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Para professor da USP, integrante do CTNBio, liberação do eucalipto transgênico é um erro

 

transgênicos

 

A liberação comercial do eucalipto transgênico no Brasil é um erro, segundo avaliação de um dos integrantes da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Kageyama. A CTNBio decidiu ontem (9) pela comercialização do produto por 18 votos a favor e 3 contra, e Kageyama foi um dos votos vencidos.

O professor disse que existem, ainda, muitas dúvidas científicas sobre os impactos do plantio do eucalipto transgênico e do prejuízo para, principalmente, os pequenos produtores rurais. Além disso, segundo ele, os produtos a partir da planta poderão sofrer sanções no comércio nacional e internacional.

Com a decisão, de acordo com a FuturaGene Brasil Tecnologia Ltda, empresa de biotecnologia da Suzano Papel e Celulose, o Brasil torna-se o primeiro país a liberar a comercialização do eucalipto transgênico. Segundo a FuturaGene, o eucalipto modificado tem 20% mais produtividade e poderá ser usado para produção de madeira, papel, entre outros itens.

Kageyama explicou que o aumento da produtividade ocorre às custas da aceleração do processo de crescimento e amadurecimento de uma árvore de 7 anos para 5 anos. Esse período, segundo ele, é o que a planta absorve mais água. O consumo pode ser ainda maior com o eucalipto transgênico, o que pode causar danos ao meio ambiente.

Além disso, o pólen dos eucaliptos geneticamente modificados pode ser transportado por quilômetros por insetos e podem contaminar o mel orgânico de cerca de 500 mil pequenos produtores, que serão prejudicados na hora da certificação de seus produtos.

De acordo com dados divulgados pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), o Brasil é o maior produtor de mel orgânico, só no ano passado foram 16 mil toneladas de mel de eucalipto.

O problema da certificação poderá chegar também ao mercado externo. “É um tiro no pé plantar transgênicos quando as principais certificadoras internacionais são contra a certificação de florestas transgênicas”, disse Kageyama.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), o Brasil, em 2010, posicionou-se como o décimo produtor mundial de papel e, em 2012, produziu 10,3 milhões de toneladas. Nos últimos dez anos, o país aumentou sua produção em 27%, com crescimento médio de 2,7% ao ano.

Kageyama manifestou sua preocupação também com o precedente aberto com a decisão da CNTBio. De acordo com o professor pelo menos outros dois processos para a autorização da comercialização de eucalipto transgênico tramitam no CNTBio. A liberação para a FuturaGene pode criar precedentes, o que considera preocupante.

Para a FuturaGene, a liberação é um dos marcos mais significativos para a indústria florestal. “A aprovação marca também o início de uma nova fase para o manejo florestal sustentável, com o Brasil ocupando a posição de primeiro país a completar o ciclo de desenvolvimento desta tecnologia, que possibilitará produzir mais com menos recursos”, afirmou a empresa por meio de nota.

Por Mariana Tokarnia, da Agência Brasil*

 

Publicado no Portal EcoDebate, 10/04/2015


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2 thoughts on “Para professor da USP, integrante do CTNBio, liberação do eucalipto transgênico é um erro

  • O Prof. Kageyama argumenta que há dúvidas sobre os riscos do eucalipto GM. Mas há questões que ele levanta que não são da alçada da CTNBio: a questão da comercialização do mel, por exemplo, é assunto do Ministério da Agricultura.

    Para fomentar o debate vou comentar algumas das dúvidas que, no entender do professor, subsistem, mas que não existem mais no entender dos demais 18 membros da Comissão que votaram favoravelmente.

    a) Afirmação: O consumo de água pelo eucalipto GM pode ser ainda maior do que o do eucalipto convencional, o que pode causar danos ao meio ambiente. Considerações: o fato é que não há nenhuma evidência de que a diferença seja significativa, por todos os dados aportados à CTNBio ou por ela coletados. O lógico é que haja um aumento proporcional à taxa de crescimento, isto é, 20% maio, o que não agrava a crise hídrica, apenas necessita atenção no manejo. Exagerar estas questões não contribui em nada para o entendimento da questão.

    b) Afirmação: O pólen dos eucaliptos geneticamente modificados pode ser transportado por quilômetros por insetos e podem contaminar o mel orgânico. Considerações: Toda a bibliografia pertinente aponta para uma polinização a distâncias sempre inferiores a 600 m. Além disso, todos os apicultores sabem evitar que suas abelhas pastem em floradas indesejadas. E os agricultores orgânicos têm a OBRIGAÇÃO de posicionar suas colmeias a uma grande distância de qualquer plantio convencional, onde se usa agrotóxicos e fertilizantes químicos, independente de ser transgênico ou não. A ideia de uma polinização a longa distância é, assim, errônea, e a inevitabilidade de uma “contaminação” do mel, uma completa fantasia.

    c) Afirmação: De acordo com dados divulgados pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), o Brasil é o maior produtor de mel orgânico, só no ano passado foram 16 mil toneladas de mel de eucalipto. Considerações: O MST não é autoridade em dizer quanto mel orgânico é produzido no país: nem o SEBRAE, nem o MAPA, nem a ABEMEL sabem quanto se produz de orgânico em relação ao convencional, mas seguramente é bem pouco. Além disso, a frase diz que o Brasil é o maior produtor de mel orgânico: muito bem, maior que quem? O Prof. Kageyama mudou sua fonte de informação: antes ele citava o SEBRAE e a ABEMEL, mas depois que denunciamos que estas fontes não tinham as informações que ele repassa ao público, agora cita o MST…

    d) Afirmação: O problema da certificação poderá chegar também ao mercado externo. Considerações: Este não é um problema de riscos do OGM e, assim como a questão do mel, é puramente comercial. Mas aqui também o Prof. Kageyama se equivoca – A FSC está ansiosa por certificar o eucalipto transgênico (http://www.fsc-watch.org/archives/2009/07/23/Local_organisations_) porque brevemente uma boa parte do mundo estará usando estas plantas e a FSC vive do dinheiro dos produtores. Tão simples quanto isso.

    e) Afirmação: O precedente aberto com a decisão da CNTBio preocupa porque abriria as portas da CTNBio para novos eucaliptos. Considerações: Errado – as avaliações são feitas caso a caso. É claro que os aspectos inerentes à biologia da planta já terão sido amplamente discutidos, mas os aspectos específicos dos novos eventos terão de toda forma que ser avaliados.

    Tudo isso foi detalhadamente discutido na CTNBio e os aspectos relevantes à avaliação de risco levados em consideração nos pareceres dos quatro relatores. Como as preocupações eram infundadas, o voto contrário foi vencido com ampla margem de diferença (18X3).

  • Forte argumentação do Paulo Andrade!

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