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Artigo

Jornalismo e literatura como suporte à causa ambiental. Um breve resgate histórico, por Aida Franco de Lima

“Sempre que alguém diz ‘não devemos ser sentimentais’, entenda-se que está prestes a fazer algo cruel. E se acrescentar: ‘temos que ser realistas’, significa que vai ganhar dinheiro com isso.” Brigid Brophy

Resumo
Este trabalho traça um breve histórico do movimento ambientalista no exterior e no Brasil. Na seqüência é realizada uma retrospectiva de alguns desastres ambientais que marcaram época, para, em seguida, rememorar a respeito de certos ícones da questão ambiental em nível de Brasil, em períodos variados. Em um passo seguinte dá-se voz a nomes de destaque na área, exemplificando com fatos que marcaram os primeiros passos do jornalismo ambiental brasileiro. Na seqüência são elencadas as principais referências midiáticas voltadas para este campo de atuação, dando ênfase à literatura ambiental, com alguns de seus principais marcos. Finaliza com algumas considerações de jornalistas de destaque na área, que frisam a necessidade do jornalista ser um agente transformador, pró ativo, no exercício de sua profissão.

Palavras-chave: jornalismo ambiental, literatura ambiental, meio ambiente

Um dos principais ícones da luta ambiental internacional é o Greeanpeace, que surgiu no início dos anos 70. A miséria e exploração do proletariado que marcaram o nascimento do capitalismo no início do século XIX e metade do século XX, em se tratando dos países ricos, já não eram os únicos motivos de contestações. Segundo GONÇALVES (1990, p.11): “A década de 60 assistirá, portanto, ao crescimento de movimentos que não criticavam exclusivamente o modo de produção, mas, fundamentalmente o modo de vida. E o cotidiano emerge aí como categoria central neste questionamento”.

Esta época caracterizou-se como um marco dos movimentos sociais que começam a questionar o contexto sócio-político-cultural vigente e que até então era contestado apenas pelos segmentos sociais, democratas, os comunistas e os anarquistas. O movimento ecológico, então, começa a marcar presença naquele espaço da mídia que também será dividido com o movimento hippie, das mulheres, negros, etc.

Anteriormente, as raízes destes movimentos já vinham sendo desenvolvidas, porém o destaque alcançado por estas manifestações sociais no cenário político é mais significativo nesta época. Fato este que permitia maior acesso à mídia, que por sua vez encontrava nestes movimentos ganchos para demais matérias que abordavam as outras vertentes destes fenômenos sociais.

As conseqüências desastrosas de conflitos que eclodiam mundo afora não eram mais segredo entre países, com a mídia transformando-se nos olhos da população. Desta maneira a realidade “nua e crua” era constantemente questionada pelas minorias que aos poucos ganhava mais adeptos, a ponto de conquistarem espaços relevantes nos meios de comunicação, e então alcançar o limite máximo: a opinião pública. Esta foi atingida em cheio no momento em que, por exemplo, acontecia a chacina da Guerra do Vietnã, e os veículos de comunicação de massa difundiam as barbáries mais recentes.

A mídia promovia verdadeiros bombardeios de informações sobre a Guerra do Vietnã. O contato com os canais de comunicação que cobriam o conflito, aproximava ainda mais a população do massacre. Tantas informações acabavam por estimular o crescente repúdio ao conflito.

A televisão exibia imagens impactantes de um pesadelo que fazia crescer ainda mais o movimento pacifista. Em casa, no carro ou no trabalho a população escutava no rádio os roncos dos aviões americanos que despejavam toneladas de desfolhantes químicos nas florestas do Vietnã. Era o Agente Laranja, que abria gigantescas clareiras nas selvas e eliminava tudo o que era vivo e que mais tarde provocaria alterações genéticas nas gerações das populações vizinhas ao alvo. Os jornais reforçavam os horrores da guerra e os crescentes movimentos opositores.

Também a contaminação da cadeia alimentar e a ingestão de peixes contaminados pelo mercúrio liberado por uma indústria papeleira, provocou a intoxicação e morte de inúmeros pescadores, na tragédia da Bacia de Minamata, em 1953 no Japão (LAGO; PÁDUA, 1988, p.81). A repercussão mundial gerou ainda mais reforço à causa ecológica, originado pelo destaque proporcionado pela mídia a este caso, mostrando a influência exercida pelos meios de comunicação e a importância de aliá-los com o ambientalismo.

