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Notícia

Dejetos usados na fertilização degradam microbacias

Áreas de intensa prática agropecuária, como o interior do Estado de São Paulo ou a região de Chapecó, no Estado de Santa Catarina, têm contribuído para a degradação dos solos e para a má qualidade das águas dos lençóis freáticos e dos rios das microbacias hidrográficas. Ao fazerem o uso de dejetos animais, ricos em nitrogênio (N) e fósforo (P), na fertilização de solos pobres, a erosão pode transportar estes nutrientes aos corpos d’água. Um estudo da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP desenvolvido na região de Descalvado (SP), mensurou essa poluição e diagnosticou a falta de medidas governamentais para conscientizar os criadores sobre o impacto de sua atividade no meio ambiente. Por Renata Moraes, Agência USP de Notícias.

Em sua dissertação de mestrado, o biólogo e advogado Fernando Frachone Neves, orientado pelo professor Sílvio Crestana, identificou as áreas de risco à poluição na microbacia de Rio Bonito, em Descalvado, pólo econômico de grande concentração de aviculturas. Por meio de um modelo matemático computadorizado, Neves mensurou os danos sofridos nos ecossistema da região, tendo detectado as áreas que provêm nutrientes aos mananciais. Com os softwares ARCVIEW e AVSWAT, foi possível quantificar o volume do transporte de nutrientes (provenientes dos dejetos) para os lençóis e mananciais, e a erosão em toneladas por ano. Ele diz que o método pode ser usado para calcular a concentração de substâncias disponibilizadas por qualquer criação.

Agressão ao ecossistema

Os dejetos de animais em confinamento têm alta concentração de nitrogênio e fósforo devido à alimentação e manejo. Ao serem aproveitados para a fertilização dos solos, disponibilizam esses dois nutrientes, dentre outros. As moléculas desses compostos irão então, em grande parte, ligar-se às partículas da terra. Quando chover, os nutrientes e estas substâncias atingirão camadas mais profundas do solo. Este processo é denominado lixiviação, que causa o empobrecimento do solo e a poluição das reservas de água. Locais que são naturalmente vulneráveis à erosão estarão ainda mais propensos ao fenômeno com a perda de nutrientes.

A chuva também transporta as substâncias provenientes dos dejetos aos rios da região. “É o caso da microbacia do rio Bonito”, conta Neves, lembrando que “o aumento excessivo da quantidade de nutrientes na água diminui o oxigênio dissolvido, prejudicando a comunidade aquática e as populações ribeirinhas, que utilizam essa água”.

O pesquisador aponta que em áreas de maior preservação das matas ciliares (que se dispõe no entorno dos rios) a vegetação consegue amenizar um pouco esses problemas – a poluição dos rios e a erosão. “Essa mata se transforma numa barreira para a chegada das substâncias que estão na superfície do solo. Também, devido às raízes, agregam as partículas do solo contendo a erosão. São importantes corredores ecológicos, funcionando como refúgio para espécies animais e vegetais”. Por ter tamanha importância, estas matas são classificadas como Áreas de Preservação Permanente (APP).

Granjas poluidoras

Neves afirma que grande parte dos criadores de animais desconhece o solo da área em que estão instalados e não tem consciência do impacto do manejo inadequado de dejetos: “A maioria das granjas funciona irregularmente, do ponto de vista da gestão integrada dos resíduos gerados, e falta não somente orientação, mas supervisão dos órgãos Federais, Estaduais e Municipais”. Segundo ele, atividades potencialmente poluidoras devem passar por adequação para adquirir uma licença ambiental que autorize seu funcionamento. “Cabe à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) de cada microbacia orientar e viabilizar alternativas de manejo de dejetos gerados no confinamento de animais”.

O biólogo aponta as iniciativas de apoio e conscientização dos granjeiros que estão sendo feitas no Estado de Santa Catarina como um modelo que pode ser seguido. Lá, a Embrapa Suínos e Aves, tem feito um trabalho de orientação, mesmo àqueles produtores não licenciados. Uma das alternativas que o órgão tem conseguido implementar são as fossas sépticas nas propriedades rurais e orientação para o manejo adequado dos dejetos.

O trabalho de Neves será disponibilizado para a Casa da Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente de Descalvado e ele acredita que o método de análise de áreas suscetíveis à poluição que desenvolveu pode servir de fomento a políticas públicas.

(EcoDebate) Fonte – Agência USP de Notícias