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Artigo

Se 2014 não foi bom para a economia brasileira, não será diferente em 2015, artigo de Adrimauro Gemaque

 

[EcoDebate] O ano de 2015 está se aproximando e promete ser turbulento na economia, pois o ciclo da crise econômica do capital de 2008 ainda não se fechou. Esta fez com que os governos aprofundem seus projetos neoliberais, enquanto as ditaduras por todo o mundo arrocham os salários com política fiscal dura. Foi assim que iniciei este artigo que escrevi em 11 de dezembro de 2014.

No dia 25 de agosto, a Presidenta Dilma Rousseff fala a imprensa e diz que a economia vai continuar com dificuldades em 2016, que o Brasil atravessa uma situação econômica que “requer cuidados” e reconheceu que, apesar das ações do governo, a crise não será resolvida no curto prazo. “Eu espero uma situação melhor. Mas não tenho como garantir que a situação em 2016 vai ser maravilhosa, não vai ser, muito provavelmente não será. Agora também não será a dificuldade imensa que muitos pintam. Vamos continuar tendo dificuldades, até porque não sabemos a repercussão de tudo o que está acontecendo na economia internacional”, disse a presidenta.

Será que lá em novembro de 2014 o que analisava era uma ficção? Claro que não, todos os indicadores já nos levavam para esta realidade. Entretanto, como havíamos saído de uma campanha que reconduziu a um novo mandato ainda havia grandes expectativas para o início do ano de 2015. O ano começa então vimos que a candidata Dilma Rousseff, cometeu um verdadeiro estelionato eleitoral contra o povo brasileiro. Primeira medida aumentou a taxa de juros, energia elétrica, promoveu retirada de benefícios como; auxilio defeso e desemprego e por fim com apoio do Congresso Nacional promoveu ajuste fiscal fazendo uma quebradeira nos estados. Aqueles em que a dependência é maior dos repasses dos tributos federais estão aí a duras penas. Alguns parcelando inclusive os salários dos seus servidores.

Com a economia estagnada e crise nas finanças, governos estaduais reduziram investimentos em 2015. Nos quatro primeiros meses deste ano, estados ricos tiveram desempenho negativo comparando com mesmo período do ano passado: Minas Gerais -97,3%, Paraná -92,7%, Distrito Federal -92,7% e também o nosso Amapá em -71,4% (Folha de São Paulo, junho/2015).

Ainda faltam pouco mais de quatro meses para a virada do ano, porém, analistas economistas e investidores não veem a hora de se vestir de branco, pular sete ondinhas e deixar 2015 para trás. Com o ritmo fraco da economia – a projeção mais recente é de recuo de -1,76% no Produto Interno Bruto (PIB), a pior queda desde 1990 –, é consenso que este já é um ano “perdido”. A dúvida é justamente quando o país será capaz de superar a crise que enfrenta hoje e voltar a crescer de maneira sustentada. Isto podemos ver neste Gráfico: que mostra o desempenho do PIB nos últimos anos.

 

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Está sempre na ordem do dia do governo atual o tema distribuição de renda. Pura balela. São diversos os fatores que contribuem para a classificação do Brasil entre os países com os piores níveis de distribuição de renda do mundo. As desigualdades sociais no Brasil são muito grandes e, apesar de toda a falácia do governo do PT, avançamos pouco nesta área. Senão, vejamos dados divulgados pela ONU, mostram a concentração de renda em nosso país. Em 2008, para cada 1 dólar destinado aos 10% mais pobres, 51,3 dólares são destinados aos 10% mais ricos. O nível é comparável a países como Guatemala (US$ 48,20), Panamá (US$ 57,50) e El Salvador (US$ 57,50), o que mostra o quão privilegiadas são as elites em nosso país.

Quando analisamos o desempenho da renda per capita no Brasil por estados, percebemos que existe um hiato entre as unidades da federação. A unidade da federação que apresenta o menor valor segundo o IBGE, é o Maranhão (R$ 360,34), enquanto o maior valor fica com o Distrito Federal (R$ 1.715,11). Nada menos que a capital da república. Também as políticas públicas de combate à pobreza e à desigualdade não são suficientemente efetivas para a reversão das mazelas sociais. Menos de 10% da população adulta têm Ensino Superior no Brasil, frente à cerca de 25% nos países avançados (segundo dados do IBGE e OCDE). Outro dado refere-se ao seguro-desemprego que não contempla a massa de trabalhadores informais e tem duração e remuneração muito limitadas em nosso país e agora ficou pior. Outro fator que contribui com o hiato social é a falta de investimentos no setor de saúde pública, onde o Brasil se mantém distante dos níveis adequados a uma série de indicadores da Organização Mundial de Saúde. Assim, o acesso à saúde ou à educação é extremamente desigual: quanto mais rica a pessoa, maior a possibilidade de acesso a serviços de qualidade. A expansão da rede privada de saúde e de educação básica e fundamental foi acompanhada, na contramão do desenvolvimento histórico, de um sucateamento do serviço público nesses setores, ampliando consequentemente as desigualdades.

