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Carvão vegetal para siderurgia ameaça o Pantanal, diz FGV. Governo de MS descarta risco ambiental

Depois de parte do cerrado sul-mato-grossense ter caído, a pressão agora, devido ao aquecimento da atividade siderúrgica no município de Corumbá, deverá crescer sobre o pantanal. Cálculos do CES (Centro de Estudos em Sustentabilidade) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apontam um desequilíbrio entre a oferta de florestas plantadas no Estado e a demanda por carvão vegetal. Por Eduardo Geraque, da Folha de S.Paulo, publicado pela Folha Online, 09/02/2008 – 12h49.

“De forma bem otimista, 5.000 hectares ao ano estão prontos para o corte, para uma demanda de 9.000 hectares”, afirma à Folha o pesquisador André Carvalho, 33, autor do estudo feito pelo CES sob encomenda da ONG Conservação Internacional.

Nascido em Campo Grande, Carvalho conhece a realidade da região. “Como faltam 4.000 hectares, haverá uma pressão [anual] sobre cerca de 40 mil hectares, porque a produtividade das áreas plantadas é cerca de dez vezes maior do que a das áreas nativas.”

E, quando se considera a atividade ao longo das próximas décadas, fica ainda mais difícil fazer a conta fechar. “Com base nos planos de expansão das empresas, a partir de 2015, a demanda por carvão deverá chegar a 2,4 milhões de toneladas ou 56 mil hectares”, diz Carvalho. Mas, como o ciclo de vida do eucalipto tem sete anos, a área total de matéria-prima precisaria ter 392 mil hectares até lá.

Além da Vale do Rio Doce, que extrai minério de ferro na região desde 1995, o grupo MMX/EBX, do empresário Eike Batista, e a anglo-australiana Rio Tinto têm planos ambiciosos para o pólo siderúrgico de Corumbá, criado em 2006.

A MMX/EBX, que já opera na região, teve problemas com o Ibama no ano passado. A empresa recebeu uma multa de R$ 1 milhão.

A estimativa de Carvalho é que a produção atual de 6,7 milhões de toneladas de minério de ferro vá pular para 23 milhões de toneladas a partir de 2013. A Rio Tinto é a única que ainda espera por licença ambiental para agir na região.

Conexão Minas Gerais

Se as siderúrgicas que chegam à Bacia do alto rio Paraguai não podem ser responsabilizadas pela devastação passada do cerrado, parte do setor, segundo Carvalho, poderia.

Entre 1997 e 2005, mais de 5 milhões de hectares de áreas nativas foram consumidas, mostra o estudo. Deste total, aproximadamente 4 milhões de hectares foram para as siderúrgicas de Minas Gerais.

Para Carvalho, cabe agora ao Estado optar por um caminho sustentável para Corumbá.

“O ideal seria usar as áreas já devastadas para o plantio de eucalipto”. Nos cálculos de Carvalho, o ganho socioambiental com uma cadeia florestal instalada na região seria grande. “Se for respeitada a demanda total do pólo por carvão vegetal até 2015, poderiam ser criados 28 mil empregos diretos”. O pólo em si, deverá contratar, no máximo, 10 mil pessoas até 2013. “Depois do fim da construção, o número de vagas deve cair para 7 mil”.

Governo de MS descarta risco ambiental

O secretário-adjunto de Meio Ambiente Cidades, Planejamento e Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul, Márcio Monteiro, afastou temores de que a busca de carvão para as siderúrgicas vá pressionar o Pantanal. “Existe todo um cuidado com relação ao Pantanal e o Estado não fornece autorizações para novos desmatamentos em alguns municípios”, afirmou. Da Folha Online, 09/02/2008 – 12h50

Segundo Monteiro, o Estado está licenciando diversas áreas para atender a demanda de Corumbá. “Posso dizer que a área plantada é significativa”, afirmou o secretário -que disse, no entanto, não ter dados específicos à mão.

Eike Batista

A empresa MMX, que atua no pólo siderúrgico de Corumbá, afirma que não utiliza carvão de origem irregular ou proveniente do Pantanal, a menos que tenha a concessão dos órgãos ambientais.

“A empresa só efetua a compra de carvão vegetal ou outros subprodutos florestais que detenham o DOF (documento de origem florestal, emitido pelo Ibama)”, disse em comunicado a MMX, do grupo EBX, do empresário Eike Batista.

No ano passado, a EBX recebeu uma multa de R$ 1 milhão por comprar carvão vegetal de uma empresa que operava ilegalmente. Além disso, por várias vezes, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul tentou barrar as obras da siderúrgica da EBX, que deveria ter sido construída na Bolívia – o grupo foi expulso do país pelo governo Evo Morales.

A Rio Tinto, procurada também pela reportagem, limitou-se dizer que vai recorrer ao carvão mineral em suas novas plantas, mas não informou como será feita essa operação.