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Artigo

Aceitando ovinamente o controle da nossa biomassa, por Ana Echevenguá

[EcoDebate] O Brasil detém todas as condições favoráveis para ser o maior produtor de energia renovável do mundo. Os lucros financeiros e ambientais advindos da energia da biomassa são óbvios. Ela é a melhor opção rentável para salvar o planeta do efeito estufa e sanar o colapso mundial do petróleo.

Viva! Que ótima notícia! Agora o Brasil vai crescer!

Acautelem-se! Por quê? Porque isso é coisa boa só pro estrangeiro; não está ao alcance do produtor nacional. A Petrobras (e a ANP), ao privilegiar a produção das empresas estrangeiras, impõe barreiras inquebrantáveis aos produtores nacionais.

O negócio brasileiro do óleo de soja está nas mãos de trades internacionais que dominam o mercado de exportação de soja. O negócio do álcool está no mesmo patamar. Tudo isso com a conivência dos nossos governantes.

Não é verdade? É sim. Vocês sabem por que o engodo chamado biodiesel foi eleito o biocombustível ideal pelo governo brasileiro? Por força do monopólio das petrolíferas e da corporação da soja. Pra começar, esse tal de biodiesel é mais preto do que verde: é composto de 98% de óleo diesel + 2% de uma ‘sopa’ que contém óleos vegetais e outros componentes derivados de fósseis.

Adivinhe qual a “bio-matéria-prima” usada pela Petrobras na produção do biodiesel? O óleo de soja.

A composição da gasolina é: 75% de combustível fóssil e 25% do biocombustível derivado da cana. De novo: privilégios às petrolíferas e aos senhores dos canaviais.

Com isso, a produção dos biocombustíveis à base de outros óleos vegetais, que possuem maior produtividade, não obtém apoio do Estado. O dendê, por exemplo, é três vezes mais produtivo do que a soja.

Para ampliar mais ainda o seu mercado, os donos o mercado da soja que, juntos, respondem por 90% da produção mundial de soja, recentemente criaram uma aliança internacional.

De olho no lucro a qualquer preço, o monopólio das companhias estrangeiras já assumiu o controle da energia renovável no Brasil através:

– da ocupação externa do nosso território, com a descontrolada aquisição de terras. O investidor estrangeiro está comprando – em larga escala – as nossas terras;

– da mecanização da produção destas terras. Com isso, o rurícola é expulso do campo e só lhe resta ocupar as favelas das cidades;

– da aquisição das usinas de álcool, a preços irrisórios, cujo custo de produção corresponde a 50% dos custos do álcool de milho norte-americano.

Quem perde com essa concorrência desleal? O produtor nacional e, em especial, a agricultura familiar.

Este panorama nefasto, que afeta diretamente a nossa soberania, só será revertido se o Brasil criar mecanismos de proteção ao produtor nacional para enfrentar esta competição desleal; e oferecer apoio tecnológico e financeiro para viabilizar o cultivo, a produção e a comercialização do seu produto.

Mas não sejamos ingênuos. Isso não vai acontecer! Não há perspectivas de mudanças no quadro de poder econômico e político atual. Estamos “aceitando ovinamente os colapsos energético e ecológico, que se avolumam, induzidos pelo caos financeiro, econômico e social”, como prevê o Professor Adriano Benayon em seu artigo “Biomassa no Brasil: redenção ou desastre”.

Ana Echevenguá – advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação – Ecologia e Responsabilidade, e-mail: ana@ecoeacao.com.br

publicado pelo EcoDebate.com.br – 1°/09/2007