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O aquecimento do planeta produz crescente desertificação dos oceanos

Em dez anos, os “desertos” oceânicos ganharam 6,6 milhões de km2. O dado faz parte de um estudo que utilizou imagens de satélite para realizar um mapeamento atualizado da progressão dos “desertos” marítimos. A desertificação dos oceanos terá um impacto sobre os recursos pesqueiros, mas também sobre a capacidade dos oceanos de absorver o dióxido de carbono (CO2), observa o estudo.

Segue na íntegra matéria de Stéphane Foucart publicada no Le Monde, 05-02-2008. A tradução é do Cepat.

Em terra firme, os desertos podem ser vistos a olho nu. No mar, o problema é completamente outro: faz-se necessário ter a ajuda de um satélite capaz de ver a “cor” do oceano. Utilizando imagens do SeaWiFS (Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor), em órbita desde 1997, os oceanógrafos coordenados por Jeffrey Polovina (National Oceanic and Atmospheric Administration, NOAA) mapearam os grandes desertos oceânicos e, sobretudo, chegaram a determinar a evolução nos últimos dez anos.

Seus trabalhos, que irão aparecer na revista Geophysical Research Letters (FRL), mostram uma progressão rápida das zonas biologicamente menos ativas. Desde 1998, esses “desertos” ganharam cerca de 6,6 milhões de km2, ou seja, doze vezes a superfície da França metropolitana. Sob a influência da mudança climática em curso, a expansão das zonas estéreis do oceano está prevista em teoria. Mas a cadência observada é “consideravelmente superior às previsões dos modelos recentes”, escrevem os pesquisadores.

No mar como sobre as terras imersas, o deserto é um espaço privado de vegetais fotossintéticos. Os pesquisadores mapearam as zonas em que a quantidade de clorofila – portanto, de micro-algas – é muito baixa. A superfície dessas zonas aumenta em quatro bacias: Atlântico norte e sul, Pacífico norte e sul. O Atlântico norte é o mais afetado com um crescimento médio de seus desertos de 8,3% por ano. O Oceano Índico parece relativamente poupado.

Como se explica esse fenômeno? Os pesquisadores chegaram a isso relacionando a temperatura das águas da superfície. Quanto mais aumenta, menor é a atividade fotossintética: quando os leitos superiores do oceano – aqueles que se beneficiam da luz do sol – são mais quentes, elas tendem menos a se misturar com as águas profundas, que são frias.

Ora, essa mistura é necessária para o crescimento do plâncton vegetal porque são as águas profundas que, levadas pelas correntes marinhas, levam à superfície os nutrientes indispensáveis para o crescimento do fitoplâncton. Outros fenômenos também podem ser invocados, como o afrouxamento das correntes marinhas, dado ao afluxo de água doce nas latitudes médias e altas.

As principais explicações levam à mudança climática em curso. “É ainda impossível afirmar que a tendência que observamos nos últimos dez anos se deve integralmente ao aquecimento climático, nem que ela vai continuar no futuro”, precisa Mélanie Abécassis (Universidade do Havaí, Honolulu), co-autora desses trabalhos. Os modelos que simulam o aquecimento global prevêem uma expansão dos desertos oceânicos “dez a vinte vezes menos rápido que aqueles mostrados pelas observações”, acrescenta.

Duas conclusões são, pois, possíveis: ou os modelos subestimam consideravelmente os efeitos da mudança climática sobre a biologia marinha; ou uma parte do fenômeno provém de outros fatores. É possível que a recente expansão seja, ao menos em parte, causada por ciclos decenais ainda não descritos pelos cientistas. Entretanto, um índice justifica uma solução ligada principalmente ao aquecimento. “As bacias sujeitas a um empobrecimento de suas águas são todos os quatro submetidos a pressões (isto é, a restrições externas) diferentes, portanto parecem seguir a mesma tendência”, observa Mélanie Abécassis.

Resolver a questão tem certa importância: a desertificação dos oceanos terá um impacto sobre os recursos haliêuticos, mas também sobre a capacidade dos oceanos de absorver o dióxido de carbono (CO2). Ao continuarem, as micro-algas captam quantidades consideráveis de CO2 atmosférico.

Seu rápido declínio poderia, portanto, levar os climatologistas a reverem para cima suas previsões de aumento da temperatura média para o fim do século.

(www.ecodebate.com.br) matéria publicada pelo IHU On-line, 08/02/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]