LOPES (1985, p. 21) comenta o aspecto que a imagem como um todo passa a ser trabalhada pelos canais de comunicação a partir de 1950:

“… a imagem se tornou um importante fenômeno social e cultural. Esse fenômeno alastrou-se a vários domínios da vida dos povos. Influencia hoje pessoas e nações. Altera usos e costumes. É manipulada por várias formas de poder. Sofre uma exploração, jamais conhecida, antes de se materializar na fotografia (século XIX). Uma vez industrializada, a imagem – agora tecnológicamente conseguida – passou a ser não só um produto, um negócio, mas também um `discurso´ e até um mito.”

Os slogans dos hippies ecoavam (“paz e amor/ não faça a guerra, faça o amor”) e refrescavam a memória daqueles que já haviam se esquecido das tragédias atômicas que, em 1945 no Japão, assolaram Hiroshima e Nagazaki. Tragédias novamente em vias de fato como a guerra do Vietnã que acabou por estimular a concentração de aproximadamente 6 mil canadenses e americanos, desertores foragidos do serviço militar na fronteira Canadá/Estados Unidos a fim de protestar contra testes nucleares dos EUA em Anchitka (Ilhas Aleutas – Alasca).

Era o ano de 1969 e o final do protesto traria para a mídia internacional a primeira grande fonte verde do movimento ambientalista. Um pequeno grupo reuniu-se para planejar outro manifesto e surgiu a idéia de usar um barco para chamar a atenção da imprensa local. Um dos manifestantes se despediu com um sinal de V e as palavras Paz Verde. Outro acrescentou “faça a paz verde”. Assim, aquele pequeno grupo de pessoas anônimas conseguiu chamar a atenção além da imprensa local, da mídia mundial que passou a ter no Greenpeace um marco na interminável defesa do meio ambiente. (GREENPEACE, 2003)

A bomba subterrânea foi detonada. Toneladas de rochas desintegraram-se e milhares de falcões, águias e lontras marinhas morreram. Mas a pressão da opinião pública foi suficiente para que o local não fosse mais utilizado para testes nucleares. Gradativamente, as pessoas que percebiam a necessidade de buscar uma harmonia entre homem e natureza, usando de artifícios grupais ou individuais, passaram a ser conhecidas como ecologistas, ambientalistas, verdes, “greenpeacistas”, ongueiros, ING (Indivíduo Não Governamental, mais usado na atualidade para referir-se a ambientalistas que atuam fora das ONG’s) ou de maneira pejorativa, malucos, ecochatos.

Se por um lado a mídia transformou o Greenpeace no mais significativo precursor do movimento ambientalista contemporâneo, popularizando-o nos países ricos, as raízes do movimento estão mesmo nos trópicos, sendo que no Brasil a questão é mais antiga do que poderíamos imaginar.

É o que explica o professor, pesquisador e militante há mais de 25 anos, José Augusto Pádua (1) : “O ambientalismo não nasceu na Europa ou nos EUA, mas nas colônias do Sul, inclusive no Brasil. Foi na Índia, na África do Sul, no Caribe, na América do Sul e na Austrália que o modelo destrutivo de ocupação colonial começou a ser questionado”. (PÁDUA, 1996). Nesta época já se noticiavam os problemas ambientais decorrentes da interferência do homem junto à natureza em forma de um relatório feito na Índia por um funcionário colonial, em 1864, onde o desmatamento é associado ao aumento das enchentes, a erosão do solo e às mudanças climáticas.

PÁDUA (idem) argumenta que: “nos países ricos, o ambientalismo tem uma origem estética, ética ou científica. A natureza é interpretada através da arte, da filosofia ou da ciência. Já no Brasil, ele surge no fim do século XVIII numa forma política. Ele nasce preocupado com um projeto político para o País, com a crítica ao escravismo, ao latifúndio e ao mau trato da terra”. Mas há relatos históricos sobre o gerenciamento irregular dos recursos naturais desde o século I, como por exemplo, os relatos de que, em Roma, já nessa época começaram a ocorrer as quebras de safras de culturas e erosão do solo.

O citado professor lembra que o patrono da Independência, José Bonifácio de Andrade e Silva é um dos primeiros ambientalistas brasileiros de que se tem notícia. Em 1823, o então primeiro ministro escreveu, em meio a textos em defesa das baleias e pelo fim da escravidão, que “em menos de dois séculos nosso País ficará reduzido aos desertos da Líbia”.