O que tem levado ao aprofundamento das desigualdades sociais é o desrespeito aos diretos humanos. O ajuste fiscal resultou em cortes de verbas públicas para áreas sociais como saúde, educação, transporte e moradia. Além de retirar ferozmente os direitos dos trabalhadores por meio das terceirizações, das medidas provisórias 664 e 664 que reduziram seguro-desemprego e por fim a Dívida Pública.

Os efeitos dessa dívida pública são como muitas bombas atômicas lançadas contra os mais pobres. Que em vez de matarem soldados, matam crianças, matam jovens, matam mulheres, matam homens e matam idosos, matam nossos sonhos, tiram a nossa soberania. Nessa guerra não se destroem pontes, estradas ou aprisionam inimigos, mas se destroem a dignidade humana, eliminam fábricas, escolas, hospitais, estradas, aeroportos, empregos, etc. Tire suas conclusões: veja o Gráfico com Orçamento do Governo da União, executado em 2014.

Orçamento Geral da União (Executado em 2014) – Total = R$ 2,168 trilhão

 

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Fonte: Auditoria Cidadã da Dívida

Diante destes cenários, a população assiste, inerte e impotente, a cada dia, mais denúncias de corrupção e escândalos. As apurações dos fatos são lentas e tendenciosas. Agora o governo federal pediu mais tempo para explicar sobre as pedaladas fiscais da presidente Dilma referente ao ano de 2014. Enquanto, os parlamentares em Brasília trocam seu papel de representantes do povo e fiscais do governo federal por moeda de troca em emendas, barganhando interesses pessoais e de seus partidos políticos.

O filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821), ferrenho defensor do regime monárquico e crítico fervoroso da Revolução Francesa, notabilizou seu nome na história ao lançar a expressão “cada povo tem o governo que merece”.

Referências:

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/08/analistas-projetam-quando-o-brasil-sera-capaz-de-superar-a-crise-economica-4820146.html

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/estados-reduzem-investimentos-em-46-devido-a-crise-economica/

http://www.auditoriacidada.org.br/numeros-da-divida/

Adrimauro Gemaque, é Articulista e Analista do IBGE, apresenta seus pontos vista em caráter pessoal. E-mail: adrimaurosg@gmail.com

 

in EcoDebate, 31/08/2015

[cite]


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2 thoughts on “Se 2014 não foi bom para a economia brasileira, não será diferente em 2015, artigo de Adrimauro Gemaque

  • De todos os benefícios retirados pela Presidente Dilma, não sabia da retirada do auxílio-defeso, e considero essa uma notícia gravíssima. Com a seca que estamos tendo no Sudeste e Centro-Oeste, água que normalmente iria continuar no meio-ambiente, mantendo a normalidade do meio aquático, está sendo usada para consumo humano (vulgo ” volume morto”). Com isso, as populações de peixes de rio estão sendo bastante afetadas, e seria correto estender o período de Piracema e a distribuição de auxílio-defeso aos pescadores, tanto para o meio ambiente, quanto para ajudar parte das populações que mais estão sofrendo com esse problema (não adianta sair para pescar quando não há peixe).

    O momento é de crise, não só econômica, mas hídrica, e o auxílio defeso deveria ser aumentado, não diminuído (ao menos, aumentado em número de meses). Saber que Dilma o diminuiu só me faz perder ainda mais a esperança.

  • O CRESCIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL.

    “A dúvida é justamente quando o país [Brasil] será capaz de superar a crise que enfrenta hoje e voltar a crescer de maneira sustentada.”[Trecho do 5º parágrafo do artigo ora comentado].

    Para os estudiosos, essa dúvida não existe, o que existe é a certeza de que o Brasil jamais “voltará a crescer” economicamente.

    E “de maneira sustentada” – desculpe-me o autor do artigo – ele nunca cresceu, porque começou a ser devastado a partir da invasão dos povos europeus, e jamais crescerá.

    O que acabo de dizer em relação ao Brasil é extensivo a todo o planeta Terra.

    Simplesmente, não existe possibilidade de um crescimento econômico contínuo e infinito, pois o planeta Terra tem dimensões estáveis, isto é, ele não se encontra em crescimento, e seus recursos naturais já foram quase totalmente explorados.
    Estudos indicam que as condições do planeta Terra, para manter a vida, já estão reduzidas a menos da metade do que foram antes do grande crescimento demográfica, iniciado na segunda metade do século XIX, com a Revolução Industrial.

    Podemos afirmar que estamos vivendo o início do processo que levará o Planeta Terra ao colapso total, o qual em muito pouco tempo – uma década ou duas – se instalará.

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