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Verba de programa nuclear não terá corte, avisa Jobim

Os R$ 130 milhões destinados ao programa nuclear brasileiro em 2008 estão garantidos. O empreendimento, considerado estratégico pelo governo, que o associa ao plano de expansão da malha de usinas elétricas, não vai perder recursos em conseqüência do impacto do fim da CPMF. Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, há cinco dias o presidente Lula “reafirmou a garantia de manutenção dos meios para o bom andamento do programa nuclear”. A reportagem é de Roberto Godoy e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 15-01-2008.

O processo envolve o prosseguimento da investigação tecnológica do Centro Aramar, que a Marinha mantém em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo, onde são construídas as ultracentrífugas, máquinas de alta sofisticação destinadas a enriquecer o urânio que serve de combustível para reatores geradores de energia. Na quinta-feira, Jobim e o comandante da Marinha, almirante Júlio Soares de Moura Neto, farão uma apresentação sobre o estágio do projeto para o presidente.

Lula saberá que os cientistas têm prontas duas novas gerações de ultracentrífugas, ao menos 40% mais eficientes que as em uso pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Uma terceira série, em testes de validação, deve estar disponível em 2011 – será 40% mais eficaz que a versão prevista para entrar em uso no segundo semestre. Projeto e construção são nacionais.

O centro cuida também dos planos de criação dos sistemas compactos de propulsão nuclear para um submarino de ataque. Embora tenha sido descartado como prioridade da Marinha em fevereiro de 2006, acabou sendo resgatado em 2007. É objetivo de longo prazo. O tempo previsto para que os técnicos da força naval projetem e construam uma unidade é de 11 anos. Antes disso, será necessário testar e completar um reator PWR (de água pressurizada) de 48 MW. A rigor, o equipamento está pronto.

Em Aramar, as grandes peças de precisão que compõem o conjunto estão armazenadas em ambiente de gás liquefeito para impedir a deterioração. Aguardam a conclusão das obras do Laboratório de Geração Nucleoelétrica, o LabGene. Os prédios estão limitados às fundações. A retomada este ano permitiria a entrada em operação por volta de 2011. Só o reator, desmontado, vale US$ 130 milhões. Expandido, servirá à produção de eletricidade a partir de usinas regionais.

O governo pretende construir oito centrais – duas no Sudeste. O Centro Tecnológico da Marinha (CTMSP) precisa de R$ 1,040 bilhão para completar as etapas estratégicas do empreendimento: ciclo do combustível, geração de energia, propulsão e infra-estrutura. O almirante Carlos Bezerril, diretor do CTMSP, estima que o processo exigirá sete anos. Quase todo o investimento no programa nuclear tem sido feito pelo Comando da Marinha, com verba própria – cada vez menores. As aplicações, desde 1979, somam US$ 1,117 bilhão e só US$ 216 milhões chegaram de outras fontes governamentais.

GÁS DE URÂNIO

Outro segredo de Aramar é a construção, até 2010, de uma usina própria, de escala semi-industrial, para produzir até 40 toneladas por ano de gás de urânio, a última etapa do complexo ciclo do combustível nuclear que o País ainda não domina. A fábrica está parcialmente construída em Iperó.

O volume de produção atenderá às necessidades do Comando da Marinha. A força utiliza o hexafluoreto de urânio para ensaios científicos e enriquecimento do mineral. Será necessário investir cerca de R$ 40 milhões na conclusão da montagem de sistemas e processos. A Financiadora de Projetos e Pesquisas (Finep) deu R$ 23,60 milhões para o projeto, aplicados entre 2007 e 2009.

(www.ecodebate.com.br) matéria publicada pelo IHU On-line, 15/01/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]