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Comentários de Henrique Cortez sobre a matéria: Lula minimiza trabalho degradante no país

Não é a primeira vez que o presidente minimiza as péssimas condições de trabalho nos canaviais ou que qualifica os usineiros como “heróis”. Mas é hipócrita comparar as condições de trabalho nas minas de carvão no século XIX com o trabalho escravo e/ou degradante nos canaviais brasileiros em pleno século XXI.

O presidente é reincidente neste tipo de comparação despropositada, o que demonstra não ser uma mera bravata ou mais um “escorregão” no improviso. É uma defesa consciente da exploração do trabalho degradante, das péssimas condições de trabalho dos cortadores de cana-de-açúcar e da gananciosa exploração de trabalhadores em “prol” das exportações.

Esta hipocrisia talvez explique o fato de que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que prevê a expropriação de terras onde for constatada exploração de trabalhadores em condições análogas às de escravidão, está pendente de uma única e última votação no plenário da Câmara desde 2003, coincidentemente desde o primeiro ano do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio da Silva. Mais hipócrita ainda, se considerarmos que o governo possui sólida maioria na Câmara dos Deputados, demonstrando que a PEC não foi votada e aprovada porque o presidente não quis.

Aos poucos percebemos a consistência dos enfrentamentos aos movimentos sociais pela transposição do rio São Francisco, pelas usinas no rio Madeira, pela incondicional “solidariedade” aos sojicultores e pecuaristas diante do desmatamento, pela defesa privatização das águas da União, etc.

Este surto de hipocrisia também explica a ojeriza aos sem terra, índios, quilombolas, atingidos por barragens, ambientalistas, o Ministério Público, o judiciário, a imprensa, os movimentos sociais e populares e todos os que ousar cometer a “blasfêmia” de discordar deste equivocado modelo de desenvolvimento, tão ao gosto do messianismo lulista.

Há quem recrimine o PT, por ter abandonado um projeto de país em troca de um fugaz projeto de poder, abandonando os compromissos e os aliados históricos, mas esta não é uma acusação justa.

O PT é apenas mais um do vários partidos da base governista. É um partido do governo, mas não é o partido no governo. O verdadeiro partido no governo é o PMDB, com poderosa base de apoio na bancada ruralista.

O PMDB está no governo desde 1985 e continuará o partido no governo, quem quer que sejam os próximos presidentes. Por outro lado, o PT, cedo ou tarde, terá que prestar contas de suas ações e omissões para com seus militantes e os movimentos sociais.

Do pragmatismo de governar ao cinismo é um passo muito pequeno, como é claramente visível nas declarações do presidente.

Aos que se sentem tão traídos quanto nós, sugerimos que leiam o artigo “Brasil, um país de todos?” de Wilson Aparecido Lopes, in http://blog.ecodebate.com.br/2008/03/03/brasil-um-pais-de-todos-artigo-de-wilson-aparecido-lopes/

De qualquer forma, nem todos se tornaram cínicos e/ou hipócritas e a estes lembramos que um outro Brasil é possível e necessário, com transformações que dependem de cada cidadão e da sociedade civil organizada.

Vamos à luta.

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate

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