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‘Consenso’ nuclear começa a enfrentar resistência na França

Ao fundo, a usina nuclear de Tricastin, na França
Ao fundo, a usina nuclear de Tricastin, na França

Com 58 centrais, a França é, proporcionalmente à população, o país com o maior número de usinas atômicas no mundo. Mas, mesmo numa nação habituada ao consenso nuclear, a resistência se levanta.

Como primeiro chefe de Estado estrangeiro a visitar o Japão após a catástrofe de 11 de março, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, exigiu nesta quinta-feira (31/03) em Tóquio padrões internacionais de segurança para as usinas nucleares.

Sarkozy sugeriu ainda a realização de uma conferência internacional sobre o tema, que deverá reunir as 20 principais economias do mundo (G20) em Paris, em maio próximo. Com 80% da energia produzida em seu país por usinas nucleares, Sarkozy tem bons motivos para tratar da questão.

Logo após a catástrofe nuclear em Fukushima, o presidente francês deixou claro que uma desistência da energia nuclear estaria fora de cogitação em seu país. Afinal, os reatores franceses seriam os mais seguros do mundo, assegurou Sarkozy. E o ministro francês da Indústria, Eric Besson, completou: os franceses terão que enfiar a mão mais fundo no bolso caso o país venha a produzir menos energia nuclear.

Pouco antes, os verdes franceses haviam proposto um referendo para decidir sobre a desistência nuclear – uma novidade na França, onde a Areva, maior empresa local de energia nuclear, com participação majoritária estatal, é quase intocável.

“Na França, tivemos a sorte de realizar a maior parte do programa nuclear numa época em que a opinião pública queria reagir à crise do petróleo”, disse Bertrand Barré, que foi diretor de comunicação científica na central parisiense da Areva e hoje é conselheiro da empresa.

Segundo o ex-diretor da Areva, entre 1974 e 2000 o programa nuclear francês teve o objetivo de produzir energia independentemente do petróleo. Havia um grande consenso em torno disso, afirmou. “E como a energia nuclear funcionava bem, como não existiam dramas, as pessoas se acostumaram.”

Nuvem radioativa para nas fronteiras francesas

Em 1986, na época do desastre em Tchernobil, as autoridades francesas tentaram convencer a população do país de que a nuvem radioativa proveniente da Ucrânia teria parado nas fronteiras francesas. Até que alguns cientistas da cidade de Valence desmascararam a mentira estatal.

Eles se reuniram em torno da sigla Criirad – Comissão de Pesquisa e Informação Independentes sobre a Radioatividade, na sigla em francês. O físico Roland Desbordes dirige esse centro de pesquisa e informação independente e único na França.

Segurando uma amostra de 40 gramas de terra, ele afirma que até hoje se pode comprovar a presença da radiação de Tchernobyl no país. “Isso aqui é césio 137”, diz Desbordes, apontando para a amostra, “com uma meia-vida de 30 anos, como detectamos em laboratório. Depois de 25 anos, sua atividade não diminuiu nem pela metade. Ainda contém cerca de 60% da radioatividade de 25 anos atrás”.

Cidadãos nunca foram consultados

Em Lyon, terceira maior cidade da França, está a central de Sortir du Nucléaire (sair do nuclear), uma rede que reúne quase 900 associações em todo o país. Todas dividem o mesmo objetivo: a desistência da energia nuclear. Elas exigem que os 16 reatores franceses mais antigos, ou seja, aqueles com mais de 30 anos de funcionamento, sejam desativados.

O vice-coordenador do grupo, Xavier Rabilloud, aponta para o mapa de um país abarrotado de usinas nucleares, em funcionamento ou desligadas, com depósitos de lixo nuclear, minas de urânio, instalações de processamento, reatores de pesquisa e instalações militares nucleares, bem como portos para submarinos nucleares ou o porta-aviões nuclear Charles De Gaulle.

Segundo Rabilloud, oficialmente a agência francesa de segurança nuclear ASN registra em média cem incidentes na região do Vale do Ródano a cada ano. Entre 800 e 900 casos como esses são registrados anualmente em toda a França, diz.

“É realmente verdade que o setor nuclear na França se encontra completamente fora da zona de influência democrática”, constata Rabilloud. “É preciso que se saiba que os cidadãos franceses jamais foram consultados sobre o programa nuclear, nem de forma direta tampouco através de seus deputados.”

Extensão de vida útil para 40 anos

O bloco 1 da central nuclear em Tricastin, no Ródano, teve sua vida útil prolongada para 40 anos em dezembro de 2010 – foi o primeiro caso do tipo na França. Atualmente, uma prorrogação da vida útil de todos os reatores franceses para 50 anos está em discussão entre a Areva e as autoridades de segurança nuclear.

E isso levando em conta que a França produz mais energia do que precisa, diz Rabilloud. A indústria nuclear, por outro lado, vê a situação de forma diferente: quando as usinas alemãs forem desativadas, os nossos vizinhos precisarão de mais energia – que será fornecida por nós. Ou seja, um negócio lucrativo.

