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Comissão do Senado quer investigar conflito entre camponeses e militares no Rio Grande do Sul

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado deve realizar uma audiência pública para discutir o confronto que ocorreu no Rio Grande do Sul na última terça-feira (4) entre mulheres que faziam manifestação contra a compra de terras pela empresa Stora Enzo e a Brigada Militar do estado. Matéria de Ana Luiza Zenker, da Agência Brasil, publicada pelo Ecodebate, 08/03/2008.

“O senador Paulo Paim [PT-RS, presidente da CDH] inclusive está propondo que nós possamos nos deslocar o mais rápido possível como comissão para o Rio Grande do Sul”, afirmou a presidente da Subcomissão Permanente de Defesa da Mulher, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Durante a audiência que debateu a participação das mulheres nos espaços de poder, realizada hoje (6), representantes da Via Campesina levaram uma das mulheres que participou da manifestação para dar o seu depoimento.

“Já considero esta a primeira atividade de acompanhamento de situações de violência e de discriminação contra as mulheres, as suas organizações e a sua luta”, disse Ideli, durante a sessão.

Segundo a camponesa Maraísa Talaska Porto, na terça-feira, cerca de 900 mulheres e 250 crianças ocuparam a área de uma fazenda comprada pela empresa multinacional Stora Enzo. A reivindicação das manifestantes era que a compra fosse anulada e as terras destinadas à reforma agrária. De acordo com ela, a compra não é permitida pela Constituição, já que a empresa é estrangeira e o município onde está a fazenda fica numa faixa de fronteira.

“Quando teve o confronto com a Brigada Militar, que realmente agrediu, não teve conversa nenhuma, feriram muitas companheiras”, afirmou Maraísa, que mostrou os ferimentos na barriga.

“Foi por volta das 16h, 17h que a Brigada invadiu, agrediu todas as companheiras que estavam lá”, disse. De acordo com a ativista, cerca de 50 mulheres foram para o hospital feridas. Ela contou ainda que, das 18h às 24h, as mulheres ficaram em um ônibus, sem água, comida ou pertences pessoais, “somente com a roupa do corpo e alguns documentos”.

Além de agressão física, a jovem diz que o grupo também sofreu violência psicológica. “É muito difícil para uma mãe escutar de um soldado que o filho dela não vale nada e que o cachorro dele, o cavalo dele valem muito mais do que as crianças que estavam ali”, afirmou.

Maraísa se disse indignada com o acontecido. “É inadmissível que o estado do Rio Grande do Sul tenha tanta devoção pelo capital e nenhum respeito pela dignidade do ser humano”.