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Imposto sobre lucros e dividendos recebidos por donos e acionistas de empresas geraria R$ 43 bi ao ano, diz estudo

 

Senador Lindbergh Farias, entre os pesquisadores do Ipea Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair (D). Foto de Ana Volpe/Agência Senado

 

Uma receita de mais de R$ 43 bilhões ao ano. É esse o montante que o governo poderia arrecadar com a cobrança de imposto de 15% sobre lucros e dividendos recebidos por donos e acionistas de empresas. A estimativa é dos pesquisadores Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que participaram na noite de segunda-feira (14) de audiência pública promovida pela Subcomissão Permanente de Avaliação do Sistema Tributário Nacional.

Até 1995 havia tributação sobre dividendos no Brasil. A justificativa para a isenção, à época, foi evitar que o lucro já tributado na empresa, que paga Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, fosse novamente taxado quando se convertesse em renda pessoal, com a distribuição de dividendos. Com a isenção, segundo os pesquisadores, grande parte do que ganham os ricos não é tributada. Isso faz com que o topo da pirâmide social pague menos impostos que a classe média no país, proporcionalmente à renda.

– Pior do que pagar imposto é olhar para o andar de cima, para aquele que é mais rico que a gente, e ver que ele paga menos imposto. Isso é realmente algo de se indignar e é basicamente essa a constatação. Embora a gente pudesse suspeitar, foi algo surpreendente para a gente ao analisar os dados de Imposto de Renda no Brasil – afirmou Gobetti.

Os dados colhidos pelos pesquisadores mostram que os 71.440 brasileiros que ganham mais de R$ 1,3 milhão por ano declararam uma renda média de R$ 4,2 milhões e pagaram apenas 6,7% sobre toda a sua renda. Já as pessoas que ganham entre R$ 162,7 mil e R$ 325,4 mil pagaram em média 11,8%.

– O que chama atenção são as alíquotas efetivas de imposto pago por cada faixa de renda. À medida em que você vai subindo na faixa de renda, a renda do capital passa a ser dominante e como não incide imposto, isso faz com que as alíquotas para os muito ricos comece a cair – explicou Orair.

Projeto

O presidente da subcomissão, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), observou que, em todo o mundo, apenas Brasil e Estônia isentam totalmente os dividendos. Para ele, essa isenção gera distorções porque trabalhadores são submetidos à tabela do Imposto de Renda, mas empresários não pagam nada.

– Hoje, o que acontece é que um servidor público que ganha R$ 5 mil paga imposto de renda de 27,5%. Um grande empresário que recebe R$ 300 mil a título de distribuição de lucros e dividendos não paga nada.

Lindbergh é autor do Projeto de Lei do Senado (PLS) 588/2015, que prevê a cobrança de Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF) com alíquota de 15% sobre a distribuição de lucros e dividendos a pessoas físicas e jurídicas. A isenção seria mantida apenas para empresários cujas empresas estejam inscritas no Simples.

Ajuste fiscal

Para os pesquisadores, a criação de novas alíquotas de Imposto de Renda de até 45%, em discussão pelo governo, não corrigiria a distorção porque elas só incidiriam sobre os salários. Uma maior justiça tributária só viria se as novas faixas viessem associadas à taxação sobre os dividendos.

Durante o debate, os economistas também criticaram a possível volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Para Gobetti, esse tipo de contribuição é regressiva, porque, proporcionalmente à renda, os pobres pagam mais que os ricos.

Isso ocorre porque a renda dos que ganham menos é quase totalmente comprometida com bens de consumo, que tiveram incidência da contribuição em várias fases do processo de produção. Já os ricos têm boa parte da renda livre e pagam a CPMF apenas uma vez sobre essa parcela ao aplicar nos bancos.

Matéria da Agência Senado, in EcoDebate, 17/09/2015


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2 thoughts on “Imposto sobre lucros e dividendos recebidos por donos e acionistas de empresas geraria R$ 43 bi ao ano, diz estudo

  • A grande diferença entre os impostos progressivos e os fixos. Os progressivos (nos quais as pessoas mais ricas pagam uma proporção maior de impostos que as mais pobres) são melhores para a sociedade (principalmente por diminuirem desigualdades extremas).

    Mas os impostos fixos são muito mais simples para os governos aplicarem e fiscalizarem, e por isso têm menos sonegação. É como a diferença entre Fast-food e um belo almoço de domingo feito pela vó.

    Nosso governo bem que podia diminuir as idas ao Mac Donalds…

  • RICARDO LUIZ DA SILVA COSTA

    Esse governo que aí está no poder, é injusto e perverso, e quando digo governo, me refiro aos três poderes da república. Recentemente, terça-feira (15) o Congresso (Senado ratificando aprovação da Câmara) aprovou Medida Provisória do Executivo alterando a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das Instituições Financeiras (a CSLL) dos atuais 15% para 20%. Aí reside a perversidade, a injustiça e a contradição desse governo dito trabalhista (??$$$###). Por que, por exemplo, para o banqueiro dono do Bradesco, do Itaú Unibanco, da Caixa, do Banco do Brasil, etc. o imposto agora é de 20%, enquanto que, para os trabalhadores assalariados, o Imposto de Renda lhes subtrai 27,5%. Sendo que, os primeiros estão cada vez mais podres de rico, e os trabalhadores cada vez mais empobrecidos. Além disso, existe uma brutal diferença nessa lógica perversa contra os trabalhadores, pois SALÁRIO não é RENDA. O salário é fruto do trabalho, e a renda é fruto da especulação financeira. Queremos JUSTIÇA e PROPORCIONALIDADE TRIBUTÁRIA neste país.

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