EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Conceição de Buriti de Inácia Vaz, por Mayron Régis

[EcoDebate] O embaraço maior em tantas viagens para o Baixo Parnaíba maranhense sucedeu no povoado de Conceição, lugarejo de um proprietário tradicional e ex-vereador denominado Aarão. A volta se internalizava e se intensificava pelos meandros dos municípios de Mata Roma e Buriti de Inácia Vaz. Concebia-se a chapada – a de ontem e a de hoje – aquela de todos e aquela de um ou de outro – a que encobre as nascentes do rio Preto – bacia do rio Munim.

Cerzir os Cerrados – por dentro – do alto da chapada – à noite ou de dia – num dia recurvo – o desmatamento pretendido de mais de 600 hectares – carvão vegetal – a Margusa. Donde partiram as acusações que o gaúcho Elton armara com Sr. Aarão para obter a licença de desmatamento, afinal de contas a propriedade da qual ele se empossara não podia desmatar porque em seu nome constavam diversas irregularidades ambientais e por isso a repassara em termos para o Sr. Aarão para facilitar o licenciamento?

A comunidade de Conceição, município de Buriti de Inácia Vaz, a princípio, assemelha-se às incômodas comunidades do Baixo Parnaíba que interrogam os proprietários de terra e órgãos públicos ou que se atritam internamente por discordarem do desgaste excessivo dos recursos naturais causado pelos desmatamentos seqüenciados nas fazendas de soja e de criação de gado como no caso dessa chapada que interliga Chapadinha, Mata Roma, Buriti de Inácia Vaz e Anapurus.

Tirante os modos de obediência que a comunidade devia aos proprietários tradicionais na hora de votar nele ou no candidato dele e na hora de pagar o arrendamento das terras com uma parte da produção de mandioca ou com uma parte da coleta do bacuri, os posseiros elogiavam os proprietários pelas contrapartes destes que eram o pagamento dos impostos da terra e a dotação da infra-estrutura nas áreas das comunidades. Pelo menos eles botavam fé nisso. Descrentes só em relação a si próprios.

As promessas de trazer projetos produtivos, luz e asfalto renderam aos proprietários tradicionais, do Baixo Parnaíba maranhense, umas décadas de fôlego político, jurídico e financeiro. Foram anos em que amiúde esses proprietários elegiam os nomes de suas famílias para governarem as suas cidades. Um projeto de poder perpétuo para uma família e para seus correligionários expressa bem o que campeou no Baixo Parnaíba e regiões afins de forma inconteste. Continua um pouco assim, no entanto se verifica uma desobediência pacifica por parte dos posseiros em votar como sempre votaram, em pagar o que sempre pagaram e em aceitar o que sempre aceitaram.

Na descida para a comunidade de Conceição, os mansos ajuizavam sobre aquela chapada – os quase três mil hectares do grupo João Santos, que subscreve manejo florestal para essa área, só que manejo florestal é uma expressão gasta para justificar o desmatamento – os quase três mil hectares que o grupo João Santos tenta se locupletar desde 2005 através de processos instaurados no Iterma (Instituto de Terras do Maranhão) – os pequenos, os grandes e acelerados desmatamentos que pulverizam o Cerrado, na Chapadinha, na Mata Roma, em Buriti de Inácia Vaz e em Anapurus.

Entristeceu. O Sr. Aarão, ex-vereador e proprietário de terras, romanceava a vinda da soja para o Baixo Parnaíba. Que para plantar em áreas de chapada – “os gaúchos” – empréstimos à vontade no banco da Amazônia, BNB e Banco do Brasil. O mínimo desgosto. Tudo bem que os remanescentes de Cerrado tostem nos fornos do próprio Elton para agraciar a Margusa com carvão vegetal.

Mayron Régis, jornalista Fórum Carajás, colaborador e articulista do EcoDebate

Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).