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Editorial

Aquecimento global: nosso tempo está acabando, por Henrique Cortez

[EcoDebate] O aquecimento global, como já noticiamos e informamos em diversas edições, é resultado da interação de inúmeros fatores, razão pela qual só poderá ser reduzido pela ação combinada de várias medidas de controle.

No entanto, podemos simular alguns processos que permitiriam reduzir a emissão de gases estufa, facilitando que o processo de equilíbrio dinâmico fosse restaurado:

1 – reduzir a queima de combustíveis fósseis e investir maciçamente no desenvolvimento de energias limpas;
2 – impedir os processos de desmatamento e destruição das florestas primárias;
3 – através dos parâmetros do mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) investir em projetos de reflorestamento para seqüestro de carbono;

No caso brasileiro os projetos de revegetação e reflorestamento são de fundamental importância, não apenas na questão climática, como na geração de trabalho e renda. Se formos realmente reflorestar as matas ciliares e galeria do estado de São Paulo teremos uma área a ser recuperada superior a 10 milhões de hectares e na bacia do rio São Francisco mais 2 milhões. Ou seja, milhões de empregos novos e por mais de 30 anos.

É evidente que a implantação destes processos exigirá inúmeras medidas a serem realizadas em longo prazo e que levarão muito tempo para demonstrar resultados. No entanto, já foi demonstrado que é possível reverter efeitos antropogênicos, tal como ocorreu com as medidas previstas em acordos internacionais e que estão permitindo a recuperação da Camada de Ozônio [O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio foi adotado em 16/9/87 e permitiu que, ao longo dos anos 90, a emissão de gases prejudiciais à Camada de Ozônio fosse reduzida em mais de 80%].

O desenvolvimento tecnológico, a capacidade de investimento, a solidez industrial e econômica permitirão que uns poucos paises (alguns dos mais desenvolvidos) possam enfrentar as perdas econômicas – financeiras decorrentes dos desastres climáticos. Pelo menos por algum tempo.

Os paises em desenvolvimento e os subdesenvolvidos sofrerão mais intensamente, com maiores perdas de vidas e maiores danos, em uma versão ainda mais aterrorizante do que crescentemente já acontece.

Mas, qualquer que seja o cenário, até o final do século XXI, todo o planeta estará sofrendo as conseqüências do aquecimento global, incluindo a desertificação de, pelo menos, 1/4 da superfície terrestre.

O argumento de que as medidas mitigadoras do aquecimento global e a redução das emissões de gases estufa implicariam em pesados custos econômicos é estúpido porque este custo será pago de uma forma ou de outra. A diferença é que nossos netos estarão pagando caro para apenas tentar sobreviver.

Ê evidente que a redução das emissões de gases estufa implicará em pesados custos sociais e econômicos, mas não temos outra alternativa para garantir a vida no planeta.

Precisamos dar atenção ao cientista James Lovelock, autor da teoria de Gaia, segundo a qual a Terra é um organismo vivo, capaz de se regular automaticamente para garantir as condições de vida no planeta e que é incansável em reafirmar que a mudanças climáticas já alcançaram um ponto irreversível, ao qual a nossa civilização dificilmente sobreviverá. Recomendamos que leiam a entrevista e o artigo A Vingança de Gaia:

* Entrevista: James Lovelock – A vingança de Gaia, de 25/10/2006,
in http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=3593&cat=

* A vingança de Gaia , por James Lovelock, de 24/1/2006,
in http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=1242&cat=

Freqüentemente dizemos ou ouvimos sobre os nossos compromissos para salvar o planeta. Lamento, mas não podemos salvar o planeta, porque nosso ego antropocêntrico não está à altura da tarefa. Nosso planeta já passou por incontáveis processos de mudanças climáticas naturais e pelo menos dois grandes eventos de extinção maciça. De um modo ou de outro a natureza retomou o processo da vida.

Estamos gerando processos não naturais que levarão o planeta a um novo processo de mudança radical, tal como já aconteceu antes por razões naturais. Estudos demonstram que ocorreram, pelo menos, dois grandes eventos de extinção maciça. Há 250 milhões de anos cerca de 90% da vida foi extinta e há 65 milhões, quando desapareceram os dinossauros, a extinção foi estimada em 60%.

Se nossa irresponsabilidade continuar, acabaremos com a natureza tal como ainda conhecemos. Mas a história do planeta demonstra que a natureza encontrará uma alternativa, porque mesmo com vários episódios de extinções maciças a natureza sempre recomeçou.

Desta vez não será diferente. Pena que nossa espécie e muitas outras não estarão aqui para presenciar.

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
cordenador do EcoDebate