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Ministro da Agricultura questiona dados do Inpe sobre desmatamento

Ao mesmo tempo em que a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) desafiava produtores agrícolas a declararem uma moratória total à derrubada de árvores na Amazônia, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) lançou dúvidas sobre os dados de aumento do desmatamento divulgados na quarta-feira (23). Esses movimentos mostram que se tornaram mais intensas ontem as divergências no governo sobre as causas da devastação. Por Marta Salomon, da Folha de S.Paulo, publicado pela Folha Online, 26/01/2008 – 12h27

Depois de uma reunião que definiu regras para o recadastramento das propriedades nos municípios líderes em desmatamento, Marina Silva lançou a proposta aos produtores: “Acho que deveriam se declarar em moratória e dizer que a partir de hoje não derrubam nenhuma árvore.”

Ao divulgar dados do ritmo acelerado do desmatamento nos últimos cinco meses do ano, a ministra havia apontado a pressão de produtores de soja e gado como uma das possíveis causas do problema. “Vamos sobrevoar as áreas e qualificar in loco as razões do desmatamento, queremos trabalhar com dados da realidade e os três Estados que mais desmataram [Mato Grosso, Pará e Rondônia] têm grande atividade agropecuária”, disse Marina Silva, mantendo a hipótese contestada, no caso da soja, pelo colega da Agricultura.

Ontem, Stephanes lançou dúvidas sobre os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com base nos quais é estimado o abate de 7.000 km2 de florestas entre outubro e dezembro de 2007. De acordo com os registros dos satélites, o Estado do Mato Grosso concentraria mais da metade da devastação.

“Acredito que deve haver problema com os dados sobre o Mato Grosso. Algo não bate: pode não ter havido derrubada”, reagiu Stephanes à Folha. “E, se houve,não foi para o plantio de soja, pode ter sido pela pecuária, mas não quero especular”, completou.

João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, reforçou a hipótese de que o avanço da fronteira agrícola seja a principal causa do desmatamento recente com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Dentro do período em que Stephanes disse que não teria havido expansão do plantio de soja, Capobianco relatou que a área plantada aumentou entre 2003 e 2006 de 4,8 milhões de hectares para 6,5 milhões de hectares só na Amazônia, o equivalente a 40% do crescimento registrado no país. Só em MT, o aumento foi de 1,2 milhão de hectares no período.

O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, disse que o instituto sustenta os dados. “Não seríamos irresponsáveis de fazer esse fuzuê todo [a divulgação dos números] com a presença do Presidente da República se não tivéssemos certeza absoluta.”

Apesar da divergência, o ministro da Agricultura classificou de “excelente” seu relacionamento com a colega do Meio Ambiente. E ressaltou que ambos estão de acordo sobre a possibilidade de o Brasil aumentar a produção agropecuária sem derrubar mais florestas.

“Temos 50 milhões de hectares de pastagem e outros 50 milhões de áreas disponíveis para a agricultura”, estima.