Em 1883 seria a vez de Joaquim Nabuco fazer uma análise e diagnóstico da situação ambiental brasileira de Norte a Sul, falando sobre o fim da fertilidade das terras cariocas, a derrocada das indústrias dos canaviais e as conseqüências da expansão da seca no Nordeste, e ainda sobre os riscos do crescimento da indústria paulista baseada na monocultura do café. Euclides da Cunha também viria fazer coro, alertando sobre as conseqüências da monocultura e o empobrecimento dos solos. Em 1915 o jurista carioca Alberto Torres (um dos gurus de Getúlio Vargas) faria duras críticas contra “o homem esbanjador aventureiro das riquezas naturais da Terra”. Seus textos impulsionariam milhares de pessoas que nos anos seguintes inauguraram mais de mil escritórios da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, visando a promoção do uso racional dos recursos naturais. Como explica José Augusto Drummond da Universidade Federal Fluminense: “Daí para frente o ambientalismo ganhou um caráter bem mais científico, com a participação ativa de especialistas. Na década de 60, por exemplo, surge a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza – FBCN, formada por cientistas naturais que trabalhavam com aves e primatas.”(BRASIL, 2001a).

Registros variados fazem uso de exemplo de atitudes de nomes marcantes da cultura ocidental e oriental, como modo de incentivar a postura ética com relação ao trato da natureza. De Pitágoras à filosofia de Buda, dos pensamentos de Leonardo da Vinci, gênio da renascença italiana, perpassando por Charles Darwin ou Mahatma Ghandi, está a concepção da necessidade do ser humano não apenas explorar aquilo que a natureza disponibiliza, mas sobretudo respeitar imensurável bem.

João Gualberto é tido como um nobre florentino nascido no ano 1000 e morto aos 73 anos na Toscana, que desempenhou papel importante na defesa ambiental. Na idade média ele formou uma espécie de patrulha florestal que objetivava cuidar dos bens dos homens e da preservação da natureza. João Gualberto pregava o uso racional da natureza, ou o desenvolvimento sustentável. Beatificado pelo Papa Pio XII, João Gualberto é Santo e Patrono Perpétuo das Florestas e do Engenheiro Agrônomo, que comemora seu dia aos 12 de julho.

Francisco Bernardone ou São Francisco de Assis, autor do Cântico das Criaturas, é considerado santo padroeiro dos animais e na data de sua morte comemora-se o Dia da Ecologia e Dia Universal dos Animais, tendo o Papa João Paulo II decretado, aos 29 de novembro de 1979, como o patrono dos ecologistas. Segundo BOFF e PORTO (1986, p.15), na cidade de Gubbio os habitantes estavam amedrontados por causa de um lobo. Francisco partiu para o bosque para pregar ao lobo e encontrou a pomba da paz. Em Cântico das Criaturas evidencia sua relação com os animais através de uma perspectiva cósmica, estando longe de qualquer sentimentalismo vulgar ou poético. Trata os animais como irmãos, indicando que a visão individual do mundo foi por ele ultrapassada, compreendendo a razão de ser dos animais e colocando-os em seu lugar exato na criação. Na obra, são seis os símbolos fundamentais: a terra, o ar, a água, o fogo, a lua e o sol.

De acordo com LEVAI (1988, p.15):

“No Brasil, dentre todos aqueles que se empenharam na defesa dos bichos desvalidos, merece especial distinção o padre cearense Antonio Vieira (homônimo do notável missionário e orador do século XVII), que escreveu um antológico tratado sobre o jegue. Esta obra intitulada `O Jumento, Nosso Irmão´, ensejou, recentemente, a sugestão de seu nome ao Prêmio Nobel da Paz. ”

Para KUJAWSKI (1988, p. 14-18) o título de Patrono da Ecologia deveria ser reservado a Plínio, que viveu no Século I depois de Cristo e teria sido o primeiro ecologista assumido de que se tem notícia. Para o jornalista também merece destaque, no âmbito das ciências sociais, Gilberto Freyre que no seu livro Nordeste, lançado em 1943, estudou a Região sobre o critério ecológico.

