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ONU ataca etanol de países ricos

Expansão pode aumentar a fome no mundo, exceto no caso do Brasil – Pressionada pelo Brasil, a ONU revê sua avaliação sobre os impactos dos biocombustíveis. Ontem, o relator das Nações Unidas para o direito à alimentação, Jean Ziegler, atacou a expansão do etanol no mundo, alertando que a produção tem tudo para gerar mais fome e pediu uma moratória de 5 anos na fabricação de biocombustíveis nos Estados Unidos e Europa. Mas fez uma ressalva: o caso da produção brasileira não tem os mesmos efeitos negativos que o etanol produzido nos países ricos. Por Jamil Chade, GENEBRA, do O Estado de S.Paulo, 12/03/2008.

“A produção de biocombustíveis no Brasil respeita o direito à alimentação e está promovendo uma ajuda aos pequenos agricultores marginalizados a sair da pobreza”, disse o relator da ONU ao Conselho de Direitos Humanos da organização.

Fontes nas Nações Unidas disseram que a decisão do relator de elogiar o Brasil teria sido resultado de um entendimento: ele deixaria de criticar o governo pela questão do etanol e, assim, o País estaria mais à vontade para apoiar sua candidatura a membro do órgão consultivo de direitos humanos.

Isso porque, em seu documento preparado há dois meses para o debate de ontem, Ziegler não poupava críticas ao etanol brasileiro e chegou a usar dados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) para denunciar “condições de escravidão” na produção de cana. Segundo o relatório, o biocombustível poderia agravar a fome no mundo, que já atinge 854 milhões de pessoas. Apesar de destacar os avanços para lidar com a má nutrição no Brasil, China e Índia, os números atuais seriam maiores que os de 1996, quando havia 800 milhões de pessoas passando fome. “A cada ano, 6 milhões de crianças morrem de doenças ligadas à fome. Isso é inaceitável. O mundo nunca foi tão rico”, afirmou Ziegler no relatório.

O documento deixava claro que a expansão do etanol “poderia ter impacto sobre o emprego e condições de trabalho” no Brasil. “Apesar de o aumento da produção de biocombustíveis poder oferecer melhoria no emprego, o MST já protesta contra as condições de escravidão que enfrentam trabalhadores em algumas plantações de cana do País”, afirmava o documento. O governo brasileiro protestou de forma enérgica.

REVIRAVOLTA

Ontem, porém, Ziegler amenizou as críticas ao País. “A situação do Brasil é diferente da americana e européia”, afirmou. “Em primeiro lugar, o Brasil não está queimando milho, mas cana. Em segundo lugar, o programa de etanol do País tem um forte componente social. Está beneficiando aqueles que estavam marginalizados”, afirmou, lembrando que os programas estão permitindo que os pequenos produtos de mamona, babaçu e dendê consigam vender seus produtos. “Essas iniciativas estão dando pela primeira vez uma renda digna aos pequenos agricultores.”

Ele ainda elogiou os programas de etanol da Petrobrás e do PRONAF, além de destacar a cooperação do Brasil com países latino-americanos e africanos para desenvolvimento do etanol.