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Artigo

Sobre o fim da humanidade e nossas escolhas, artigo de Eloy Casagrande Jr

 

Sobre o fim da humanidade e nossas escolhas

 

[EcoDebate] No livro “Fim de Jogo”, de Stephen Lebb, publicado em 2009, como muitos outros livros publicados ao longo dos séculos, ao combinar estatísticas de crescimento demográfico com falta de alimentos e energia para tudo, até mesmo para gerar a própria energia, o autor decreta o fim da humanidade. Até mesmo a possibilidade de se produzir eólica seria comprometida, uma vez que não haveria tanto mineral de ferro para ser transformado em aço para fabricar-se as milhares de turbinas necessárias. Destaca-se no livro também a hipótese de que se 1/3 da população mundial sair da pobreza daqui a 50 anos, cerca de 6,5 bilhões de pessoas, não haverá alimento e nem energia para todos.

Sobre outros estudos anteriores mais contundentes, pode-se citar a teoria Malthusiana, que no auge da Revolução Industrial, lançou suas previsões afirmando que crescimento demográfico iria ultrapassar a capacidade produtiva da terra gerando fome e miséria. O economista inglês Thomas Malthus dizia que era impossível manter o equilíbrio, uma vez que o crescimento populacional acontecia em progressão geométrica, enquanto que o crescimento da oferta de alimentos, em progressão aritmética. Os séculos se passaram, as tecnologias de plantio evoluíram, assim como a biotecnologia. Rapidamente aprendemos a conservar, processar e congelar alimentos e a cada ano fomos aumentando o uso de agrotóxicos e de transgênicos. Um modelo duramente criticado por ambientalistas, pois as monoculturas também causam o desmatamento, erosão, uso intensivo da água, perda de qualidade do solo e deterioração da nossa saúde.

Dois outros livros que também poderiam entrar nesta lista, seriam “Os Limites do Crescimento”, publicado em 1972 e um mais recente, “Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, de 2006. O primeiro foi um relatório de cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), liderados pela Dra. Donella Meadows e encomendado pelo Clube de Roma, tornando-se um best-seller publicado em 30 línguas e com mais de 30 milhões de cópias vendidas. Usando um sistema computacional para simular possíveis cenários de futuro ao combinarem uso de recursos naturais não renováveis, industrialização, poluição, produção de alimentos e crescimento populacional, o relatório apontava algumas medidas necessárias para a situação global não se agravar.

Passadas mais de quatro décadas providência alguma foi tomada para a construção de novas formas de gerar crescimento econômico, alinhadas com os requerimentos de um mundo sustentável e equitativo. As diferenças sociais não se resolveram, os pobres consomem somente o necessário para sobreviver, enquanto que a classe média e rica entrou num ritmo frenético do consumismo, principalmente de supérfluos. Seja o R$1,99 chinês, o smartphone ou o SUV 4×4 do ano, consumidos aqui, por exemplo, todos têm um custo social e ambiental alto, que vão do abuso de direitos humanos e de trabalhadores ao alto consumo de energia, consequentemente, aumento poluição e de emissões de gases do Efeito Estufa! Coloque nesta conta o consumo de água (em escassez em várias partes do mundo) que dobra a cada 20 anos, mais rapidamente do que o crescimento da população. Somente lembrando que numa sociedade carnívora, para se produzir 1 kg de carne bovina, necessita-se de 15 mil a 20 mil litros de água! O Brasil em 2013 bateu o recorde de exportação de carne, vendendo a 142 países, 1,5 milhão de toneladas!

Já o livro Colapso, do fisiologista Jared Diamond, também autor do livro “Guns, Germs and Steel” (Armas, Germes e Aço), que ganhou o Prêmio Pulitzer, nos Estados Unidos, analisa diversas antigas civilizações que acabaram desaparecendo da face da Terra. As causas, segundo o autor, variam e se inter-relacionam, mas têm forte pressão das variáveis hoje consideradas como ambientais. Ao analisar, por exemplo, os polinésios da Ilha da Páscoa, os vikings da Europa do Norte e a civilização Maia, da América Central, a conclusão é que a causa de seus desaparecimentos de deve a incapacidade de entenderem a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que levou a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável, o que Diamond chamou de eco-suicídio! O autor também mostra que pelas mesmas pressões passaram outras sociedades que, entretanto, souberam gerir melhor os seus recursos naturais e, não só sobreviveram, mas prosperaram.

