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Educação: Molde e ferramenta, artigo de Daniel Clemente

 

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[EcoDebate] O Ministério da Educação e Cultura do Brasil (MEC) glorifica-se como a instituição que mais adquire livros no mundo, distribuindo-os gratuitamente, proporcionando e impulsionando o surgimento de “best sellers” a cada ano. A nobre atitude esbarra na pobre escolaridade, livros são entregues aos iletrados escolarizados e analfabetos funcionais como sobrepeso a ser transportado diariamente às escolas, o conteúdo escrito não corresponde com a realidade do leitor, os alunos entendem a escola como estágio probatório de uma vida regida pelo desconforto e tristeza, “dado que uma sociedade não é feliz quando a maioria sofre, segundo Karl Marx, é necessário concluir que a infelicidade da sociedade é a meta da economia politica”.

O atual ministro da educação Aloísio Mercadante, político burocrático que fez da concessão pública sua profissão e do voto parlamentar um balcão de negócios, circula por Brasília como um vampiro atrás de um pescoço. Após quatro mandatos presidenciais consecutivos conquistados por seu partido, Mercadante fez uma análise sobre o triunfo politico na área educacional: “Se médico tivesse a formação de professor, pacientes morreriam”. Esse diagnóstico terminal ecoou na região do planalto central. A secretária da educação do Estado de Goiás Raquel Teixeira apresentou a nova diretriz de sua gestão como se fosse um milagre digno de canonização. O Estado concederá as chamadas Organizações Sociais Privadas, as “OSP”, toda a administração escolar, desde compra de materiais, manutenção predial, contratação de professores e avaliação da qualidade de ensino. Todo o recurso financeiro será estatal, ou seja, trata-se de uma privatização com roupagem socializada. Lógico, toda mudança necessita de um argumento que a sustente, e esse não tardou: “Os empresários estudam economia e administração de empresas, entendem mais de administração do que nós educadores”.

No final do século XVIII o Estado Prussiano organizou redes escolares para doutrinar a população a obediência militar. Napoleão Bonaparte no inicio do século seguinte seguiu a mesma tendência implementando a concepção de vida burguesa à sociedade revolucionária francesa. Nos dois casos a educação em massa transformava o indivíduo em um molde a serviço do poder institucionalizado. E qual será o objetivo de grupos empresariais na contemporaneidade em administrar redes escolares?

Pintor, escultor, poeta e arquiteto, Michelangelo figurou entre os principais nomes da cultura renascentista europeia entre os séculos XV e XVI, dando as características da arte ocidental. Indagado sobre sua capacidade de esculpir figuras humanas com a mais absoluta perfeição, o artista respondeu: “a escultura já está na pedra, basta tirar os excessos”. Com esse posicionamento Michelangelo forneceu as bases de uma educação que privilegia o estado e capacidade natural dos indivíduos sem molde ou rotulação. As escolas devem fornecer aos alunos as ferramentas necessárias para que cada um possa “tirar os seus excessos” e “esculpir a própria vida”, fazendo dessa a mais bela arte, possibilitando emergir todas as qualidades inatas, inerentes, vislumbrando o desabrochar de suas potencialidades.

A cada molde educacional proposto remete a um interesse, como se fosse um fundo de investimentos. A educação funcional é aquela que apresenta resultados financeiros em prazo determinado. A educação libertadora faz das qualidades individuais o resultado imediato, a liberação das virtudes de cada individuo, proporcionando potencialidades para sua aplicação na sociedade.

Daniel Clemente
Professor de História e Sociologia
Colégio Adventista de Santos
Pós Graduando em História, Sociedade e Cultura PUC-SP

 

in EcoDebate, 07/01/2016

[cite]

 

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2 thoughts on “Educação: Molde e ferramenta, artigo de Daniel Clemente

  • Belíssimo artigo! É, pois, necessário perceber as contradições perceptíveis nas frases em negrito: de Karl Marx: “dado que uma sociedade não é feliz quando a maioria sofre é necessário concluir que a infelicidade da sociedade é a meta da economia política”, nada mais a inferir, nessa assertiva, senão que Marx era um ideólogo ingênuo, pretensioso e sonhador, eis que jamais suporia que a cobiça imposta suplantaria os interesses coletivos, sendo balela esse tal de “socialismo” que quer obrigar a “igualdade” via de decretos;
    de Aloísio Mercadante: “Se médico tivesse a formação de professor, pacientes morreriam”, eis que apoiou e alardeou com ênfase a marota ideia do “Programa Mais Médicos”, comandado pelos “reis do bolivarianismo”, a pretexto de mandarem dinheiro para Cuba;
    de Raquel Teixeira, para não dizer “Raquel das Couves”, Secretária de Educação do Estado de Goiás, “Os empresários estudam economia e administração de empresas, entendem mais de administração do que nós educadores”, demonstrando absoluta ignorância quanto ao aperfeiçoamento profissional que qualifica pessoas como “Empresário”, eles que podem ser, se assim e como quiserem, Engenheiros, Odontólogos, Médicos, Economistas, PROFESSORES/EDUCADORES, Psicólogos, etc., etc., etc.! Ora, esses elementos políticos que mal nos representam, com honrosas exceções, se imbecilizam ao longo dos tempos, uns, menos que os outros, se apodrecendo em vez de, antes, alcançarem conhecimento e experiência ao longo do processo de amadurecimento político administrativo na regência dos destinos da Nação Brasileira. LAMENTÁVEL, mas não percamos, jamais a esperança em dias melhores!!!

  • De tudo que acima foi dito – o artigo e o comentário de Emengarda – é possível concluir que estão procurando chifres em cabeça de cavalo.

    A Educação capitalista, pública ou privada, tem como objetivo primordial atender as demandas do mercado. É somente isso, e nada mais.

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