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Notícia

madeira ilegal: Mais de 500 caminhões de madeira já cortada na Tailândia da Amazônia

déia é fazer doer no bolso de infratores com apreensão de equipamentos caros

TAILÂNDIA (PA). Ocupada por centenas de fiscais do Ibama e da Secretaria de Meio Ambiente do Pará e por policiais militares na última semana, Tailândia da Floresta Amazônica, município com pouco mais de 50 mil habitantes, teve sua rotina transformada pela Operação Guardiões da Amazônia. Os fiscais do Ibama e da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará (Sema) apreenderam mais de 15 mil metros cúbicos de madeira ilegal — o equivalente a mais de 500 caminhões carregados —, destruíram 130 fornos de carvão clandestinos e aplicaram mais de R$ 2 milhões em multas. Por Ronaldo Brasiliense, para o O Globo, 17/02/2008.

Numa única madeireira, a Taiplac (Tailândia Lâmina e Placa Ltda), foram aprendidos mais de 5,2 mil metros cúbicos de madeira cortada ilegalmente.

Em outra, a Serraria Primavera Ltda, foram descobertos 2,5 mil metros cúbicos de toras, além de 90 metros cúbicos de madeira serrada. A madeira foi apreendida em serrarias localizadas no Centro da cidade, onde as toras ficavam à mostra, sem disfarce.

A primeira Operação Guardiões da Amazônia — outras 119 serão realizadas até o fim do ano — não flagrou desmatamento recente. O presidente do Ibama, Bazileu Alves Neto, reconheceu a real intenção da operação: causar grandes prejuízos aos madeireiros da região com o confisco da madeira e apreensão de equipamentos.

— Os pátios das madeireiras estão lotados de madeira ilegal. Vamos atrás deles — resumiu Bazileu.

Tailândia cresceu no ritmo das motosserras O diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, que como diretor da organização não-governamental Greenpeace comandou ações espetaculares contra serrarias na Amazônia, antes de pular para o lado do balcão governista, bate na mesma tecla. Para Montiel, uma das estratégias para causar danos aos madeireiros é a apreensão de equipamentos caros, como tratores e caminhões, evitando judicialmente que esse material volte às mãos dos infratores em curto prazo.

Outro alvo da operação foram os fornos para produção de carvão vegetal a partir das sobras das madeireiras. Foram destruídos 130 fornos, que operavam sem licença ambiental.

— Os fornos foram localizados na área rural de Tailândia, em estradas de difícil acesso.

Toda a produção de carvão seria negociada de forma clandestina — diz o tenente-coronel Luís Cleber Barbosa, coordenador da PM na operação.

Os fiscais da secretaria de Meio Ambiente, que lavraram as autuações contra os carvoeiros, tomaram depoimentos em que os trabalhadores dos fornos apontavam siderúrgicas de ferro gusa de Marabá como financiadoras das carvoarias.

Às margens da rodovia PA150, a 235 quilômetros de Belém, Tailândia cresceu e se multiplicou graças aos incentivos fiscais da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) a projetos agropecuários e madeireiros. A colonização chegou a essa região trazida pela pata do boi e pelo ritmo frenético das motosserras.

Tailândia perdeu grande parte da cobertura florestal, principalmente espécimes nobres como angelim, cedro e maçaranduba, e acabou virando ponto estratégico para a desova da madeira ilegal retirada de outros municípios do Sul/Sudeste do Pará, inclusive terras indígenas e unidades de conservação.

Tailândia tem aparecido mais na mídia pelo alto índice de violência que pelos crimes ambientais que ocorrem em seu território.

O município surgiu como o mais violento do Pará e o sexto do país em relação ao número de homicídios por habitante.

Montiel, diz que a fiscalização obteve alguns avanços. Só em 2007 foram aplicadas 5.700 multas que, somadas, totalizaram mais de R$ 1,4 bilhão. Também em 2007, foram apreendidos mais de 228 mil metros cúbicos de madeira, 202 motosserras, 665 caminhões, 54 tratores e 51 armas de fogo.

Mas, na prática, dificilmente se conseguirá ver o dinheiro das multas. Segundo levantamento da organização não-governamental Amigos da Terra, das multas aplicadas em 2006 (mais de R$ 700 milhões), apenas 0,6% entrou nos cofres públicos.

— Os infratores recorrem à Justiça e, na maioria das vezes, não pagam nada — constata Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra.

Corte de crédito oficial é o próximo passo O pesquisador Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), afirma que operações do tipo da Guardiões da Amazônia somente conseguirão atingir seus objetivos se o governo conseguir fazer cumprir o decreto 6.321/2007, que, além de impor sanções aos 36 municípios que mais desmataram na Amazônia, restringirá crédito oficial para madeireiros que comprovadamente destroem a floresta e que terão seus nomes divulgados.

— O crédito obtido pelos madeireiros no Banco do Brasil, no Banco da Amazônia e na Caixa Econômica Federal acaba contribuindo para aumentar os desmatamentos.

É preciso fechar a torneira do crédito oficial e atingir os infratores na parte que mais dói, o bolso.