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Artigo

Uma terra usada para nada: o gramado, artigo de Efraim Rodrigues

 

[EcoDebate] No tempo em que a terra era a única forma de riqueza, somente os muito muito ricos podiam dar-se ao luxo de ostentar uma terra usada para nada: o gramado. Nascido na nobreza inglesa em tempos feudais e trazido para os Estados Unidos ainda em tempos coloniais, os gramados tiveram enorme expansão nos anos 50, junto com as casas suburbanas. Encontrei uma estimativa da NASA que os gramados cobrem uma área três vezes superior a qualquer cultura irrigada nos EUA. Parece não haver estimativas com área com grama no Brasil.

Felizmente nossos gramados são tratados com menos obsessão que os norte-americanos, nos quais a quantidade de irrigação, agrotóxicos, fertilizantes e combustíveis fósseis consome quantidade de energia comparável com a cultura do milho, mas qual milionário quereria ter um milharal na frente de sua mansão ?

Conforme se cria uma classe média urbana nas cidades de médio porte brasileiras, estamos nos mudando para os subúrbios tal qual fizeram nossos irmãos do norte há meio século. Se é para seguir os passos alheios, devemos ao menos escolhê-los. Thomas Jefferson, por exemplo, propunha no século 18 uma nação feita por pequenas propriedades rurais independentes e autônomos ?

Os tataranetos dos donos de engenho acham feio cuidar do roçado, mas bonito cuidar dos arredores da casa grande. Cortar a grama é coisa de rico, cuidar de horta é para pobre. No entanto, somente quem semeou, regou e colheu pode ter absoluta certeza que comeu um produto orgânico.

Plantar oferece a colheita e cuidar do gramado oferece ostentação. A escolha é sua.

E esta escolha parece ter pouco a ver com estudo. Donos de gramado com mais estudo consomem mais agrotóxico em seus gramados, assim como aqueles que ganham mais, ou são mais velhos. Todas estas pessoas, em tese, deveriam estar menos interessadas em ostentar e mais em alimentar-se bem.

Há uma enorme fronteira agrícola a ser explorada dentro das cidades. Ela pode melhorar a qualidade de nossos alimentos, reduzir os custos ambientais com transporte e aumentar o uso de resíduos como fertilizantes para estes cultivos urbanos.

Assim como em todas outras causas e coisas ambientais, o exemplo é mais importante que a conversa. (E por falar em exemplo, a fazenda Monticello, de Thomas Jefferson, possui enorme área de gramado ao redor da sede). No mês passado iniciei a destruição de 2800m2 de gramado, para ver na prática quanta comida uma área pequena como esta pode produzir para uma família. Vocês lerão ainda muitas colunas sobre a “Fazenda Petrópolis”.

Veja algumas referencias sobre isto em meu blog http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), colunista do EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. Publica o blogue Ambiente por Inteiro.

EcoDebate, 22/11/2011

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2 thoughts on “Uma terra usada para nada: o gramado, artigo de Efraim Rodrigues

  • Excelente artigo. Estou compartilhando com o grupo Hortelões Urbanos, do Facebook. E gostaria do contato do autor, para saber mais sobre seus projetos de cultivo.

  • ótima ideia e quero mesmo ver os resultados que obtiver.

    Nas cidades paulistanas, os gramados são privilégios de poucos ainda e a comparação entre duas imagens de satélite de bairros distintos de SP podem mostrar isso.

    Alem disso, para quem vocifera aos 4 cantos a ideia do “cada um faça sua parte”, começemos então pelos ricos, que tem quintal, gramado e circulam pelos parques da cidade, como o Ibirapuera, reduto burguês da cidade, cheinhooo de gramado pra plantar..

    Ahhh…temos ainda o jardim do Museu do Ipiranga, que só mostra a opressão que sofremos com a estética europeia aqui nos trópicos.

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