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Artigo

Uma outra forma de educação e cultura na sociedade globalizada, por Vagner da Silva Oliveira

“Há dois elementos fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o estado da política” (Geógrafo Milton Santos )

Há uma tendência a separar uma coisa da outra. Daí muitas interpretações da história a partir das técnicas. E, por outro lado, interpretações da história humana separação entre as duas coisas. As técnicas são oferecidas como um sistema e realizadas combinadamente através do trabalho e das formas de escolha dos momentos e dos lugares de seu uso. É isso que fez a história. No fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Ela é também o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes. Os fatores que contribuem para explica essa geografia da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos. Isso poderia ser diferente se seu uso político se fosse outro. Esse é o debate central, o único que nos permite ter esperança de utilizar o sistema técnico contemporâneo a partir de outras formas de ação. Nunca houve antes essa possibilidade oferecida pela técnica á nossa geração de ter em mãos o conhecimento instantâneo do acontecer do outro. Essa é a grande novidade, o que estamos chamando de unicidade do tempo ou convergência dos momentos. Com a globalização e por meio da empiricização da universalidade que ela possibilitou, estamos mais perto de construir uma filosofia das técnicas e das ações correlatas, que seja também uma forma de conhecimento concreto do mundo tomado como um todo e das particularidades dos lugares, que incluem condições físicas, naturais ou artificiais e condições políticas. Um período sucede a outro, mas não podemos esquecer que os período são, também, antecedidos e sucedidos por crises, isto é, momentos do consumismo e competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, á redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão, estamos assistindo isso na realização jogos da copa. Os pobres jamais puderam ser cidadãos. As classes médias foram condicionadas a apenas querer privilégio e não direitos.

O terrível é que, nesse mundo de hoje, aumenta o número de letrados e diminui o de intelectuais. Não é este um dos dramas atuais da sociedade brasileira? Tais letrados, equivocadamente assimilados aos intelectuais, ou não pensam para encontra a verdade, ou encontrado a verdade, não a dizem.

O dinheiro é, cada vez mais, um dado essencial para o uso do território. Mas a lei do valor também se estende aos próprios lugares, cada qual representado, em dada circunstância e em função do comércio de que participam,um certo índice de valor que é, também, a base dos movimentos que deles partem ou que a eles chegam.

Sem dúvida, os brotes individuais de insatisfação podem não forma uma corrente. Mas os movimentos de massa nem sempre resultam de discursos claros e bem articulados, nem sempre se dão por meio de organizações conseqüentes e estruturadas.

Conclusão

Nesse emaranhado de técnicas dentro do qual estamos vivendo, o homem pouco a pouco descobre suas novas forças. Já que o meio ambiente é cada vez menos natural, o uso do entorno imediato pode ser menos aleatório. As coisas valem pela sua constituição, isto é, pelo que podem oferecer. Os gestos valem pela adequação, isto é, pelo que podem oferecer ás coisas a que se dirigem. Ampliam-se e diversificam-se as escolhas, desde que se possam combinar adequadamente técnicas e política. Aumentam a previsibilidade e a eficácia das ações. Um dado importante de nossa época é a coincidência entre a produção dessa história universal e a relativa liberação do homem em relação a natureza. A denominação de era da inteligência poderia ter fundamentos neste fato concreto: os materiais hoje responsáveis pelas realizações preponderantes são cada vez mais objetos materiais manufaturados e não mais matérias-primas naturais. Pensamos ousadamente as soluções mais fantasiosas e em seguida buscamos os instrumentos adequados á sua realização. Na era da ecologia triunfante ( com o modismo e oportunismos de expansão de ongs ambientalistas, de ajuda aos mais pobres dos “projetos” de educação ambiental além do assistencialismo dos governos e a expansão de seitas religiosas ) é o homem quem fabrica a natureza, ou lhe atribui valor e sentido, por meio de suas ações já realizadas, em curso ou meramente imaginadas. Por isso, tudo o que existe constitui uma perspectiva de valor. Todos os lugares fazem parte da história. As pretensões e a cobiça povoam e valorizam territórios desertos.

Na era da ecologia triunfante, é o homem quem fabrica a natureza, ou lhe atribui valor e sentido, por meio de suas ações já realizadas, em curso ou meramente imaginadas. Por isso tudo o que existe constitui uma perspectiva de valor.Todos os lugares fazem parte da história. As pretensões e a cobiça povoam e valorizam territórios desertos. (Santos, 2000 )

Pensar o ambiental, hoje, significa pensar de forma prospectiva e complexa, introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento e especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na procura de um novo modelo de desenvolvimento.

A educação e a cultura em geral não pode permanecer alheia ás novas condições de seu entorno, que exigem dela respostas inovadora e criativas que permitam formar efetivamente o cidadão crítico, reflexivo e participativo, apto para a tomada de decisões, que sejam condizentes com a consolidação de democracias verdadeiras e sem exclusão da maioria de seus membros como quer a grande mídia. A introdução da educação ambiental no currículo do ensino básico e na mídia apresenta uma situação ímpar para a renovação educativa escolar visando uma educação de qualidade, que responda ás necessidades cognitivas, afetivas e ética,capaz de contribuir com o desenvolvimento integral das potencialidades dos sujeitos e, por que não,a sua felicidade que não está somente no consumo.

A educação e a cultura são processos que afetam a totalidade da pessoa, na etapa da educação, e que deveria continuar na educação permanente. Possui uma forte inclinação para a formação de atitudes e competências, definidas desde o seminário de Belgrado (1975), como: consciência, conhecimentos, atitudes, aptidões, capacidade de avaliação e de ação no mundo. A implementação de uma reforma educativa, que implica a discussão e assimilação crítica de novos conceitos, exigem a revisão e uma nova elaboração fundamentada dos conhecimentos e postura pedagógicas anteriores, sobre as quais serão construídas as novas estruturas, e a incorporação efetiva da transversalidade.

Da mesma forma que a ciência só substitui um velho paradigma por outro quando se evidencia a inadequação do primeiro à realidade, gerando, às vezes, grandes resistências, as pessoas também resistem em abandonar suas velhas posturas e crenças pedagógicas, se não compreenderem e incorporarem as novas concepções propostas pela reforma e,sobretudo, se não invalidarem suas idéias anteriores. Com o tempo, essas acabam reaparecendo quando se esquece o que se aprendeu (sem construí-lo de forma pessoal )

Às vezes é mais difícil abandonar as velhas idéias do que construir outras novas, mas o segundo não pode ser feito sem o primeiro; daí a importância de analisar e conhecer a maneira como os professores entendem as questões ambientais e pedagógicas, para invalidar as idéias inadequadas, antes de iniciar qualquer nova aprendizagem.

[ Esse artigo é parte de um resumo que visa debate e a reflexão, sobre o penúltimo livro do Geógrafo Milton Santos – Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal – em Junho/2006 ]

* Geógrafo,Professor,Presidente do MORE/ Movimento de Resistência Ecológica,Representante da Apedema/RJ – Assembléia Permanente das Entidades em Defesa do Meio Ambiente no Fecam – Fundo Estadual de Controle Ambiental é Membro do Conselho Estadual de Meio Ambiente , Funcionário da Assessoria de Meio Ambiente do Crea/RJ. Contato pelo tel.xx21- 2206-9614/2704-8565/9715-4820 –e-mail vagnerfia@crea-rj.org.br

publicado no EcoDebate.com.br – 21/06/2006