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Artigo

Terceirizando o Baixo Parnaíba Maranhense, por Mayron Régis

Eles incursionaram pelos municípios de Mata Roma e Anapurus – Baixo Parnaíba maranhense – de uma fazenda de soja a outra como poucos se arriscaram ou se arriscariam, em um curto espaço de tempo, espreitando funcionários de empresas terceirizadas da Margusa, subsidiária da Gerdau, que encabeçam a derrubada de hectares de Cerrado à base de correntão e que enchem os fornos das carvoarias com as vulnerabilidades dos pequis e dos bacuris para carvoejarem livremente de acordo com as licenças de operação consagradas pela secretaria de meio ambiente ao desenvolvimento do livre comércio do ferro-gusa.

Sempre a postos – os terceirizados da Margusa se aprofundam por áreas do Cerrado incólumes – cada um desses funcionários veio de um município próximo à Mata Roma e a Anapurus ou de povoados destes dois municípios – as suas raízes ou partes delas se desmanchando a cada desmatamento urgente convocado pela empresa ou bastaria um ou dois desmatamentos para que se desmanchem por completo? Num ambiente turvo, inóspito e seco como o das carvoarias, devido à fumaça expelida e o despovoamento de espécies nativas como o pequi e o bacuri, os terceirizados selam a sua sorte e das comunidades vizinhas à medida que a secretaria de meio ambiente do Maranhão licencia mais áreas para o desmatamento e para o carvoejamento. Quanto mais ela licencia, mais os terceirizados se descuidam do Cerrado e de suas raízes.

O responsável pela carvoaria na fazenda Santa Rita – propriedade do senhor Marcio Adamavicz – que a Margusa arrendou em 2006 – povoado Mucura – município de Anapurus – cozinhou os peixes para os membros do coletivo que, compenetrados, davam um tempo até à hora do almoço – um pouco curvados pelo põe e repõe de madeira nos fornos da carvoaria – de ano em ano, a secretaria do meio ambiente ou qualquer órgão que seja dá o ar da graça e fiscaliza a estrutura habitacional onde residem os terceirizados – licenciou-se a carvoaria por dois anos. Quanto ao meio ambiente…

Quem se policiaria a tal ponto de evitar o desmatamento do pequi e do bacuri? Nos mais de 200 hectares da fazenda Santa Rita, o correntão da Margusa mutilou pequis, bacuris e mais outras espécies do Cerrado. Os terceirizados da Margusa, da Cosima e de outras siderúrgicas perdem as contas de quantas carvoarias os empregaram – a conta dos pés de pequi e de bacuri que se perderam escapole no faz de conta das licenças de operação. A propósito de licenças de operação que inquietam o espírito, como justificar a concessão da licença para a fazenda Santa Rita quando as nascentes do rio Preguiças se localizam bem próximas a esta fazenda? Quem sabe, os técnicos da Sema assinaram a licença como quem assina um óbito – sem prestar maiores atenções no projeto, na área e etc. Nem se deram ao menor trabalho de cruzar informações – ao lado da fazenda, uma das áreas arrendadas pela Paineiras para o projeto da Margusa em licenciamento junto à própria Sema. E o responsável pela carvoaria asseverou que a área será licenciada. Ele segue bem as linhas que unem os setores produtivos ao setor ambiental no Maranhão.

Mayron Régis, jornalista

Esse texto faz parte da campanha Monitorando a bacia do Rio Munim, projeto da Associação Agroeocológica Tijupá, com financiamento do fundo soja do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).

publicado pelo EcoDebate.com.br – 13/09/2007