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Artigo

Baixo Parnaíba: Que razão governa este mundo? artigo de Mayron Régis

[Fórum On Line] Que razão governa este mundo de tais formas – muda, involuntária, desatenta e esmagadora – que se saiba infinitamente pouco a respeito do florescer descomposto e enigmático do Cerrado leste maranhense? Haveria alguma prenda que absolvesse quem negligencia as áreas de brota e rebrota de bacurizeiros nas chapadas dos Remédios, Caboclos e da Santa Fé – município de Chapadinha – bacia do rio Munim – Baixo Parnaíba maranhense?

Contradiz a própria natureza da razão que ela governe este mundo e que ela sirva aos intentos de quem se arvora seu dono, pois para comprovar a razão necessitaria de um diálogo entre duas ou mais pessoas e que esse diálogo matraqueasse bem mais do que as beatitudes do mundo moderno resultantes dos avanços científicos.

Notoriamente, os que advogam o uso da razão com a finalidade de estancar quaisquer discussões mais acaloradas são os mesmos que a ruborizam com suas provas e contraprovas arcaicas do que postulam.

No mais, o artificioso “uso da razão” em contenciosos acoberta interesses oblíquos, como resplandece em julgamentos de liminares em que uma das partes é o Estado ou uma grande empresa – nessas horas o bem público vem a baila. Quantos milhares de vezes juízes ou desembargadores acataram liminares em que a razão mais acachapante seria o bem público? Ou seriam os bens do Estado?

Qualificar uma atividade produtiva como negativa do ponto de vista sócio-ambiental é menos ou mais racional do que multá-la e permitir o seu funcionamento? As áreas urbanas pesam os impactos de um empreendimento mais pelo lado econômico, mas as áreas rurais, onde se concentra a biodiversidade, estimam os impactos por outras ordens de grandeza que descabem na razão que governa este mundo.

Invariavelmente, os impactos de empreendimentos nas áreas rurais afrouxam toda uma ordem social que se temperou à sombra das fazendas de gado – é boa a referência a tempero porque a ordem social quase feudal dessas regiões serviu para que a agricultura familiar dedicasse a totalidade do seu tempo agrícola para cultivar as culturas que alimentassem as suas famílias e aí ferve-se arroz e feijão como pratos principais e pedaço de carne de gado ou de porco para complementar – o proprietário rural tributava parte dos cultivos, em compensação, os agricultores enchiam suas vasilhas de leite e de carne de gado.

A grande propriedade rural e a agricultura familiar, dentro do possível, se aclimataram entre si e com o e por dentro do bioma Cerrado leste e sul maranhenses. Vegetando social e economicamente, as grandes extensões de terra e as comunidades rurais avalizavam os projetos políticos de uma família ou de outra nas suas cidades e no estado do Maranhão, se bem que, com a crise de energia do começo dos anos setenta, o Estado brasileiro foi obrigado a estratificar esse clima que proliferava pelo Brasil para agraciar a dinâmica econômica mundial com áreas para plantios de soja, bambu e eucalipto. De carona vieram os grandes grupos econômicos : Grupo João Santos palitando mais de 250 mil hectares nos municípios de Coelho Neto, Duque Bacelar, Buriti de Inácia Vaz, Mata Roma e Chapadinha em projetos de cana de açúcar e bambu e o grupo Margusa/Marflora que arrebatou mais de setenta mil hectares nos municípios de Santa Quitéria, Urbano Santos, Anapurus, São Bernardo, Mata Roma, Bela Água, São Benedito do Rio Preto e Santana do Maranhão em projetos de manejo florestal ou, mal que se diga, desmatamento de espécies do Cerrado para queima em baterias de carvão vegetal.

Os governantes orientam os ataques ao Cerrado para que se adiantem os minutos dos plantios de monoculturas de soja, eucalipto e cana e da queima do carvão vegetal nas siderurgias e os negligentes autorizam as licenças para que as interrupções se abreviem o máximo possível para que festejem mais o sem sabor dos empreendimentos. Por qualquer lado que trafegue, uma linha de inferência concluiria que governar e negligenciar nos termos da razão que governa este mundo desorientam quem observa o mundo com outra razão como no caso recente da licença da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Maranhão para que um sojicultor desmate novecentos hectares de chapada entre os municípios de Chapadinha e Afonso Cunha. Certos da orientação da SEMA e do IBAMA de que o desmatamento está regular quem se aventuraria pela chapada apenas para ver o serviço da terceirizada da Margusa arrancando os bacurizeiros e os pequizeiros e entupindo os fornos? O aperfeiçoamento do trabalho de investigação serviu pra ver que a chapada do Sangue – chapada dos Remédios, dos Caboclos e da Santa Fé – está quase intacta do ponto de vista ambiental, que várias pessoas abastecem suas moradas com os bacuris que caem maduros para vender por R$16,00 o cento, que é uma área em conflito e que pode ser viabilizada uma reserva extrativista como aconteceu na Chapada Limpa. Na área de desmatamento, serviu para anotar que os trabalhadores braçais da terceirizada da Margusa param o serviço apenas quando recebem seus proventos, trabalhando sábado e domingo; quanto a carteira assinada, a empresa assina, mas assalaria por produção.

Mayron Régis, jornalista
Esse texto faz parte do projeto Chapada Limpa, financiado pelo Casa (Centro de Apoio Sócio-Ambiental).

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