Autor: Alexander Musik (ca) / Revisão: Alexandre Schossler

Reportagem da Agência Deutsche Welle, publicada pelo EcoDebate, 05/04/2011

Nota do EcoDebate: saibam mais sobre os acidentes nucleares na França e em especial sobre os acidentes na central nuclear de Tricastin acessando as matérias abaixo:

França: Central nuclear de Tricastin sofre novo acidente

Publicado em setembro 9, 2008 por HC

Um campo de girassóis em frente à central nuclear Areva em Tricastin, em Bollene, no sul da França. Foto: Fred Dufour / AFP / Getty Images A ASN, Autorité de Sûreté Nucléaire, informou ontem a ocorrência de um acidente, em 8 de setembro de 2008 às 10:30, durante a manipulação de combustível no reator de […]

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França: Vazamento de urânio numa unidade Comurhex, da Areva, em Pierrelatte

Publicado em agosto 27, 2008 por HC

Um pequeno vazamento de urânio, provocado por um defeito em um duto, foi detectado no dia 22/08, numa unidade da empresa Comurhex, filial do grupo nuclear Areva, em Pierrelatte, no Sudeste da França. Da Agência Lusa, com informações complementares de Henrique Cortez, do Ecodebate. O vazamento foi descoberto durante os trabalhos de modernização de uma […]

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Usina nuclear de Tricastin sofre vazamento de gás carbono 14 e é o sexto acidente nuclear na França em um mês

Publicado em agosto 7, 2008 por HC

Um campo de girassóis em frente à central nuclear Areva em Tricastin, em Bollene, no sul da França. Foto: Fred Dufour / AFP / Getty Images De acordo com a Autoridade de Segurança Nuclear (ASN), o incidente foi classificado com o grau 1, em uma escala com oito níveis para acidentes nucleares, mas, ainda assim, […]

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Acidentes nucleares lançam a França em um pesadelo de filme sci-fi

Publicado em julho 29, 2008 por HC

As empresas nucleares francesas, principalmente a Areva, esperavam desempenhar um papel central nos planos do governo de desenvolver e vender ao mundo uma nova geração de reatores, mas diversos acidentes ameaçam a credibilidade do setor. Um campo de girassóis em frente à central nuclear Areva em Tricastin, em Bollene, no sul da França. Foto: Fred […]

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Vazamentos nucleares preocupam França

Publicado em julho 25, 2008 por HC

Esse foi o segundo acidente em duas semanas no local O órgão de fiscalização francês independente Criirad disse estar preocupado com o número de vazamentos ocorridos em usinas nucleares do país nas últimas duas semanas. Da BBC Brasil, 24 de julho, 2008 – 12h52 GMT (09h52 Brasília).

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Novo acidente nuclear em Tricastin é o quarto na França em 15 dias

Publicado em julho 25, 2008 por HC

Gráfico dos acidentes nucleares ocorridos recentemente na França (Fonte: AFP) Valence, França, 23 Jul (Lusa) – O quarto incidente em 15 dias afectou o nuclear francês, com a contaminação ligeira, hoje de manhã, de cem funcionários da central nuclear EDF em Tricastin (sudeste) descrito como “sem gravidade” mas que “inquieta” a associação Criirad.

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Vídeo: Central nuclear de Tricastin-100 pessoas contaminadas por poeira nuclear na França

Publicado em julho 25, 2008 por HC

Segundo a usina de energia nuclear, os funcionários foram contaminados durante a manutenção de um dos reatores que estava fechado desde um acidente. Da BandNews, 24/07/2008, 0m39s. [EcoDebate, 25/07/2008]

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Novo vazamento radioativo em usina nuclear francesa

Publicado em julho 21, 2008 por HC

Um vazamento de água radioativa escapou de uma tubulação subterrânea, em uma central nuclear no sudoeste da França, de acordo com informações da autoridade de segurança nuclear nacional, na sexta-feira, 18/07. Este é o segundo vazamento em uma usina francesa em menos de um mês. Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com Agências.

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Todas as centrais nucleares francesas serão avaliadas após recente vazamento em Tricastin

Publicado em julho 19, 2008 por HC

Autoridades realizarão testes em todas as centrais nucleares francesas, a fim de garantir que vazamentos, como o recentemente ocorrido em Tricastin, no sul da França, não se repitam, disse o ministro do Ambiente, Jean-Louis Borloo. Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com Agências. A Areva, operadoras da usina de Tricastin, informou, no início deste mês, que […]

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Acidente nuclear em usina no sul da França

Publicado em julho 12, 2008 por HC

O acidente em uma central nuclear na França reascendeu polemica sobre a energia nuclear. Varias organizações acusaram as autoridades e a empresa responsável pela ocultação de informações e demora em divulgar os detalhes do acidente. Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com informações de Agências.

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