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Artigo

Baixo Parnaíba: nova fronteira da soja, por Mayron Régis

A soja está avançando numa nova fronteira agrícola: o leste do estado do Maranhão. Para formar suas lavouras, muitos agricultores derrubam o cerrado de forma ilegal.

Os tratores arrastam correntes chapada adentro e esmagam o cerrado. Arrancam árvores pela raiz. O ritmo do desmatamento no Baixo Parnaíba aumentou com o avanço das lavouras de soja.

Em cinco anos foram derrubados 20 mil hectares de cerrado só nos municípios de Chapadinha, Anapurus e Brejo.

O começo de uma nova fronteira agrícola no país. Uma região a 250 quilômetros do Porto do Itaqui.

Seu Wilson Morabis planta soja há três anos na região: “veja que aqui na região do Baixo Parnaíba, que comporta 20 municípios, são 2 milhões de hectares agricultáveis para plantar soja, arroz, feijão, milho”.

A pressa em abrir novas lavouras é tanta que tem agricultor atropelando a legislação ambiental.

Nos últimos seis meses o Ibama expediu 34 autos de infração e o valor das multas passa de R$ 1 milhão. Seu Edimar Krampe foi multado em R$ 20 mil: “fui multado por que não tinha licença do Ibama. Que foi encaminhado e demorou. Demorou, não saia, aí e fui desmatar pelo menos um pedaço, para não ficar com a propriedade parada, sem produzir, tem empregado para pagar e tudo, e não tinha produção. Aí foi quando a gente foi multado”.

O agricultor Cezar Andregueto também já foi multado: “Comecei o trabalho aqui numa área que já estava aberta. Só que quem abriu anteriormente não tinha projeto. E como ele abriu e abandonou, e eu cheguei a mais de quatro anos que ele saiu daqui, eu peguei e abri a área e não sabia que tinha que fazer projeto de novo. Então o pessoal do Ibama veio e me multou. Daí eu encaminhei o projeto, hoje estou com a licença na mão e estou plantando”.

Árvores como o Pequizeiro e o Bacurizeiro, protegidas por lei, estão sendo derrubadas pelos tratores. “Estas áreas estão todas regularizadas com autorização de desmatamento, mas eles não estão respeitando as espécies que são imunes de corte, que na própria autorização já vem dizendo: Arueira, o Pequí. Eles não estão respeitando, estão cortando tudo”, denuncia Geosimar Mendes, chefe regional do Ibama.

Quem também denuncia os desmatamentos na região são os sertanejos que vivem do extrativismo. Uma legião de maranhenses que todos os dias vasculham as chapadas.

As florestas nativas de Pequi e Bacuri estão cada vez mais escassas no Baixo Parnaíba e o sertanejo tem que entrar cada vez mais na mata para catar os frutos que caem quando ficam maduros.

“No tempo de safra do Bacuri a gente apanha o Bacuri que é para sobreviver. Aí, então, eles vêm e derrubam o Bacuri, e a gente vai sobreviver de que?”, pergunta o lavrador Manoel Rodrigues.

A safra está começando com os bacurizeiros carregados e Dona Maria, de 56 anos, enfrenta os perigos na mata em busca dos frutos: “tem muita cobra, que morde e mata. Mas tem que entrar na mata. Com o dinheiro das frutas a gente compra as coisas que precisa para a casa”.

De fevereiro a abril, os frutos do cerrado se tornam a única fonte de renda para o sertanejo. Antonio Pedro Nascimento conta que todos anos eles esperam, ficam de olho para cima, de olho no bacuri. “A gente está sabendo que aquele bacuri aí é para a gente vender, para poder sobreviver”.

Só em 2005, foram derrubados 2.300 hectares de cerrado. No total, já existem 17,3 mil hectares de lavouras de soja na região maranhense do Baixo Parnaíba.

Mayron Régis é jornalista

Ecodebate, www.ecodebate.com.br, 11/02/2006