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Artigo

A população de Cuba em 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

A população de Cuba em 2100

 

[EcoDebate] Cuba é o país mais avançado das Américas na transição demográfica. Mais avançado do que o Brasil e os Estados Unidos. Cuba tem as menores taxas de fecundidade do continente e, consequentemente, vai apresentar o mais rápido processo de envelhecimento. Deve também apresentar, no século XXI, o maior decrescimento relativo da população da região.

A ilha de Cuba tinha uma população de 5,92 milhões de habitantes em 1950, passando para 11,1 milhões em 2000. Em 2007 o país chegou ao seu pico populacional com 11,269 mihões de habitantes (sendo 5,67 milhões de homens e 5,6 milhões de mulheres). Entre 2007 e 2010 houve uma pequena queda da população, de 11 mil pessoas, sendo que o número total de habitantes ficou em 11,258 milhões.

A ONU estima, para o ano de 2050, uma população cubana de 11,3 milhões na hipótese alta, de 9,9 milhões na hipótese média e de 8,6 milhões, na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 12,4 milhões de habitantes na hipótese alta, de 7 milhões, na média, e somente 3,7 milhões na hipótese baixa. Ou seja, Cuba já apresenta uma população em declínio desde 2007 e pode chegar ao final do século com uma população 3 vezes menor dod que a atual, caso as taxas de fecundidade não se recuperem.

A taxa de fecundidade em Cuba já era baixa na época de Fulgencio Batista, estando em 4,2 filhos por mulher no quinquênio 1950-55 e em 3,7 filhos nos cinco anos seguintes. Porém, após a Revolução Castrista, ocorrida em janeiro de 1959, a fecundidade voltou a subir, ficando em 4,7 filhos por mulher no quinquênio 1960-65 e 4,3 filhos no período seguinte. O aumento da fecundidade está associado, em parte, a um período de desorganização do sistema de saúde no país e, de outro lado, à euforia revolucionária que se seguiu à chegada dos guerilheiros da Sierra Maestra.

Porém, com a expansão das políticas de cidadania nas áreas de educação e saúde, as taxas de fecundidade voltaram a cair, ficando em 3,6 filhos em 1970-75 e 2,2 filhos em 1975-80. Na década de 1970, Cuba legalizou o aborto até as doze semanas de gravidez, tornando-se o único país hispânico em que o procedimento é legal sem restrições. O acesso universal e irrestrito aos serviços de saúde reprodutiva, em um quadro de menor demanda por filhos, fez a fecundidade cair para abaixo do nível de reposição no quinquênio 1980-85 (ficando em 1,9 filho por mulher) e chegou a 1,5 filho por mulher em 2005-10. Se a taxa continuar neste nível ou abaixo a população de cuba vai envelhecer rapidamente e diminuir em ritmo acelerado.

A idade médiana da população de Cuba estava em 38,4 anos em 2010 e deve chegar a 52 anos em 2050, maior do que as idades medianas do Brasil e dos Estados Unidos que estavam em 29 anos e 36,9 anos, respectivamente, em 2010 e devem chegar a 45 anos e 40 anos, respectivamente, em 2050.

O processo conjunto de queda da fecundidade e de envelhecimento da população em Cuba reduziu a percentagem de mulheres em idade reprodutiva e fez o número de nascimentos cair drasticamente. No quinquênio 1950-55 nasceram em média 197 mil bebês por ano. Este número atingiu o máximo de 267 mil bêbes logo após a Revolução Castrista. Porém, o número anual de nascimentos caiu para 118 mil crianças no quinquênio 2005-10 e deve cair para 80 mil crianças em 2045-50.

Paralelamente à transição da fecundidade houve redução da mortalidade infantil e aumento da esperança de vida. A mortalidade infantil era de 81 por mil no quinquênio 1950-55, caiu para apenas 5,1 por mil em 2005-10 e deve ficar em 4 por mil no quinquênio 2045-50. Nos mesmos períodos, a esperança de vida era de 59,1 anos, passou para 78,5 anos e deve chegar a 83,1 anos.

Cuba é um país atrasado do ponto de vista da estrutura produtiva, mas avançado em termos demográficos e sociais. A densidade demográfica está em 102 habitantes por km2. Em termos ambientais, a pegada ecológica per capita dos cubanos estava, em 2008, em 1,9 hectares globais (gha) para uma biocapacidade per capita de 0,71 gha. Portanto, o país, mesmo apresentando baixos níveis de produção e consumo, possui um déficit ambiental, pois os recursos naturais da ilha não são abundantes.

Por um lado, o decrescimento da população cubana vai facilitar a resolução dos problemas ambientais do país, mas por outro lado, o rápido processo de envelhecimento vai dificultar as políticas de erradicação da pobreza, pois a razão de dependência demográfica, aumentando a carga social das pessoas idosas. Cuba é um país que ainda tem problemas econômicos do Terceiro Mundo, mas já possui um estrutura demográfica de Primeiro Mundo. Muitos serão os desafios desta situação em um quadro de renovação do Partido que se mantém no poder há mais de 50 anos, que também já está envelhecido, precisando de uma renovação.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 19/10/2012

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