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Florestas, biodiversidade global e perigo planetário, artigo de Sérgio Murilo Santos de Araújo

 

As florestas são importantes ecossistemas mundiais e de grande diversidade em espécies e aspectos fisionômicos. Elas representam a possibilidade de recursos para o homem local e para toda sociedade humana, uma vez que são dotadas de animais e plantas que servem àqueles que utilizam de seus serviços de forma direta ou indiretamente. Sabemos que são as florestas tropicais possuidoras da maior biodiversidade dentre os demais ecossistemas terrestres.

A biodiversidade, ou diversidade biológica, é um conceito que está relacionado à quantidade de seres vivos que habitam ou vivem em um espaço da superfície terrestre. Geralmente o termo biodiversidade refere-se à quantidade, pois o simples fato de um ambiente ou espaço conter seres vivos não o faz ter grande biodiversidade, pois ela pode ser baixa; dizemos que um ambiente pode ter baixa biodiversidade se apresenta poucas espécies, como o é o caso da floresta de coníferas, povoado por poucas espécies de árvores – embora tenha grande biomassa e seja extensa.

Quanto maior o número de espécies e de suas populações em um dado ambiente, maior é a biodiversidade deste espaço. Mas o que nos faz começar esse texto não é o conceito em si e sim a importância que ele tem na vida existente na Terra e na vida do próprio homem.

Chama-nos atenção atualmente a situação em que vivemos. Diversos problemas ambientais são veiculados pela mídia global, como mudanças climáticas, desmatamentos, queimadas, entre outros temas ambientais. Eles têm sido elencados também pelas políticas públicas como de fundamental importância para a manutenção da vida do nosso sistema político, econômico e ambiental. E da biodiversidade depende este sistema global.

O fato é que a biodiversidade global está sofrendo uma redução ou perda em ritmo muito acelerado. Segundo Sala et al (2000) os maiores responsáveis por essa mudança são a conversão de terras, as mudanças climáticas, a poluição, a exploração não-sustentável dos recursos naturais e a introdução de espécies exóticas.

As causas fundamentais da perda da biodiversidade estão ligadas ao crescimento da população humana, associada ao padrão de consumo, uma crescente produção de lixo e poluentes químicos, o desenvolvimento urbano, conflitos internacionais e a contínua desigualdade na distribuição de riquezas e recursos.

Nas últimas quatro décadas, a redução e a extinção de espécies tornaram-se questões ambientais de grande importância. A taxa de extinção atual é muitas vezes maior do que a taxa anterior, ou seja, aquela que prevaleceu por longos períodos geológicos. Estimativas baseadas nos fósseis já encontrados sugerem que a taxa de extinção anterior de mamíferos e pássaros era a de uma espécie perdida a cada 500 a 1.000 anos (MAY, LAWTON & STORK, 1995).

Estima-se que aproximadamente 1,6 milhões de espécies de animais e plantas tenham sido catalogadas em todo mundo. A estimativa dos especialistas é de que mais de 10 milhões de espécies possam habitar nosso planeta. No entanto, o que se torna mais relevante é o fato, já comprovado, de que a extinção atual de espécies é provocada pelo homem e vem proporcionando uma situação perigosa para a própria sobrevivência da humanidade.

Historicamente as florestas brasileiras, seja ela seca ou úmida, foram degradadas em função dos “ciclos econômicos”. Tais ciclos foram responsáveis por grandes modificações ambientais nos diversos biomas brasileiros, pela redução da área de cobertura, principalmente da Mata Atlântica e da Caatinga. Já o Cerrado teve sua exploração mais intensiva no século XX, principalmente a partir dos anos cinqüenta em diante, quando a ocupação daquele espaço foi intensificada por projetos do governo federal, e também porque nas décadas de 1970 e 1980 o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu o plantio de soja em larga escala (ARAÚJO, 2009).

