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Artigo

Para mudar o final dessa história, artigo de João Arnaldo Novaes

“Para que a humanidade possa salvar-se da extinção, precisa agora, já quase tarde, eliminar vários vícios e práticas cada vez mais comuns, multiplicadas pela homogenização de estilos de vida e comportamentos inapropriados a quem vive num planeta com recursos naturais finitos”

[ Diário de Pernambuco] O novo estudo sobre o clima mundial, recentemente apresentado pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), trouxe consigo previsões científicas alarmantes. Parecem inevitáveis as conseqüências geradas pelo uso indiscriminado dos recursos naturais do planeta terra.

Dessa vez, uma das mais importantes espécies biológicas do mundo corre o risco de desaparecer em conseqüência da rápida e progressiva destruição do seu habitat natural: o homem.

Somente agora a humanidade começa a tomar consciência da verdadeira situação em que se encontra, quando quase não há mais tempo para revertê-la.

O estudo aponta que até o final deste século as alterações climáticas no planeta farão com que a escassez de água afete entre 1,1 e 3,2 bilhões de pessoas, com um aumento médio de temperatura na ordem de 2 a 4 graus Celsius. Que várias espécies serão extintas, causando graves desequilíbrios na biodiversidade. Que bilhões de pessoas enfrentarão falta de alimentos e que inundações litorâneas deverão tragar outras 7 milhões de casas, entre outros impactos não menos graves.

Nesse momento, é importante observar que os tradicionais modelos de desenvolvimento, estruturados no forte apelo ao consumismo, são os grandes responsáveis pela bárbara destruição que atinge o meio ambiente.

Sua estrutura econômica tem base no colonialismo, voltado essencialmente para garantir a um pequeno número de nações ou grupos sociais o acesso irrestrito e o uso irracional de bens de consumo que têm em comum a mesma origem, a natureza.

Apesar de abrigarem apenas 20% da população mundial, sozinhos os países mais ricos consomem dois terços dos metais e três quartos da energia que se produz no planeta. E agora, após a repercussão do relatório de mudanças climáticas do IPCC, apenas alguns desses países vêm a público propor medidas, ainda que tímidas e pontuais.

As soluções existem e muitas já são conhecidas, aptas paraserem utilizadas sem ameaçar o progresso das nações. Mas que progresso queremos? Que tipo de progresso precisamos? É preciso lembrar que em muitos países o progresso alcançado promoveu fortes desigualdades sociais e verdadeiros desastres ambientais. É essa receita que deve ser trocada.

Estudos da FAO/ONU, estimam que já são produzidos alimentos suficientes para atender toda a população do planeta, portanto, não se justifica a existência da fome, nem que a solução para combatê-la venha apenas com o avanço das fronteiras agrícolas em importantes áreas de reservas florestais já tão reduzidas.

Para que a humanidade possa salvar-se da extinção, precisa agora, já quase tarde, eliminar vários vícios e práticas cada vez mais comuns, multiplicadas pela homogenização de estilos de vida e comportamentos inapropriados a quem vive num planeta com recursos naturais finitos.

As novas relações comerciais devem conduzir a uma ordem econômica global justa, submetida ao desenvolvimento sustentável, neutralizando a emissão dosgases de efeito estufa e sem a destruição da camada de ozônio, das florestas, dos rios… Todos os novos investimentos no mundo devem associar-se ao princípio da sustentabilidade ambiental e da economia solidária.

É preciso transformar o modelo de desenvolvimento predominante. Menos luxo e menos desperdício em alguns países e mais acesso à cidadania e a dignidade para a maioria dos povos. É preciso extinguir as hegemonias econômicas, as desigualdades sociais, a insensatez e o engano.

Agora. Esse é o tempo em que devemos conjugar nosso verbo e nossos esforços. Agora é o tempo da esperança. Caso contrário, não haverá mais tempo para corrigirmos o rumo.

João Arnaldo Novaes é advogado, superintendente do Ibama em Pernambuco e coordenador do Conselho de Superintendentes do Ibama no Nordeste.

Artigo originalmente publicado pelo Diário de Pernambuco, 18/03/2008