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COP19: Para cientista, negociadores de acordo climático ignoram alertas de especialistas

 

COP19: Conferência da ONU, em Varsóvia, se iniciou na segunda-feira e termina no dia 22
COP19: Conferência da ONU, em Varsóvia, se iniciou na segunda-feira e termina no dia 22. Foto: REUTERS/Agata Grzybowska/Agencja Gazeta

Por Lúcia Müzell, RFI

Diplomatas de todo o mundo estão em Varsóvia, na Polônia, para negociar as bases de um acordo global para evitar as mudanças climáticas. A RFI conversou com o cientista José Antonio Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), sobre a Conferência do Clima da ONU (COP-19).

Falando em meteorologia, nesta quarta a Organização Meteorológica Mundial alertou que 2013 pode ser um dos 10 anos mais quentes da história. O senhor constatou isso nas suas pesquisas no Brasil?
Não, porque na realidade ainda não terminamos de fazer as análises. Mas isso é importante porque, de uma forma global, nós temos tido, nos últimos 15 anos, essa “pausa no aquecimento global”, que todo mundo discute. É uma pequena diminuição da temperatura que pode durar alguns anos, mas depois o planeta vai continuar aquecendo. Essa constatação serve como uma prova de que o processo de aquecimento continua. E quando você, inclusive nas discussões em Varsóvia, vai ser quase impossível se chegar a somente àquela elevação de 2 graus na temperatura global, e não mais. Para isso, teria de haver muita mitigação, muita redução das emissões de gases de efeito estufa – e eu duvido que, nesta COP de Varsóvia, se chegue a algum compromisso escrito e formal.

Os embates entre desenvolvidos – principalmente os Estados Unidos – e emergentes – China – marcam estas conferências há anos. Caminha-se para um acordo mínimo, bastante distante do que seria necessário para conter as mudanças climáticas?
Ninguém quer ceder. É uma negociação política, na verdade. A ciência e os cientistas dão toda a assessoria científica aos representantes oficiais. Um político pode ter a melhor informação científica – e nós basicamente sugerimos a assinatura de um tratado para limitar as emissões de gases de efeito estufa. Mas o governador, o presidente, o rei e o primeiro-ministro têm outras prioridades. Além disso, desde o início da crise, em 2008, a agenda ambiental tem ocupado um segundo plano.

O senhor acha que, embora cada participante tenha a sua agenda nacional, existe pelo menos o consenso de que as mudanças climáticas existem e são reais, por parte dos governos?
Eu diria que sim. Pelo menos os diplomatas do Brasil estão convencidos do assunto. Tanto é assim que o Brasil tem trabalhado duro para reduzir as emissões através da diminuição do desmatamento. Ou seja, eles vão para as negociações sabendo do problema, mas muitas vezes eles têm de ir de acordo com o consenso geral – que neste momento é o de salvar a economia global.

O senhor acha que a ocorrência de um tufão devastador nas Filipinas, na véspera do início da conferência, pode ter algum impacto nas negociações?
Eu acho que todo mundo entende e se solidariza com este evento, mas todo o negociador precisa deixar um pouco de lado a parte sentimental das coisas. Escutar que houve 10 mil mortos entre homens, mulheres, crianças e idosos é realmente triste, mas muitas vezes os negociadores sabem não se deixar influenciar. Cientistas são muito afetados por isso, por ver mortos por coisas que a ONU já está advertindo que poderão se repetir muitas vezes no futuro. Pelo menos este fenômeno natural aconteceu para dar um golpe de realidade, para mostrar que essas coisas podem acontecer, e muito. Ainda que os negociadores escolham ignorar este fato, ele está na cabeça de todo mundo.

 

Matéria da RFI, reproduzida pelo EcoDebate, 16/11/2013


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