Em 1962 a jornalista americana Rachel Carson publicou o livro “Primavera Silenciosa”. Considerado um clássico no movimento ambientalista gerou discussão internacional por conta da abordagem que fazia em relação às conseqüências desastrosas do uso abusivo de produtos químicos na agricultura. Seis anos depois, em 1968, surgiu o Clube de Roma. O grupo teve origem a partir de uma reunião na Accademia dei Lincei, em Roma, envolvendo cerca de 30 cientistas, educadores, humanistas, economistas, industriais e funcionários públicos, a fim de discutir e refletir sobre o antagonismo da pobreza e a abundância, a deterioração do meio ambiente, o crescimento acelerado, entre outros. Em 1972, a partir das reflexões deste grupo, seria lançado o relatório Limites do Crescimento. (BRASIL, 2001a, p. 28)

“Nos Estados Unidos, Barry Commooner e Paul Erhlich escreveram e discutiram em alto nível essa importante questão. Mas um livro se destacou, traduzido simultaneamente para muitos idiomas. Foi o do francês Jean Dorst “Antes que a Natureza Morra”. Da França também veio a melhor de todas as obras “A Enciclopédia da Ecologia”, de Charbonneau e outros. Dos Estados Unidos “Morte e Sobrevivência da Terra”, de Richard Falk; a “Inflação da Técnica/Declínio da Tecnologia na Civilização Moderna”, de Eugene Schwartz, “População/Recursos/Ambiente”, de Paul Ehrlich; “A Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson; “A Economia do Século XXI”, de Herman Daly; “A Crise Silenciosa/A Tragédia do Desmatamento e da Erosão”, de Stewart Udall (1966); da Inglaterra “A Grande Ameaça”, de G. Rattray Taylor; da Alemanha “Crimes contra a Natureza”, de Hans Joaquin Netzer; e até um livro especialmente preparado para a Conferência de Estocolmo/72 “Uma Terra Somente/Preservação de um Pequeno Planeta”, de Bárbara Ward. E muitos outros livros, todos publicados no Brasil, em boas traduções. Depois, também de ótima qualidade, surgiram os brasileiros, primeiro “Recursos Naturais do Brasil/Conservacionismo”, do jovem Antônio Teixeira Guerra (1969); Samuel Murgel Branco com “Poluição/A Morte dos Nossos Rios” (1972), depois José Lutzenberger com “Fim do Futuro? Manifesto Ecológico Brasileiro” (1975), Vasconcelos Sobrinho, de Recife, com o melhor livro de propaganda que já foi editado “Catecismo da Ecologia”. Poderíamos alinhar mais uns 20 ou 30 livros brasileiros e traduzidos todos de alto nível. No Rio Grande do Sul, editamos 25 livros de ecologia, sendo três traduções. Destaca-se José Truda Palazzo Júnior com “Mamíferos Marinhos Brasileiros”, “Natureza no Jardim” e “Flora Ornamental Brasileira”, além do histórico Henrique Luis Roessler “Crônicas Escolhidas de um Naturalista.” (CARNEIRO, 2001)

No Brasil, em 1968 o jornalista Randau Marques trabalhava no Jornal Comércio de Franca, no interior de São Paulo e denunciou os alarmantes índices de mortalidade entre os sapateiros e gráficos vítimas de saturnismo, a contaminação por chumbo. “Eu comecei a trabalhar ainda garoto na gráfica do jornal e nós tínhamos que tomar litros de leite para evitar a intoxicação, o que na realidade não acontecia” (2), relembra o jornalista.
Randau pediu auxílio ao geneticista Reinaldo Aizolbel, com quem mais tarde faria dupla frente às denúncias sobre a gravíssima poluição industrial que transformaria Cubatão no Vale da Morte, onde era comum o nascimento de crianças prematuras, muitas delas com mutações genéticas (sem cérebro, por exemplo). O alerta correu o mundo, juntamente com mais algumas reportagens sobre contaminação de pessoas e rios por agrotóxicos. Randau foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, o que lhe rendeu indiciamento em três processos, os rituais de tortura do DOI-CODI e seis meses de prisão.

No ano de 1972, em Estocolmo, na Suécia, a ONU realiza o primeiro grande encontro internacional onde a ecologia é tema principal. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano propicia a inclusão definitiva da questão ecológica na agenda internacional, mesmo que à época os problemas ambientais identificados fossem de caráter predominantemente tópico e localizado. (BRASIL, 2001 a, p.29)

Infelizmente o processo de conscientização e união das pessoas é lento. E poucos foram os reflexos de Estocolmo a propiciarem novas políticas ambientais frente ao modelo (ainda) praticado na maior parte do mundo que tem a natureza como algo a ser dominado, apropriado, explorado, transformado, comercializado, consumido e finalmente descartado. Isto é, a ultrapassada, mas exercida teoria de que a natureza é uma fonte inesgotável.

