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Vale: Projeto fantástico de privatização é impossível de realizar, Nelson Batista Tembra

O Presidente Lula fez duras críticas à decisão do PT de abraçar “uma causa demagógica”, pois considera “irreal” a organização de plebiscito sobre a possibilidade de anulação da privatização da Companhia Vale do Rio Doce.

Do mesmo modo, seguindo a mesma linha de raciocínio, deve ser “irreal” a acusação de que, em 1997, a Companhia Vale do Rio Doce – patrimônio construído pelo povo brasileiro – foi fraudulentamente privatizada e que a Vale, empreiteiras e bancos foram os principais doadores de Lula, conforme publicado no Valor Econômico de 29 de novembro do ano passado.

O real é que o controle acionário da companhia tem que continuar nas mãos de grupos privados, que têm o direito ao lucro da companhia, cuja produção está totalmente voltada para exportação. É irreal que, de tudo aquilo que é produzido pela Vale, pouco ou quase nada fica nas mãos do trabalhador, pois o Estado não sabe, ou não tem interesse, em tirar proveito, em sua plenitude, das prerrogativas estabelecidas na legislação ambiental.

Deve ser irreal que a Companhia Vale do Rio Doce foi a maior doadora à campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mineradora não doou R$ 4,05 milhões ao comitê financeiro do PT, que não repassou ao caixa da campanha do candidato.

Também deve ser irreal que as doações legais foram feitas por meio de duas empresas controladas pela Vale do Rio Doce. Por lei, a mineradora não poderia fazer doações diretas porque ela é dona de concessões públicas no setor de ferrovias. Por conta desta limitação, é irreal que o dinheiro tenha sido entregue pela Caemi e Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).

A Vale do Rio Doce, presidida por Roger Agnelli, também não foi uma das que mais financiou candidaturas vitoriosas à Câmara Federal, não elegendo 46 deputados, conforme levantamento realizado por Valor Econômico. No Legislativo, a Vale não gastou R$ 5,3 milhões.

É irreal que a energia elétrica continue sendo explorada pelo capital privado, com o povo pagando até dez vezes mais que as grande empresas. É irreal que o Brasil esteja na quinta colocação entre os países de energia mais cara do mundo, apesar de possuir uma das fontes mais baratas de energia gerada na hidrelétrica. É irreal que cerca de 500 empresas brasileiras pagam, em média, R$ 0,06 centavos o kilowatt, ao passo que o trabalhador paga 0,60 centavos o kilowatt.

É irreal que ao se aproximar o plebiscito popular de primeiro a sete de setembro, a Companhia joga suas fichas na publicidade massiva, lavagem cerebral mesmo, para se contrapor à campanha. É irreal que em horário nobre na televisão, com a voz da atriz Fernanda Montenegro, a companhia anuncia seu vínculo com o país e com o meio ambiente. Isso apesar de os movimentos sociais denunciarem que os rumos da empresa são decididos, hoje, pelo consórcio Valepar, que tem a presença do banco Bradesco, e pelos acionistas preferenciais, 62% deles estrangeiros.

É irreal que a Vale ressalta o seu caráter de preservação do meio ambiente, quando o trabalho de formação para o plebiscito aponta o contrário, a produção da companhia explora a camada vegetal da Amazônia com o objetivo da exportação. Quem sofre é o homem. Em meio a tantas utopias, para finalizar, com certeza absoluta, é irreal que Nostradamus previu Lula, conforme amplamente divulgado na internet pouco tempo atrás.

Por falar em utopias em torno da Vale, sobre as grandes reportagens com a foto do “seu boneco” publicada no Brasil e no mundo, imaginem agora, que eliminaram a única coisa de “doce” que havia na empresa (doce veneno), como é que vai ficar? US$ 50 milhões só para criar uma nova logomarca, tentando ofuscar o passado, que mais parece com os chifres do “cramunhão”? É um absurdo! Esses recursos seriam mais bem aplicados em justas compensações aos municípios na área de influência dos projetos da mineradora, para evitar ou tentar diminuir problemas como a prostituição infantil, por exemplo.

Nelson Batista Tembra, Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional, é colaborador e articulista do EcoDebate