvolvimento do sistema radicular, o que ajuda na proteção do solo contra a ação dos agentes erosivos, principalmente as chuvas. Porém, à princípio, é uma cultura cultivada em monocultivo, ou seja, sem associação com outras e, como na grande maioria dos monocultivos, os riscos da incidência de erosão dos solos são grandes.

Principalmente se o pinhão manso for cultivado em áreas de acentuado declive e no espaçamento entre plantas sugerido (dois metros x dois metros), o que favoreceria o escorrimento superficial das águas das chuvas , diz. Segundo ele, porém, as pesquisas com o pinhão manso estão apenas na fase inicial e, com certeza, com o tempo, estes problemas serão sanados em função do desenvolvimento de tecnologia de manejo da cultura como os cultivos consorciados, desenvolvimento de novas variedades melhoradas geneticamente e novos sistemas de manejo de plantio como é o caso do espaçamento.

O pesquisador lembra ainda que dentro da nova realidade energética nacional e mundial, o pinhão manso em breve será a grande vedete na produção de biodisesel, reduzindo as taxas de utilização de combustíveis fósseis e altamente poluidores, favorecendo o equilíbrio da emissão de CO2 na atmosfera, por meio da sua reutilização na produção de biomassa vegetal. Embora seja uma planta conhecida e cultivada no continente americano, desde a época pré colombiana, o pinhão manso ainda encontra se em processo de domesticação.