Em 1970 e 1971, respectivamente, são lançadas duas publicações importantes no segmento. A primeira tratava-se do manual “Um lugar para Viver”, destinado a professores e alunos, enfocando a busca da qualidade de vida. “Ecologia Básica” de Eugene P. Odum, passou a estimular o pensamento do movimento ambientalista mundial, sobremaneira. (BRASIL, 2001a, p. 29)

Breve, um neologismo definiria a formação de um novo olhar sob o Planeta:
“Em 1973, o filósofo e ecologista norueguês Arne Naess criou a expressão “ecologia profunda” (deep ecology), que vai além da proteção ambiental, em oposição ao entendimento da ecologia apenas como ciência de senso estrito, que gerou o ambientalismo restrito, desenvolvido dentro de uma visão antropocêntrica. A ecologia profunda é caracterizada como um sistema de valores centrado em todos os seres vivos da terra e não só no homem. Na ecologia profunda a natureza possui valor em si mesma, independente de sua utilidade econômica para o homem. Ela reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivo, inclusive o homem, onde todos estão integrados em um universo.” (BRASIL, 2001a, p. 32)

No ano de l974, a revista londrina The Ecologist levantava as possibilidades de mudanças radicais no clima do Planeta. Em 1977, a realização da I Conferência Intergovernamental sobre Educação para o Ambiente, em Tibilisi/Geórgia (ex URSS) veio reforçar a necessidade dos povos de todo o Planeta tomarem iniciativas concretas com relação a uma nova postura ambiental (BRASIL, 2001b). No ano seguinte, mais exatamente no dia 27 de Janeiro, a UNESCO proclamaria em Bruxelas a famosa Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que entre outros, no seu artigo segundo, alínea C, diz: “Cada animal tem o direito à consideração, à cura e à proteção do homem.” (LEVAI, 1988, p.21)

O filósofo Peter Singer lançou a edição original de Libertação Animal nos Estados Unidos em 1975, propiciando aquilo que seria considerado como:

“… início a uma revolução de idéias, atitudes, ações e movimentos em prol da consideração moral do bem-estar de animais não-humanos, fazendo uma enorme diferença: ajudou a diminuir o sofrimento e mudar o destino de milhares de criaturas. Libertação Animal desenvolve um argumento mostrando que a crueldade com os animais e a dor que lhes infligimos não podem ser eticamente justificadas, o que se constitui numa boa razão para tentarmos reverter as práticas que as perpetuam”. (VIA ÓPTIMA, 2004)

Neste período os meios de comunicação brasileiros ainda não tinham visualizado muito bem o gancho que significa ecologia e o assunto não ia muito além das datas comemorativas, ou diante de grandes tragédias. Mas, enquanto esta apatia pairava no ar, já respirávamos cada vez mais gás carbônico, um dos grandes destruidores da camada de ozônio. A mesma camada de ozônio que vinha sendo discutida pelos pesquisadores desde 1971 e que só entraria na pauta da mídia internacional no outono de 85, quando os cientistas constataram a imensidão do buraco na camada que nos protege dos raios ultravioletas. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Rio ou Eco 92, empurrou as questões ambientais para a agenda das redações.

Em entrevista concedida NOVAES (3) frisa a importância de se fazer uma reflexão do que significou a Rio 92, para compreender as circunstâncias da mídia e da questão ambiental contemporânea. Naquele ano havia muita esperança, se reuniram jornalistas do mundo inteiro, jogaram os holofotes sobre essas questões dramáticas todas, foi feito um diagnóstico dos grandes problemas: mudanças climáticas, perda da biodiversidade, pobreza e meio ambiente.

Conforme o jornalista, foram assinadas duas grandes convenções: sobre as mudanças climáticas e proteção da biodiversidade. Mais a agenda 21, que pretendia ser não só um diagnóstico dos grandes problemas a enfrentar na relação pobreza /meio ambiente, mas também uma forma de destinação de recursos. Na agenda 21, os países industrializados assumiram o compromisso de aumentar a ajuda aos países mais pobres, de 0,36% do seu PIB – Produto Interno Bruto, que significava 57 bilhões de dólares anuais, para 0,70%, que significava 120 bilhões de dólares anuais. E se calculava que os países em desenvolvimento, os países pobres, entrassem com recursos próprios no valor de 480 bilhões de dólares anuais para resolver os problemas de saneamento, abastecimento de água, educação, saúde, etc. Passados dez anos, o que temos de fato é o seguinte: a ajuda externa dos países industrializados recuou de 0,36% para 0,22%. Para NOVAES (2002):

