biofortificação: O feijão-caupi combate a desnutrição, por Maurisrael de Moura Rocha
[O Estado do Maranhão] O feijão-caupi ou feijão-de-corda (Vigna unguiculata L. Walp.) é uma das culturas mais importantes na região Norte e Nordeste do Brasil, como alimento humano. Seus grãos são consumidos na forma seca (quiescente) ou verde (imatura). Nutricionalmente são predominantemente constituídos de carboidratos (65% em média) e proteína (24% em média), representando também uma boa fonte de fibras, vitaminas e minerais. Entre os micronutrientes mais importantes presentes nos grãos de feijão-caupi podemos citar o ferro e o zinco.
A Biofortificação é uma tecnologia aplicada na agricultura para melhorar a saúde da população carente. Representa uma ferramenta adicional para combater a deficiência de micronutrientes, utilizando os alimentos como mecanismo de promover a saúde. Desta forma, os cientistas podem fornecer aos agricultores cultivares de plantas que naturalmente reduzem anemia, o atraso no desenvolvimento cognitivo e outros problemas de saúde relacionados à nutrição. Assim, novas variedades de plantas supernutridas podem crescer em propriedades das famílias espalhadas ao longo dos países em desenvolvimento.
O Programa de Biofortificação de Produtos Agrícolas para Melhor Nutrição Humana, o HarvestPlus, tem como objetivo desenvolver e difundir novas variedades de cultivos enriquecidos com micronutrientes para combater a desnutrição em países em desenvolvimento. Iniciado em 2004 no Brasil, sob a coordenação da doutora Marília Regini Nutti, pesquisadora da Embrapa Tecnologia de Alimentos, atualmente conta com a participação de várias unidades da Embrapa (Arroz e Feijão, Mandioca e Fruticultura, Milho e Sorgo, Meio-Norte, Recursos Genéticos e Biotecnologia), além do apoio da Unicamp e Universidade de Adelaide.
A coordenação internacional é do CIAT – Centro Internacional de Agricultura Tropical e IFPRI – Instituto de Pesquisa em Política Internacional de Alimentos, ambos membros do CGIAR – Grupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Internacional. A Embrapa, junto ao programa, concentra esforços no desenvolvimento de cultivares biofortificadas de mandioca (vitamina A), feijão-comum (ferro e zinco), milho (ferro, zinco e provitamina A), e, mais recentemente, o trigo e o feijão-caupi (ferro e zinco).
A Embrapa Meio-Norte iniciou suas atividades de biofortificação do feijão-caupi para ferro e zinco em 2006, com a seleção de gemoplasma elite e continuou no ano de 2007 com as análises preliminares em grãos de 44 genótipos (linhagens e cultivares adaptadas às regiões Norte e Nordeste do Brasil) do programa de melhoramento de feijão-caupi. Os resultados preliminares indicaram uma linhagem superior para teor de ferro. Para 2008, está prevista uma validação dos resultados preliminares, que envolverá mais ensaios, visando verificar o efeito do ambiente nos teores de ferro e zinco e a identificação de genótipos estáveis para essas características; a avaliação de mais 40 genótipos elites; e a realização de cruzamentos envolvendo as linhagens elites brasileiras com maior teor de ferro e zinco com as linhagens africanas, também superiores para os teores de ferro e zinco, visando a obtenção de linhagens superiores para altos teores desses micronutrientes.
As etapas posteriores do programa compreenderão as avaliações das cultivares biofortificadas em projetos pilotos conduzidas em áreas de agricultores do Nordeste com tradição em produção e consumo do feijão-caupi, visando a difusão e adoção das cultivares. Paralelamente, um grupo de pesquisa na área de Tecnologia de Alimentos realizará os testes de retenção de ferro e zinco pós-cocção do grão e, finalmente, outro grupo de pesquisa da área de saúde farão os testes de bioeficácia em populações malnutridas do Nordeste brasileiro.
Maurisrael de Moura Rocha, Pesquisador da Embrapa Meio-Norte, E-mail: mmrocha@cpamn.embrapa.br
(www.EcoDebate.com.br) artigo originalmente publicado pelo O Estado do Maranhão, 30/11/2007