A mensagem é clara em todos os livros: as escolhas são nossas! Não se trata de eliminar a pobreza apenas oportunizando o mesmo estilo de consumo hoje praticado por classes privilegiadas, mas sim refletir sobre os limites do capitalismo natural (leia-se aqui o conjunto de recursos naturais que sustentam a vida), que nos dá a base para nosso atual modelo o modelo capitalista, este que segrega e perpetua vícios econômicos falidos e ultrapassados. Talvez seja hora de nos debruçarmos com mais atenção sobre a teoria do decrescimento, descrita no livro do romeno Nicholas Georgescu-Roegen, “Decrescimento: Entropia – Ecologia – Economia”, lançado originalmente em francês, em 1979, e que defende a hipótese de que o crescimento econômico – entendido como aumento constante do Produto Interno Bruto (PIB) – não é sustentável pelo ecossistema global, isto é, um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito. Uma vida mais simples, racional e consciente é o que precisamos e o tempo está se esgotando!

Prof. Dr. Eloy Casagrande Jr, Coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

EcoDebate, 12/02/2014


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5 thoughts on “Sobre o fim da humanidade e nossas escolhas, artigo de Eloy Casagrande Jr

  • O dia em que a maioria dos meios de comunicação de massa for mais “sensatualista” e menos sensacionalista, acho que a coisa poderá realmente tomar um outro rumo. Todo mundo (sem exageros!) tem uma televisão ou acesso à internet, mas nem todos separam um tempo para conhecer artigos sérios ou participar de debates atuais. As redes sociais podem ajudar também a “educar” a sociedade do século XXI – muito afetada pelos “games” de violência e leituras rápidas – sem maiores responsabilidades. Parece que tudo é uma grande piada e não cabe usar o tempo para lutar por assuntos realmente relevantes que promovam a cooperação, a paz e a harmonia entre todos. Alguns sites que promovem o debate aberto – eticamente orientados – devem merecer a nossa maior consideração porque estão mostrando caminhos de participação inteligente e de reflexões necessárias frente à realidade atual em que vivemos.

  • É inexorável que o “humanóide” se extinguirá por si mesmo. A terra e seus elementos continuarão a interminável jornada de refazer toda a entropia e buscar, como sempre a homeostase, sempre que for ela rompida pelos “foras da ordem”

  • Valdeci Silva.

    Sigmund Freud, sem tecer comentários esclarecedores, simplesmente não acatou a teoria socialista desenvolvida à época de sua existência, e isso me causou decepção. Mas hoje, dezenas de anos passados, tenho me perguntado se Freud não teria concluído que, diante do instinto de sobrevivência, altamente poderoso e predominante, o ser humano se torna incapaz de fazer prevalecer a COOPERAÇÃO sobre a COMPETIÇÃO, em seu comportamento social.
    Se, de fato, ocorreu isto a Freud, e, se ele está correto em sua suposta conclusão, defender a abolição do capitalismo e a implantação do socialismo com pretensões de se chegar ao comunismo significa empenhar-se numa causa para a qual a espécie humana não dispõe de condições psicológicas para sua realização. Ou seja, é pura contradição.
    Gostaria de receber comentários de psicólogos e outros especialistas sobre essas questões. Email: val.val2705@hotmail.com

  • Hugo Schumacher

    É urgente que cada cidadão se mobilize e aja em busca da prática mais racional no que se refere ao uso dos recursos naturais (que são finitos e esgotáveis). É necessário também um controle da natalidade (neste século, não podemos ser coniventes com a realidade de algumas pessoas que vivem em condições tão desumasnas, sem acesso a nenhum dos recursos tecnológicos da atualidade ou, simplesmente, que vivem em condições piores que ratos e baratas de grandes centros urbanos. Controle da Natalidade, Saúde e Educação Universal e Gratuíta à todos pode ser um referencial de mudanças para a melhoria desta realidade.

  • Bruno Versiani

    E sobretudo … MENOS GENTE NO MUNDO !!!!

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