EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Qual o modelo de gestão que queremos para Curitiba no Século 21? artigo de Eloy F. Casagrande Jr

 

opiniao

 

[EcoDebate] O jornal a Gazeta do Povo, do Paraná, tem publicado entrevistas dos pré-candidatos a prefeito de Curitiba para as eleições municipais de 2016, que demonstram uma clara falta de propostas inovadoras e sustentáveis para a gestão da cidade que já foi modelo para o Brasil. O tom quase sempre é o mesmo das velhas disputas políticas onde se ataca a atual administração e se propõe velhas fórmulas já desgastadas e tentadas anteriormente. Muitas delas quando Curitiba tinha uma outra realidade, e não a metrópole que é hoje com quase 2 milhões de habitantes. A conurbação da região metropolitana da capital, elevando a população para cerca de 3,5 milhões, é hoje nosso principal desafio e isto somente pode ser encarado com visões mais modernas de urbanismo. Não se trata de discutir se teremos metrô ou não, se devemos reforçar a segurança com a política de tolerância zero, de como deve-se tirar os mendigos da rua ou acabar com o cartel do transporte público. Mas sim, de qual seria um novo modelo de gestão mais participativa e inovadora para uma cidade que não para de crescer e que tem uma diversidade socioeconômica que precisa ser atendida em todas suas necessidades.

Acaba-se de aprovar um novo Plano Diretor, que certamente teve incluso propostas diferenciadas, muitas delas com base nas demandas levantadas nas audiências públicas. No entanto, não se viu nenhum pré-candidato mencionar o que realmente a população deseja que se torne uma política de investimento. Se limitaram apenas a colocar suas posições individuais sobre os temas! Senhores candidatos, vocês sabem que a preocupação com a ciclomobilidade está entre as prioridades da população, representando 20% na respostas das pessoas, contra 5% em relação ao metrô? Sendo que este também vem atrás da reestruturação da linha férrea, com 12%? Alguém falou de modelos compartilhados como o UBER para reduzir o número de automóveis circulando na cidade, um dos nossos maiores problemas hoje? Algum pré-candidato apresentou alguma ideia de serviço social integrador por meio de trabalhos colaborativos e outras atividades para reintegrar pessoas sem teto, sem ser apenas recolhe-los, afastando-os dos incomodados? Também nenhum mencionou programas que já deram certo em outras cidades para aumentar a segurança, como o a Vizinhança Vigiada – vizinhos cuidando uns aos outros, onde com poucos recursos se foi possível reduzir a criminalidade, ajudando a criar um senso de comunidade. Quando se fala de urbanismo, não há discussões inteligentes, o centro da cidade está se verticalizando cada vez mais, criando “cânions urbanos” que alteram a incidência solar, a dispersão de poluentes e cria micro-climas, e, consequentemente, alterações na qualidade de vidas das pessoas que trabalham ou vivem nestes locais. Quando isto entrará na pauta de discussão dos nossos pré-candidatos? Quais são suas propostas para o ordenamento do solo urbano para que isto não fiquem apenas nas mãos da exploração imobiliária? É preciso incentivar bairros sustentáveis certificados e suas inúmeras possibilidades de mudar o perfil da cidade. Urge discutir edificações e cidades mais resilientes as mudanças climáticas, a ONU até já lançou manual sobre isto!

Quando falta dinheiro, tem de sobrar criatividade! Infelizmente não é o que se vê na maioria dos políticos de plantão da velha escola que concorrem a prefeitura de Curitiba. A cidade precisa de iniciativas econômicas inovadoras. Como devemos implantar a tal economia criativa que tanto se fala hoje? Qual é o programa de governo que as torne viável e não um apanhado de iniciativas? Como as empresas startups podem colaborar para isto, não sendo somente empresas de desenvolvimento de games? Como implantar um desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo, gerando empregos e renda locais, de baixa emissão de carbono? As propostas caem num vazio, não se apresentam metodologias práticas, com resultados mensuráveis.

Vamos ver o exemplo da produção de resíduos sólidos em Curitiba, que não foi abordado nas entrevistas, apesar de gerarmos hoje cerca de 2.600 toneladas de resíduos por dia! A campanha do Dr. Sigmundo para a redução do lixo da atual gestão e as Estações da Sustentabilidade usando contêineres, foram um avanço, mas tímido. Não temos uma solução para o resíduo orgânico, que representa cerca de 40% do total recolhido pela empresa contratada, o que significa que caminhões transportam na verdade água e o contribuinte paga caro por isso! Compostagem, minhocultura, programas para hortas urbanas poderiam reduzir isto, passou-se três anos sem nada ter sido feito! Gestões anteriores tão pouco abordaram este problema. As parcerias com instituições de ensino e pesquisa, que poderiam encaminhar propostas factíveis não são estabelecidas, há impasses constantes com secretários municipais que sentam em seus cargos políticos e onde nada avança. Temos bons programas de pós-graduação nas quatro maiores universidades da capital e que pensam a cidade e produzem soluções, mas estas não são aproveitadas. Tens uns que até defendem que professores devem ser recebidos com bala de borracha ao invés de dialogar! Falta coragem, falta ousadia, falta pensar fora da caixa, faltam propostas de governabilidade modernas! Curitiba ainda não tem propostas para o Século 21 e precisa de candidatos com visão de futuro!

Prof. Dr. Eloy F. Casagrande Jr. (Professor e Coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná-UTFPR)

in EcoDebate, 11/02/2016

[cite]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.