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Atingidos por barragens afirmam que país já tem represas suficientes

O número de barragens construídas no Brasil não só é suficiente para abastecer todo o país como poderia ainda ajudar a suprir a necessidade de energia elétrica em países vizinhos. A avaliação é do coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Andre Sartori. Em entrevista à Agência Brasil, ele falou sobre a “complicada” relação entre as empresas – sobretudo internacionais – que investem na criação de barragens e os danos sociais e ambientais gerados pela construção de hidrelétricas. Matéria de Paula Laboissière, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 15/03/2008.

“Não precisa mais construir barragens no Brasil. Não somos contra a energia elétrica, contra o desenvolvimento ou contra o progresso. É uma destruição total, unicamente para atender o interesse de grandes grupos econômicos que, a cada ano, vêm batendo recordes em seus lucros à custa da exploração dos bens naturais e das pessoas que sobrevivem nessas regiões”, disse hoje (14) Sartori, no Dia Mundial de Luta Contra as Barragens.

Segundo o MAB, o Brasil possui uma demanda de energia elétrica de 50 mil megawatts, mas a potência instalada no país hoje é de mais de 90 mil megawatts, o que permite uma geração assegurada de 57 mil megawatts. Outros dados revelam que sete em cada dez famílias atingidas pelo impacto da construção de uma barragem não têm seus direitos atendidos.

Atualmente, de acordo com o movimento, existem mais de 2 mil barragens no país, algumas já desativadas. Só no estado de Minas Gerais, são 325 hidrelétricas. Desde a década de 70, quando a construção de hidrelétricas no país foi intensificada, o MAB calcula que mais de um milhão de pessoas foram expulsas de suas terras. Com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a previsão é de que 1.443 novos projetos sejam implementados até 2030, o que deverá atingir cerca de 800 mil famílias.

Os números levaram a entidade, em parceria com a Via Campesina, a promover ações de protesto em nove localidades brasileiras. A mobilização começou na última segunda-feira (10) e deve ser intensificada hoje.

“O dia é de luta, de protestos, não é de comemoração. É de jogar para a sociedade o absurdo dos problemas que acontecem com a construção de hidrelétricas no mundo inteiro. São atos e mobilizações para continuar esse processo de denúncia.”

Dentre as empresas consideradas mais “problemáticas”, Sartori destaca a Tractebel Energia e a Vale do Rio Doce. Para ele, são alarmantes questões como as “más indenizações”, famílias que sobrevivem da terra e que, com a construção da barragem, não são reassentadas, e comunidades inviabilizadas pelo “prometido progresso” por parte das empresas, que, segundo ele, nem sempre chega à região.

“Por todos os lugares que passam [as barragens] causam destruição do ponto de vista social e ambiental, que não tem mais como rever ou mitigar. É pregado todo um discurso de que vai desenvolver e progredir a região, o que não é verdade. Não tem desenvolvimento e não gera emprego local, apenas alguns poucos empregos temporários, porque geralmente a região não tem mão-de-obra qualificada.”

Ele destaca que, com a privatização do setor elétrico, as barragens são construídas rapidamente – em um prazo de três a quatro anos –, mas que a energia gerada não serve para atender o Brasil e sim ao consumo das próprias empresas.

“O que sobra é vendido a preço de ouro para nós. Pagamos uma das maiores tarifas do mundo [de energia elétrica]. A energia não é tão cara quando comparada ao petróleo. Tem casos que chegamos a pagar 20 vezes mais que as empresas. Não somos contra a energia elétrica. Queremos discutir para que e para quem. Sabemos que tem energia sobrando.”