“As chamadas questões ambientais são extremamente ameaçadoras para todo mundo. São ameaçadoras para os governos porque, se eles levarem isso a sério, têm de mudar toda a forma de fazer política e fazer administração pública. É ameaçadora para as empresas, pois, se levarem isso a sério, tem de incorporar custos. É ameaçadora para a comunicação, porque a comunicação vive hoje um momento dramático, ao oito grandes grupos disputando o controle da comunicação no mundo, em cada país há também uma disputa brava pelo mercado, e, num momento em que se convencionou que o que funciona, o que dá certo na comunicação é o chamado modelo `holywoodiano´da comunicação como espetáculo, como crise, como drama, imagens espetaculares.”

NOVAES (idem) também acredita ser ameaçadora para os próprios jornalistas também. Se os jornalistas levarem isso a sério, têm de mudar sua visão de mundo. E sua forma de fazer comunicação. E resume: “É ameaçadora também para o cidadão. Para qualquer pessoa. Se você pensar no que acontece com o lixo que produz em casa, ou com os gases que saem do seu carro, ou do seu ônibus, o que acontece com o esgoto que vai para a rede e todas essas coisas, você vai ficar aflito”.

VIÁ, apud CALDAS (1993), salienta que “Apesar da ênfase dada ao ambientalismo na mídia, a questão ainda é incipiente para a grande maioria dos profissionais de comunicação e mais ainda para o grande público. O meio ambiente já foi apontado como uma das principais mega-tendências para essa década e a virada do século. O tema passará a integrar cada vez mais o cotidiano da humanidade e os formadores de opinião, que atuando como agentes de informação e até de educação devem tomar consciência da grande responsabilidade sobre seus ombros”.

Notas

1) Depoimento extraído da Revista Parabólicas, n.22, p.5,1996.
2) Entrevista publicada no jornal Folha de Londrina, em 10 nov. 1991.
3) Matéria publicada na revista Caros Amigos, p. 36-40, Ano VI nº 66, set. 2002
Bibliografia
BOFF, Leonardo; PORTO, Nelson. São Francisco de Assis, homem do paraíso. Petrópolis: Vozes, 1986, p.67.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental. Educação Ambiental:curso básico à distância: questões ambientais: conceitos, história, problemas e alternativas. Brasília, 2001a.
___________________________________: documentos e legislação da educação ambiental. Brasília, 2001b.
CALDAS, Graça. Jornalistas e Cientistas: uma relação de parceria. Disponível em: Acesso em 20 junho de 2004.
CARNEIRO, Augusto César. Disponível em: Acesso em 21 jul. 2001.
GONÇALVES, Carlos Porto. Os (des)caminhos do meio ambiente. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1990. p.11.
GREENPEACE. Disponível em: http://www.greenpeace.org.br/quemsomos/quem.php Acesso em 02 mar. 2002
KUJAWSKI, Gilberto de Mello. A crise contemporânea e a ecologia. Intercâmbio, Rio de Janeiro, v. 1, n.1, p. 14-18, 1988.
LAGO, Antonio; PÁDUA, José Augusto. O que é ecologia. São Paulo: Brasiliense, 1988
LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos Animais : o direito deles e o nosso direito sobre eles. Campos do Jordão, SP: Mantiqueira, 1988, p.15.
LONDRINA, Folha. Londrina, 10 nov. 1991
LOPES, Victor Silva. Iniciação ao jornalismo audiovisual : imagem impressa, rádio, televisão e cinema. 4. ed., Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1985. p.21.
NOVAES, Washington. Sinal Vermelho. Revista Caros Amigos, v. 6. n. 66, p.36-40, set. 2002. Entrevista.
ÓPTIMA, Via. Disponível em Acesso em 18 mar. 2004
PÁDUA, José Augusto. Revista Parabólicas, n.22, p.5,1996.
Aida Franco de Lima é jornalista – Especialista em Educação Patrimonial – Guia Especializada em Atrativos Turísticos Naturais. aidafranco@pop.com.br

(ED) Publicado originalmente em Revista Digital Comunicação, Agrobusiness & Meio Ambiente, volume 2, número 2
http://www.agricoma.com.br/rev2artigoAidaFrancodeLima.htm