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Artigo

Sustentabilidade e celebração da vida II, artigo de Roberto Naime

 

sustentabilidade

 

[EcoDebate] Não é fácil haver programação neuronial ou existencial de maneira individual ou treinamento sensibilizatório para que se considere a beleza intrínseca em cada situação de vida, aparentemente singela mas plena de significados. Esta é cada vez mais uma premissa exigida para que haja equilíbrio de vida no atual contexto. Acordar pela manhã, em condição de saúde plena e com disposição e ânimo para enfrentar todos os desafios do dia já é uma benção intangível, que nem se consegue imaginar valorar nem em termos financeiros, nem em termos existenciais. Todos os atos sensoriais são bençãos de plenitude ou de celebração de vida, ainda que a gente não tenha consciência imediata disto, como respirar, ouvir ou ver as cores e sentir os aromas.

Certamente, as relações do atual estágio civilizatório, alteram de maneira fundamental as relações de trabalho. Esta transformação dignifica uma descrição e interpretação da metamorfose que sacode o campo das relações de trabalho. O mundo instantâneo e virtual que caracteriza estas relações de felicidade efervescente numa gôndola ou numa tela de tablet ou celular, transformam radicalmente e definitivamente as relações de trabalho, e pode-se afirmar, que para um estágio mais evoluído e melhor.

Profissões simples e antigamente não tão valorizadas ganham nova dimensão e novas proporções dentro da sociedade como um todo. O trabalho à distância e a ampla utilização de tecnologia permite uma descentralização e um “espalhamento” dos indivíduos nos espaços físicos. Há uma valorização das atividades domésticas com a execução de pequenos serviços, que passam a ser revalorizados. Mesmo tarefas pequenas e temporárias, quando permitem a manutenção de uma qualidade de vida diferenciada, ganham novos contornos, numa apropriação que considera não apenas ganhos econômicos ou financeiros, mas também vantagens dentro do campo existencial e da satisfação de vida.

O perfil do mercado de trabalho se altera radicalmente numa velocidade surpreendente. Há uma regressão que valora em muito as atividades de cunho manual, além do domínio absoluto sobre as novas tecnologias vinculadas a informação. Conseguir contar com o trabalho de um pedreiro ou instalador elétrico tem se tornado um ato heroico e caro, bastante dispendioso para qualquer padrão que se considere. Da mesma forma, conseguir entrar na agenda deste tipo de profissional está mais complicado que a marcação de uma consulta médica ou odontológica. No fundo mesmo se trata da aplicação da velha lei da oferta e da procura. Talvez existam maiores disponibilidades na formação de médicos, dentistas, ou até engenheiros em relação a instaladores, pedreiros, azulejistas, padeiros e outros tipos de profissionais cuja formação não depende de carreiras universitárias ou assemelhadas. No fundo esta é outra celebração de vida na medida que valoriza atividades simples mas que se descobre como fundamentais para os atos cotidianos de vida.

Previsões desta natureza são bastante comuns na obra de Thierry Gaudin, um engenheiro francês da Universidade de Paris X, especialista em inovações e na criação de cenários prospectivos, nascido na França em 1.940. Ele prevê que o modelo ainda vigente de um emprego formal com 44 horas semanais está superado, bem como a concepção de um assalariado colocado sob a autoridade de um patrão. O financiamento de sistemas sociais de proteção atualmente muito vinculado ao trabalho formal, passará por enormes transformações, com autopoises que determinarão novos equilíbrios hegemonizando sustentabilidade sobre crescimento contínuo e privilegiando a passagem para sociedades cognitivas sobre a civilização industrial clássica.

Indicações argumentam que se vive o período crucial destas transformações nesta década. Isto pode ter a ver com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que indicam que 40% dos indivíduos que poderiam compor a força de trabalho ativa atualmente do Brasil, se encontrem voluntariamente fora do mercado de trabalho. Certamente 40% ou 60% não são índices certos ou errados e muito menos passíveis de enganos. Representam fenômenos novos que não estão sendo mensurados.

Estas novas realidades podem facilmente ser associadas a novos paradigmas de sustentabilidade e por isto se argumenta que o sistema representado pela civilização humana começa a girar de maneira relevante em torno da sustentabilidade e determinará uma nova autopoiese sistêmica conforme descrito e previsto por Niklas Luhmann, determinando a substituição da civilização industrial que acabou nesta sociedade de instantaneidades virtuais e felicidades efervescentes na roda de um consumo desvairado para gerar círculos de virtuosidade por uma sociedade civilizada girando ao redor de sustentabilidade.

As concentrações urbanas, responsáveis pelos maiores consumos de água ou energia serão paulatinamente substituídas por aglomerações menores, até mesmo rurais, autônomas e pluriativas, baseada em empregabilidade sustentada por habilidades manuais ou o uso maciço de aparatos tecnológicos, mas permitindo vida mais harmônica, existencialmente satisfatória e com continuidade na celebração de vida.

Obviamente isto vai gerar um planeta mais sustentável além de uma vida mais equilibrada e homeostaticamente plena aos sistemas ou biomas que reúnem e sistematizam indivíduos das dimensões fitológicas e faunística, em plena harmonia. Mais do que uma previsão, este cenário é inevitável para a própria viabilização da civilização humana em parâmetros exequíveis e harmoniosos.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

* Leiam, ainda, o artigo anterior desta série: Sustentabilidade e celebração da vida I

Publicado no Portal EcoDebate, 24/02/2015

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