EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Nos EUA, novo governo deve rever política ambiental

Hillary e Obama pretendem cortar as emissões em 80% até 2050. Já McCain anunciou redução em 65% das emissões. Matéria de Alan Murray, do The Wall Street Journal, publicada pelo Valor Econômico, 17/03/2008.

As cassandras do aquecimento global acusam o presidente americano, George W. Bush, de fazer um governo baseado na fé e não na ciência. Mas, ao abraçar a luta contra o aquecimento global, o sucessor de Bush é quem terá de ter o maior lampejo de fé.

Todos os três candidatos viáveis à Presidência dos Estados Unidos – os senadores John McCain, Hillary Clinton e Barack Obama – endossaram um sistema de limite e troca de emissões de carbono.

Isso não é só uma reviravolta em relação à política do governo atual; é também o início da maior iniciativa de regulamentação a ser adotada em décadas pelos EUA.

A idéia é a resposta a fortes dados científicos que mostram que as emissões de dióxido de carbono contribuem para o aquecimento da Terra. No entanto, não há ciência que possa prever com exatidão quanta dor vai ser causada na economia como resultado das propostas dos candidatos.

Análise publicada na sexta-feira (14/3) pelo governo americano conclui que as emissões de carbono podem ser reduzidas sem afetar significativamente o crescimento econômico do país ao longo das próximas duas décadas, mas não sem causar fortes altas no preço da energia elétrica e da gasolina.

Os três presidenciáveis prometem reduzir as emissões a um determinado nível. Qualquer um que queira emitir mais do que tal nível teria de comprar permissão de poluição de outro que emita menos. O número total de permissões diminuiria ao longo do tempo. Tanto Hillary Clinton quanto Barack Obama afirmaram que vão cortar as emissões em 80% até o ano 2050. O senador McCain tem um alvo um pouco menor, de 65%. Se essas metas podem ser atingidas sem luxações econômicas horrorosas é questão de conjectura.

Na semana passada, na conferência Eco:nomics, do “Wall Street Journal”, o otimismo era grande. A maioria dos empresários e analistas de política econômica, reunidos durante dois dias em Santa Bárbara, na Califórnia, acreditava que novas tecnologias podem tornar essa tarefa relativamente indolor. Setenta e cinco por cento dos participantes disseram que as metas dos candidatos são “viáveis”; apenas 25% disseram que não.

O consenso era que o sistema de “limites e comércio” traria inovações, no que John Doerr, investidor de capital de risco do Vale do Silício, considerou “a maior oportunidade econômica do século 21”.

Os otimistas podem estar certos. Mas é prudente considerar a possibilidade de eles estarem errados.

Vamos falar claro: um sistema de limite e comércio é de fato apenas um imposto, de tamanho indeterminado, com um nome diferente. Na verdade, ele taxa os emissores de carbono na medida em que for necessário para alcançar a meta de emissões.

Hillary e Obama rejeitaram pedidos de empresas de energia e de outros setores para “alocar” os direitos iniciais de poluir com base no nível atual de emissão da empresa. Em vez disso, eles querem leiloar todos os direitos de poluição e fazer com que os piores poluidores paguem muito mais só para continuarem funcionando. O republicano McCain não é tão claro sobre esse ponto.

O diretor-presidente da Duke Energy, James Rogers, que foi um dos primeiros no seu setor a apoiar leis de limites e comércio, reclamou que, para uma empresa movida a carvão, como a dele, o leilão seria o equivalente a começar nu um jogo de pôquer onde quem perde vai tirando a roupa.

No fim, é claro, o consumidor vai pagar essa conta, já que as empresas repassam os custos. O resultado pode ser mais uma carga pesada em cima de quem já sente a dor de salários estagnados e do aumento do petróleo.

Por enquanto, essa dor pode parecer muito hipotética para a maioria dos eleitores. Eles estão dispostos a aplaudir os candidatos que levem o aquecimento global a sério. Ao mesmo tempo, os candidatos querem usar os bilhões de dólares que esperam arrecadar com o leilão de permissões para financiar, hipoteticamente, outras custosas propostas de campanha.

É um truque limpo, mas provavelmente não prudente. Todo dinheiro obtido com o leilão de direitos de emissão tem de ser investido em soluções do problema de energia, para estimular a pesquisa básica e diminuir as conseqüências de desemprego e prejuízo aos consumidores.

Existe alternativa para o que os candidatos estão propondo? Se você acredita que o futuro da Terra está seriamente em perigo, provavelmente não. Com certeza o status quo não é muito satisfatório, já que as emissões de dióxido de carbono continuam crescendo em níveis surpreendentes.

Na conferência, o diretor-presidente da General Electric, Jeff Immelt, disse que a atual política do governo americano, com subsídios sem foco e políticas estaduais e federal contraditórias, é um “certo tipo de inferno”. Outros participantes compartilharam esse sentimento dele.

Mas agora, com um possível limite para as emissões, provavelmente será a hora de cada um ser mais honesto sobre seus custos e riscos para a economia. Jason Grumet, conselheiro de Obama, chegou mais perto disso quando disse aos participantes: “Isso vai exigir um tipo de compromisso social que não vemos neste país desde a Segunda Guerra Mundial.”