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Camponeses (as) do oeste e sul do Maranhão animam escola agro-extrativista, artigo de Rogério Almeida

[EcoDebate] Os cerrados do oeste e sul do Maranhão são marcados pela implantação de inúmeras experiências que afetam o meio ambiente, concentram terra e renda, onde se destacam a monocultura de eucalipto, o pólo de gusa e o pólo de soja. Tais cadeias econômicas definaram o uso do território, expropriaram várias famílias camponesas e democratizaram entre os mais pobres os passivos sociais e ambientais. Tal plano do desenvolvimento ganhou corpo graças a uma associação do capital privado com o Estado, através de uma generosa política de renúncia fiscal.

Na década de 1980, considerada a mais aguda na disputa pela terra na região do Bico do Papagaio, oeste o Maranhão, sul do Pará e norte do Tocantins, era impossível avaliar que as famílias camponesas fossem se territorializar através do reconhecimento de inúmeras áreas ocupadas como projetos de assentamentos rurais, escolas, central de cooperativas de produtores rurais, centro de difusão de tecnologia, ocupação de cargos públicos, conquista de assentos em diferentes frentes do poder público muncipal e estadual.

A caminhada de mais de duas décadas de oposição aos projetos de homogeneização ganhou mais uma página no último dia 12 de dezembro de 2007, no município de João Lisboa, com o lançamento do projeto “Agroextrativismo: Alternativa Sustentável e Solidária aos Povos do Cerrado Maranhense”, uma escola técnica que visa trabalhar com 120 famílias, cerca de 360 pessoas, entre jovens e adultos na faixa de 18 a 32 anos. O ponta de lança é uma ONG coordenada pelos (as) trabalhadores (as) rurais, o Centro de Educação do Trabalhador Rural do Maranhão (CENTRU), que tem a frente uma representação histórica da luta camponesa no Brasil, Manoel Conceição Santos.

Ancorado nas orientações do agro-extrativismo e da economia soldária, o projeto foi aprovado no âmbito do Edital Petrobras Fome Zero 006. A iniciativa envolverá, prioritariamente, seis municípios: Amarante, Imperatriz, Montes Altos, Pólo Oeste e Estreito, São Raimundo das Mangabeiras e Loreto, Pólo Sul, além dos municípios de João Lisboa, Buritirana, Senador La Roque e Cidelândia, que compõem a área de abrangência do trabalho do Centru-MA.

Conhecimento e tecnologia – Inverter a agenda das academias é um dos desafios para a construção de um projeto de desenvolvimento que redirecione a o centro de prioridade do Estado. Nesse sentido a Escola Técnica Agro-Extrativista (ETA) descortina uma nova fase na trajetória dos camponeses (as) do sul do Maranhão, sublinhou Manoel Conceição, em saudação às representações dos setores da educação, economia e política do estado no ginásio poli-esportivo do município.

A escola integra o Plano de Desenvolvimento Sustentável e Solidário, política de orientação das ações do CENTRU e da Central de Cooperativas do Maranhão (CCAMA), e tem como objetivo o fortalecimento da economia soldária. O curso que terá duração de um ano, será ministrado a partir da pedaogia da alternância. No intervalo de dois meses os alunos passaram seis dias na escola, onde acessaram fundamentos sobre manejo sustentável do bioma cerrado, associativismo, cooperativismo, desenvolvimento sustentável e meio ambiente. gênero, gerações e etnias, viabilidade econômica e gestão democrática dos empreendimentos associativos.

Joaquim Sousa, dirigente sindical de São Raimundo das Mangabeiras destacou a importância da escola para a construção de tecnologia voltada para as demandas dos trabalhadores rurais. O dirigente ressaltou ainda a criação da UNICAFES, União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária.

O professor da Universidade Estadual do Maranhão, Expedito Barroso ressaltou o nascimento da escola como grande possibilidade de extensão que vai aglutinar uma diversidade de atores sociais de variados campos e uma possibilidade de apreender um pouco sobre o conhecimento dos homens e mulheres do campo maranhense. Além da UEMA prestigiaram o evento representantes da Fedederação dos Trabalhadores na Agricultura do Maranhão (FETAEMA), Banco do Nordeste, IBAMA, MDA, governo do estado, prefeito de João Lisboa, entre outros.

Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br, colaborador e articulista do EcoDebate