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Pecuária é motor de desmatamento da Amazônia, diz MMA. Secretário de Rondônia aponta vantagem do desmatamento recorde

Pecuária é motor de desmatamento da Amazônia, diz secretário do MMA

José Carlos Mattedi

Agência Brasil – O avanço desordenado da pecuária nos nove estados da Amazônia Legal, causando desmatamento “ilegal” de áreas para pastagem, é atualmente uma das principais preocupações do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

“A pecuária é o grande motor de desmatamento da Amazônia. Essa é nossa preocupação”, afirma o secretário de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do MMA, Gilney Vianna.

Segundo estimativa do ministério, 75% da área desmatada na região é ocupada pela pecuária. São 70 milhões de bovinos, e um terço está no Mato Grosso. Vianna afirma que a ocupação é de quase uma cabeça de gado por hectare, o que representa “uma pressão muito forte”. “Significa que um boi ocupa no mínimo dez mil metros quadrados. Isso é altamente degradante”.

Para frear o desmatamento, o MMA conta agora com um novo instrumento, o zoneamento econômico-ecológico (ZEE), programa de mapeamento dos estados usado para planejamento regional, que determina os setores de expansão econômica e ocupação territorial e as áreas protegidas ou de uso sustentável. Acre e Rondônia já contam com um zoneamento, enquanto os outros estados ainda concluem o estudo.

Os ZEEs servem para orientar políticas públicas e permitir aos gestores privados tomar decisões sabendo onde há potencialidades e limitações para suas atividades. “É com esse instrumento que vamos frear o avanço desordenado, pois o mapeamento indica onde se pode ou não avançar. Além disso, com o zoneamento, estimularemos as pessoas a usar áreas já desmatadas, além de abrirmos créditos para aqueles que respeitarem o estudo”, explica o secretário do MMA, para quem só repressão não basta.

Ele ameaça com perda de crédito para investimentos quem não respeitar os ZEEs. “Os bancos oficiais não vão poder aprovar o pedido de financiamento para aqueles que transgredirem o que determina o zoneamento”, destaca. A fiscalização ficará por conta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e dos órgãos ambientais dos estados.

Apenas os estados que já contam com zoneamento podem praticar as medidas citadas. Os demais têm de continuar sujeitos às multas e sanções previstas no Código Florestal do país.

Em outras entrevistas à Agência Brasil, o secretário de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Augustinho Pastore, apontou “vantagens” do desmatamento e a integrante do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), Ivaneide Bandeira Cardoso, criticou o governo do estado.

Secretário aponta “vantagem” do desmatamento recorde em Rondônia

José Carlos Mattedi

Agência Brasil – O mapeamento da Amazônia, divulgado recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente, revelou que Rondônia tem mais de um quarto de seu território (28,5%) desmatado, o maior percentual da região. O secretário de Desenvolvimento Ambiental, Augustinho Pastore, no entanto, diz confiar no projeto de reflorestamento promovido a partir do estudo dos zoneamentos ecológico-econômicos. E aponta o que considera o lado bom do desmatamento.

“A grande vantagem desse desmatamento de 28% é que em um hectare de floresta nativa, você tira em média 30 metros de madeira. Já numa área reflorestada, você pode tirar até 300 metros. Essa é a grande vantagem de reflorestar”, completa.

A explicação para esse desmatamento todo, de acordo com o secretário, remonta aos anos 70, quando o governo incentivou a entrada de colonos, com o objetivo de ocupar a terra. A derrubada da mata era considerada bem-feitoria e permitia ao migrante receber documento de posse.

De acordo com a Secretaria do Desenvolvimento Ambiental, o estado tem 110 mil propriedades rurais, 80% delas com energia elétrica, e 12 milhões de cabeças de gado. “Temos 28% de área desmatada, mas não é à toa que Rondônia é o estado mais desenvolvido da Amazônia”, sublinha Pastore, lembrando que o agronegócio é a principal fonte de divisas do governo.

O secretário aponta que em dez anos Rondônia vai ter mais mata do que atualmente. “Dentro de uma década, vamos ter menos área desmatada do que hoje, porque estamos trabalhando num grande projeto de reflorestamento. Assim, vamos incentivar o emprego e a renda”.

Os zoneamentos começaram a ser feitos em 1997 e Rondônia foi o primeiro estado, dos nove integrantes da Amazônia Legal, a finalizar o estudo, seguido pelo Acre. Eles permitem o uso sustentável dos recursos naturais e do aproveitamento das potencialidades sociais e econômicas de cada estado, como o reflorestamento comercial.

É nesse reflorestamento, prometido para daqui a dez anos, que o secretário deposita sua confiança, em parceria com as madeireiras. “O setor madeireiro é um segmento importante para a economia do estado, e o principal interessado nesse reflorestamento”, comenta Pastore.

Segundo ele, as empresas estão preparando os viveiros de mudas, com o governo dando assistência técnica. “Em cada metro de madeira consumida, terá que ser plantado o equivalente”.

A conselheira do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira Cardoso, acusa o governo de não cumprir o que está previsto no zoneamento econômico-ecológico.

com Agência Brasil

in www.ecodebate.com.br – 05/02/2007