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Pesquisa: Cuidado com o meio ambiente é reprovado. Pesquisados dão nota alta a si mesmos, mas baixa a compatriotas

BRASÍLIA. O brasileiro se diz preocupado com o meio ambiente e reprova os compatriotas quando se trata de cuidado com a natureza. Ao avaliar o próprio compromisso com a preservação do verde, os participantes da pesquisa atribuíram a si mesmos a generosa média de 8,5. Na hora de julgar os outros, a nota foi bem mais baixa: 5,5. Militante do movimento ecológico desde o fim da década de 70, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, afirma que a consciência ambiental do brasileiro cresceu rapidamente nos últimos anos. No entanto, adverte que o país precisa ajustar o discurso à prática. O Globo, 09/03/2008.

— O brasileiro tem uma visão progressista da agenda ambiental, mas há uma distância entre a consciência para o problema e as ações para resolvê-lo.

Para Capobianco, a diferença entre as notas médias demonstra um sentimento de decepção com notícias negativas sobre a poluição de rios e lagoas, a extinção de espécies selvagens e o desmatamento da Amazônia. O brasileiro não veria seu esforço de preservação se refletir em resultados concretos.

Preocupação é limitada à flora e à fauna, diz pesquisadora A coordenadora do núcleo de meio ambiente do Instituto de Estudos da Religião (Iser), Samyra Crespo, traça um diagnóstico mais pessimista.

— As pessoas estão livrando a própria cara e atribuindo a responsabilidade ao outro. Nossa preocupação com o meio ambiente é muito limitada à fauna e à flora. Ignoramos a necessidade de mudar o comportamento nas cidades, economizando água e selecionando o lixo — critica a cientista social, que estuda a consciência ambiental dos brasileiros há 17 anos.

Para testar a influência das convicções ecológicas no cotidiano, os pesquisadores do Ibope propuseram a seguinte questão: “Você finalmente conseguiu comprar um terreno e ter dinheiro para construir a casa de seus sonhos. Só que bem no meio do terreno existe uma grande e antiga árvore”. Mais uma vez, o discurso ambientalmente correto dominou as respostas: 58% das pessoas disseram que mudariam o projeto da casa, enquanto 39% admitiram que cortariam a árvore e 3% não opinaram. A pesquisadora do Iser duvida da sinceridade dos entrevistados. Capobianco diz acreditar, mas com ressalvas.

Iniciativas que dependem da cooperação entre o Estado e a sociedade civil, como a reciclagem, ainda apresentam resultados tímidos. O país reaproveita apenas 12% do lixo urbano, segundo a ONG Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). O diretor da entidade, André Vilhena, diz que o resultado se deve mais ao interesse financeiro dos catadores do que à mobilização de famílias e empresas.