Muitos ecossistemas sofreram e sofrem forte pressão em função do avanço das atividades agropecuárias. A expansão dessas atividades se dá com abertura de estradas, desmatamentos e queimadas para converter terras ocupadas por vegetação nativa em terras agricultáveis ou pastagens. Disso resultam a fragmentação e degradação de habitats de espécies de animais diversas. Um desses ecossistemas são as florestas e matas de altitude, que no nordeste brasileiro é denominada de brejos. Os brejos são matas úmidas e subúmidas, perenifólias, subperenifólias e estacionais, denominadas de matas serranas, de exposição ou de altitude geralmente acima dos 600 m e chegando a mais de 1000 m. Tais ecossistemas ocorrem como prolongamento da mata atlântica sobre a caatinga, nas regiões de Agreste e Sertão do Nordeste do Brasil.

A pressão sobre os ambientes dos brejos deve-se à sua ocupação sem planejamento racional e sua exploração agrícola. Isso porque esses ambientes apresentam condições ambientais mais favoráveis aos cultivos em qualquer época do ano, devido à umidade local, e aos solos mais profundos. Mesmo no período seco dos sertões e agrestes, os brejos são ainda propícios a cultivos menos exigentes em umidade, pois ela reduz no período seco, mas as taxas de evapotranspiração são menores que nos demais espaços da caatinga.

Os desmatamentos para a pecuária é uma atividade que no passado foi muito apoiada por políticas de povoamento e exploração das terras ocupadas, ainda no período colonial. Políticas governamentais mais recentes foram responsáveis pela inserção de modelos agrícolas oriundos de países que não apresentam as mesmas características ambientais dos brejos. E isso pode ser um dos problemas que mais contribuíram para a degradação dos solos nesses espaços, implantados de forma pouco harmônica com as características ambientais locais. Devemos salientar que a maior parte dos solos desses ambientes possui um relevo acidentado ou contém trechos com declividades que propiciam a erosão dos solos.

No caso específico dos brejos, as práticas de conservação dos solos são pouco utilizadas, uma vez que a agricultura é feita de forma tradicional e não levam em conta os aspectos ambientais e suas limitações. Ou seja, que leve em conta a potencialidade erosiva, a escolha dos locais mais aptos para realização das culturas e os tipos de cultivos apropriados às características dos tipos de solos locais.

Sabemos que grande parte das matas serranas – localizada nos brejos – sofreu um processo contínuo de supressão para dar lugar a agropecuária. É que aí o as condições ambientais mais propícias favoreceram a ocupação e as culturas tradicionalmente da zona da mata, como a cana de açúcar, a bananicultura, hortaliças e frutas, possibilitando a agroindústria de açúcar, rapadura, cachaça

Por fim, em 2011 – ano internacional das florestas – devemos salientar que a problemática de redução das florestas e de seus ecossistemas é ainda maior por conta do desaparecimento de espécies e dos serviços que esses ecossistemas podem fornecer à sociedade. Pois, não significa somente o quadro de desaparecimento ou restrição das áreas ocupadas pela sua flora e fauna, mas também o desaparecimento da qualidade ambiental que elas trazem aos homens e os benefícios de seus recursos, como madeiras, folhas, frutos, etc., que se forem utilizados de forma planejada e sustentável poderiam ser conservados para as atuais e futuras gerações.

Referências:
SALA, O. E. et al. Global biodiversity scenarios for the year 2100. Science, 287, p. 1770-74; 2000.
MAY, R. M., LAWTON, J. H. & STORK, N. E. Assessing extinction rates. In: J. H. Lawton and R. M. May (ed.), Extinction Rates. Oxford: Oxford University Press, 1995.
ARAÚJO, S. M. S. de. Biodiversidade e sociedade. Gazeta do Alto Piranhas, Cajazeiras-PB, folha A2 – opinião, v. 447, 06 jul. 2007.

Sérgio Murilo Santos de Araújo é professor adjunto da Unidade Acadêmica de História e Geografia, Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Artigo socializado pelo Jornal da Ciência/SBPC, JC e-mail 4357 e publicado pelo EcoDebate, 05/10/2011

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